Pesquisa apura que apenas 2,4% dos adolescentes querem essa profissão
Poucos são os jovens interessados em lecionar e cursar pedagogia no Brasil. É mais comum, também, vermos mulheres recebendo seus diplomas como pedagogas. Nesse contexto, o estudante Samuel Luis Leidemer, de 19 anos, pode ser considerado uma exceção. O gosto pela área educacional cresceu ao longo do tempo e está virando realidade na vida do jovem.
A carreira de docente, porém, está cada vez menos cotada na vida dos brasileiros. Conforme dados do relatório Políticas Eficientes para Professores, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 2,4% dos alunos com 15 anos desejam a profissão. O percentual era de 7,5% há 10 anos.
Samuel está no segundo ano do curso de pedagogia e diz que se interessa pela alfabetização e questões cognitivas do aprendizado dos alunos. “Não tinha certeza se iria seguir nisso, mas com o estágio que faço na área vejo que é isso mesmo e ainda terei muito para aperfeiçoar”, afirma. O jovem refletiu sobre as questões salariais e tem consciência de que teria que lidar com essa questão.
A desvalorização dos professores também é destacada pelos 33 alunos de uma das turmas de primeiro ano da Escola Estadual Técnica São João Batista. Apenas quatro estudantes, com idade entre 15 e 16 anos, pretendem seguir a carreira de docentes. Os demais afirmam ter interesse por outras áreas, como direito, engenharia e a carreira militar. Além disso, não pretendem lecionar pelo baixo salário dos professores e devido ao desrespeito por parte dos alunos e do governo, segundo eles.
Quatro décadas de trabalho com alunos em sala de aula
Professora marataense, Margarida Endre é um exemplo de pessoa que teve vocação e vontade de ser alfabetizadora. Trabalhou por 40 anos em escola, iniciando sem ter o domínio e formação pra tal ofício, caminhando cinco quilômetros diários durante 27 anos. “Eu estava no segundo grau e o senhor Erci Pohren falou com meu pai para que eu assumisse uma vaga na escola Marcílio Dias, em Macega”, relembra.
Aposentada, Margarida não imaginava ser professora e enfrentou muita dificuldade até aprender o modo de dar aula. Em 1977 iniciou o curso de magistério em Estrela. “Comecei minhas atividades sem ter experiência e formação na área e, por isso, tive muita dificuldade. Recebi ajuda dos meus colegas, que na época trabalhavam na secretaria de educação de Montenegro”, afirma.
As turmas eram compostas por cerca de 28 alunos, de quatro turmas. “Fiquei um período sozinha, fazendo merenda e dando aula. Dividia o quadro no meio e os alunos que tinham mais facilidade e interesse me ajudavam a passar o conteúdo no quadro para as respectivas turmas”, conta.
Margarida somente sentiu-se valorizada quando conseguiu fazer o magistério. “O professor deveria trabalhar quatro horas e as outras quatro deveriam ser disponibilizadas para a preparação das aulas, montagem de conteúdo, e períodos de aperfeiçoamento. Mas somos obrigados a trabalhar de 40 a 60 horas para nos mantermos”, desabafa.
A aposentadoria definitiva ocorreu no início do ano, mas a escolha profissional seria a mesma novamente. “Sem dúvidas eu faria tudo mais uma vez e seria melhor, muito melhor como pessoa ao cuidar dos alunos”, finaliza.
Professor como agente transformador do aluno
A estudante Kely Thais dos Santos, 25 anos, está finalizando o curso de pedagogia na Universidade Luterana do Brasil, em Canoas. Para a jovem, a educação atinge as mais diversas áreas e isso trouxe um grande interesse pelo curso. “A universidade proporciona, através dos estágios, experiências não só com alunos, mas também com formação de professores e educação em ambientes não escolares”, afirma. Foram estas vivências que levaram Kely a conhecer a realidade da sala de aula e o contexto que envolve a comunidade escolar.
Conforme a futura pedagoga, não foi uma das primeiras opções a ser escolhida, mas ao ser contemplada com uma bolsa para Pedagogia e a importância da profissão tiveram um peso maior. A jovem vê o professor como um agente transformador, pois é através dele que o aluno se torna um cidadão de pensamento crítico, que encoraja toda uma comunidade a se unir.
Kely destaca que cursar uma universidade custa caro. “Mesmo sendo bolsista, o transporte, apostilas e os materiais para realização dos estágios são custeados pelos acadêmicos, sendo a situação financeira um fator relevante no que se trata em pensar em desistir”, aponta.