Numa época em que as pessoas parecem mais sensíveis e preocupadas com as necessidades e o bem-estar dos outros, as ações beneficentes se intensificam nesse período que antecede as festas de final de ano. É o que muitos chamam de espírito natalino, marcante em um período no qual a solidariedade se manifesta e a disposição de compartilhar, tanto presentes como afeto, parece mais fácil.
“É um período em que se vê muitas ações, em que as dificuldades tocam mais e fazem com que as pessoas tenham um olhar mais solidário”, observa o padre Diego Knecht, pároco da paróquia São João Batista. Ele salienta a maior disposição em promover ações de partilha, bem como de dar uma abraço, oportunizando um Natal diferente para todos.
Para o sacerdote, esse comportamento é motivado pelo sentido cristão dessa data, mesmo que as vezes ocorra de forma inconsciente. “O Natal celebra o nascimento, e as pessoas ficam mais sensíveis quando uma família terá uma criança, por isso há uma alegria”, observa. “E nesse período, por se tratar do nascimento de Jesus, as pessoas têm esse espírito (solidário)”, observa. Knecht acrescenta a influência da chegada de um novo ano, que incentiva a reflexão e a esperança. “É um momento de avaliação do ano, e de olhar com alegria para esse ano novo que está chegando”, complementa.
O padre salienta também que o Natal, diferente de outros feriados, é marcado pelo encontro com a família. “Se percebe que as pessoas se reúnem, culmina com isso, é um espírito natalino, de se alegrar com o nascimento de alguém, de Jesus”, reforça. Diego lembra ainda as condições em que Jesus nasceu, em uma estrebaria, e faz uma alusão às pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social, que são beneficiadas por esse sentimento de solidariedade que se evidencia nessa época. “Então, se pudermos dar mais condições aos Jesus, Marias e Josés de hoje, claro que não vai resolver, mas ajuda, é o momento em que as pessoas abrem, ou amolecem, o coração”, finaliza.
O pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Cleber Fontinele Lima, reforça que o período é de reflexão e que a mensagem trazida pelo Natal é um incentivo à solidariedade e gera um clima de paz. “Entendo que o próprio nascimento de Jesus, como senhor e salvador, possibilita que as pessoas fiquem mais introspecivas, e essa mensagem trazida no Natal ajuda as pessoas a compreenderem isso”, resume.
Solidariedade é um sentimento “contagioso”, diz psicóloga
“A gente pode entender a solidariedade no Natal como algo que se manifesta a partir da mensagem, do exemplo de Cristo, que nasceu, veio, sofreu para que a humanidade, através do seu exemplo, pudesse se espelhar, aprender a se doar, a se preocupar com os demais”, observa a psicóloga Paulina Pölking. “Essa solidariedade inicia em Cristo e se propaga a partir da ação de cada um porque leva a um movimento que vai replicando, que vai se espalhando, como onda, para a ação dos demais” acrescenta.
Para contextualizar sua análise, a psicóloga refere-se ao sentido cristão da data e menciona a comemoração do renascimento de uma prova de amor e de doação, uma vez que se comemora a chegada de Cristo como aquele que veio para a redenção e salvação da humanidade. “Fazer o bem e se dedicar, se doar para os outros, é a possibilidade de sair de si, de deixar de olhar somente para si e poder olhar para os outros”, analisa. Ela acrescenta que, ao se falar no espírito de solidariedade que se acentua no Natal, quando as pessoas procuram fazer doações, pois se preocupam mais com a falta que o outro possa sentir e com o que podem fazer para supri-la, é uma réplica do espírito cristão. “Isto pode justificar o nosso entendimento de porque nesse momento a solidariedade se fortalece ainda mais, se manifesta mais, porque acaba se espelhando na mensagem que o nascimento de Cristo trouxe para nós”, completa.
A psicóloga diz ainda que essa solidariedade é “contagiosa” e, da mesma forma que a ira, a raiva, a agressividade acabam “contaminando” multidões, o mesmo ocorre com os bons sentimentos. Desta forma, ao perceber um movimento solidário, acabamos por nos contagiar positivamente, o que amplia as ações em prol de outras pessoas. “Isso é muito bom de se perceber. Quando a gente procura promover essas boas ações, ter bons sentimentos, vai além do que está acontecendo naquele momento, minha ação também vai levar o outro a ter uma ação semelhante”, reforça. “E como esses movimentos promovem um bem-estar, o dito popular, que ‘faz bem fazer o bem’, essa movimentação de perceber no outro o bem-estar através de minha ação, isso promove em mim uma sensação de bem-estar, e isso tende a fortalecer esse comportamento”, resume a profissional da Psicologia.