Montenegro foi o portal à nova vida dos italianos

HÁ 150 ANOS, italianos desembarcaram nas barrancas do Rio Caí

Um fato histórico de grande relevância para o Rio Grande do Sul teve porta de entrada em Montenegro, todavia, foi ignorado com o passar do tempo. Seu porto fluvial foi a segunda parada no Brasil do fluxo migratório italiano, que, neste dia 20 de maio (chegada em Nova Milano, atual Farroupilha), comemora 150 anos. Por uma década, o local hoje chamado Porto das Laranjeiras recebeu casais que deixaram regiões de Lombardia, Vêneto e Tirol em busca de oportunidades e fugindo das tensões políticas e bélicas de uma Italiana unificada. O chamado “Risorgimento” foi um processo complexo e gradual, ocorrido na segunda metade do século XIX, que resultou na formação de um estado-nação unificado a partir de diversos reinos e cidades-estado; onde também foram heróis Giuseppe e Anita Garibaldi.

A imigração italiana foi um negócio arquitetado pela Coroa Brasileira com empresas privadas, inicialmente no intuito de desenvolvimento econômico da nação tornada independente em 1822. Mas a história justa revela também um “programa eugenista” (branqueamento) da população, prevendo a abolição da escravatura que fervilhava nas esferas políticas.

Para aquela Montenegro com dois anos de emancipação, a rota de imigração foi positiva, fazendo prosperar o comércio, logística e transporte de pessoas com a abertura do caminho à Serra pelas atuais rua Buarque de Macedo e BR-470 . O professor, historiador e escritor Eduardo Kauer revela a existência de vasta documentação destes imigrantes no Arquivo Histórico de Montenegro. Este registro tem tamanha valia que é comum moradores da Serra procurá-lo para encaminhar processo de cidadania italiana. Ele observa que italianos já haviam chegado ao Brasil antes, mas 1875 marca o início de um fluxo migratório regular.

Neste contexto, o porto de Montenegro, ainda sem o cais construído, era o mais próximo para inserir os imigrantes ao interior da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul (1868-1889). Outro fator benéfico foi o relevo, sendo o último ponto navegável do Rio Caí na época, concedendo planejamento amplo e irrestrito durante o ano todo. Isso mudou com a construção da eclusa Barragem do Rio Branco, em Pareci Velho, permitindo que a partir de 1887 os barcos atracassem em São Sebastião do Caí.

Desciam no porto vendo a igreja no topo da Dr. Flores

Aqui se tornavam ítalo-brasileiros

Mesmo que desembarcassem dos navios em portos de mar, como Santos (SP) e Porto Alegre (RS), para seguirem em embarcações menores pelos rios, era na barranca do Caí que os imigrantes eram devidamente registrados como cidadãos ítalo-brasileiros. Este trâmite era realizado na “praça de comércio”, entreposto para o transporte de mercadorias que ficava onde hoje é a Câmara de Vereadores de Montenegro, e onde os casais ficavam acampados.

Neste desembarque, os italianos, católicos fervorosos, reforçavam suas preces, ao verem no topo da rua Dr. Flores a igreja, então voltada ao Caí e no local onde é a Praça da Matriz. No bairro Centenário (imediações das ruas Escócia e Rotary Internacional) havia ainda a “casa de quarentena”, segunda parada e importante para a saúde pública.

Com as exigências legais cumpridas, partiam em carro de boi para povoar a região até Vacaria. Na época, o trajeto seguia a atual Estrada Selma Wallauer (Faxinal) para depois se tornar o traçado da rodovia, cortando diversas cidades da Serra onde também ainda é chamada rua Buarque de Macedo.

Empresas fizeram a colonização

Na Estrada Selma Wallauer ainda está a pedra do km 5 no caminho de subida

Eduardo Kauer descreve que a ocupação das terras serranas era gerida pelas chamadas “empresas de colonização”. “A imigração toda foi um grande negócio. Todo mundo ganhou um pouco”, comenta. A doação da terra foi real. Todavia, uma grande área, em forma de sesmaria era entregue primeiro ao empresário, que depois loteava aos colonos.

Neste sistema rumo ao interior este empresário ganhava com o transporte em carro de boi e de barco, com alimentação, construção, venda de ferramentas, sementes e insumos. Nada afasta a possibilidade de depois terem começado a vender os lotes, inclusive por meio de percentual da produção. Essa relação de negócio também explica por que ficaram poucos imigrantes italianos em Montenegro, ainda que o município com dois anos de emancipação tenha se tornado o centro comercial para essas colônias.

Rua Buarque de Macedo cruza cidades, e em Garibaldi replica o passado

Saiba mais
Os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul terão como marco o dia 20 de maio, pois, em 1875, chegaram a Nova Milano, atual Farroupilha, os primeiros imigrantes italianos. O primeiro ciclo migratório ocorreu entre 1875 e 1914, trazendo para o Estado cerca de 84 mil pessoas, que deixaram a Lombardia, o Vêneto e o Tirol em busca de oportunidades e fugindo das tensões que culminaram na Primeira Guerra Mundial. O ápice da imigração foi entre 1884 e 1894, com a chegada de 60 mil italianos.
*Fonte: Governo do Estado/ site 150 Anos Imigração Italiana no RS

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