Mais do que local de homenagem, cemitérios também são fontes de pesquisa

Pesquisadores conseguem recuperar informações históricas em campos santos

Tidos como espaços para homenagens e lembranças, os cemitérios também são uma valiosa fonte de informação para aqueles que pesquisam sua árvore genealógica ou a história de uma região. De túmulos antigos pode-se descobrir, por exemplo, a cidade do exterior de onde veio a patriarca de uma família tradicional na região ou até mesmo encontrar o local onde está enterrado o corpo de alguém que teve seu nome eternizado como uma das principais ruas da cidade.

Foi em busca de informações como essas que um grupo de pesquisadores de diversas cidades do Rio Grande do Sul se reuniu no começo de outubro para visitar o cemitério da associação do Faxinal, o cemitério evangélico de Campo do Meio, o cemitério da associação de Campo do Meio, o cemitério católico de Santos Reis e o cemitério evangélico de Santos Reis. “A gente foi nesses cinco cemitérios em um dia para encontrar lápides, para ver as sepulturas, as obras de arte. Às vezes, tem muita informação numa lápide”, destaca o historiador e teólogo Eduardo Kauer.

Kauer destacou importância de campos santos como locais de pesquisa

O pesquisador salienta que não apenas as lápides e as obras de artes encontradas nos campos santos são registros históricos. Segundo Kauer, homenagens como flores, pequenas cruzes e outras formas de render tributos aos que já se foram também o são. “Tudo isso é uma expressão de carinho, de sentimento, de vontade de homenagear aquelas pessoas – e isso tudo é um registro histórico”, assegura.

Sobre a visita a cemitérios, o historiador diz que ela dá mais liberdade do que a pesquisa restrita aos livros. “O livro é muito importante, ele traz informações, mas a visita in loco para conhecer o lugar e a realidade e olhar e sentir o ambienta é um fator a mais, ele traz uma séries de dados a mais”, comenta. Kauer reforça que a pesquisa em grupos permite também a troca de informações entre pesquisadores.

Inclusive, o grupo já planeja novos roteiros por cemitérios de outras cidades da região, como São Sebastião do Caí. De Montenegro, além de Kauer, participaram do tour realizado em outubro o pesquisador Mauro Kray e Bruna Berg Kauer, filha de Eduardo Kauer.

Um museu a céu aberto
Buscando conhecer a história de sua família, o agricultor Mauro Henrique Kray tornou-se também um pesquisador. Logo ele percebeu que os cemitérios eram uma boa fonte de informação para suas pesquisas. “Eu sempre digo: a gente tem que tentar desmistificar isso que cemitério é um lugar triste, que o cemitério é um lugar de choro. Ao contrário: o cemitério, principalmente os antigos, é um museu a céu aberto”, afirma.

Obras de arte também fazem parte do cenário que compõem cemitérios

O pesquisador cita como exemplo as obras de arte encontradas, principalmente, em túmulos antigos. Diferente dos jazigos atuais, antigamente eles recebiam um tratamento especial. No campo santo da Associação Comunitária do Cemitério Faxinal há túmulos feitos com pedra grés entalhadas nos mais diferentes formatos. “Mesmo sendo uma pedra simples, a forma que ela foi trabalhada, o ornamento que ela nos mostra é uma verdadeira obra de arte”, aponta.

Kray também salienta a importância de se conhecer o passado e o valorizar. “É conhecendo, muitas vezes, o passado que a gente vai valorizar aqueles que nos legaram a vida através das gerações e também, às vezes, descobrindo erros que no passado foram cometidos e que a gente pode se policiar para não cometer tais erros”, pondera. “A história é fascinante”, complementa.

Tour rendeu descobertas interessantes
O encontro de pesquisadores e o tour por cemitérios realizados no começo de outubro resultaram em diversas descobertas. Entre elas, a de uma placa de mármore com inscrições sobre Heinrich Einloft, no Faxinal. A enorme lápide estava há anos caída e foi levantada pelos pesquisadores, revelando uma placa de mármore branco incrustada na pedra grés. O mármore, todo trabalhado, trazia informações como a data de nascimento e de falecimento de Heinrich Einloft.

De acordo com Kauer, através dos dados encontrados nas placas foi possível descobrir que a pessoa ali enterra havia nascido na cidade de Colônia, na Alemanha. Conforme o historiador, essa informação não estava disponível em livros e registros por ele já pesquisados. “Ele (Heinrich Einloft) é pai de vários ‘caras’ que depois ficaram ricos aqui em Montenegro. Um dos filhos dele fez a colônia em Arroio Canoas, no interior de Barão. Outro filho dele foi um dos principais divulgadores do sistema republicano aqui em Montenegro”, conta.

Túmulo onde foi enterrado Antônio Pires da Cruz, que dá nome à rua Capitão Cruz, está localizado em Campo do Meio

Outro dado interessante descoberto pelos pesquisadores trata-se da disposição dos túmulos no cemitério da Associação Comunitária do Cemitério Faxinal. Parte do espaço do campo santo foi reservado para católicos e outra parte para luteranos. Datado de 1880, o campo santo carrega na sua disposição a rusga que havia entre as duas igrejas antigamente: enquanto que os católicos começaram a ser enterrados a partir da frente do terreno, os luteranos começaram enterrando seus entes a partir dos fundos do terreno. De acordo com Kray, há, até mesmo, casos de casais que foram “separados após a morte” por serem de igrejas diferentes, sendo um enterrado no lado católico e outro no lado evangélico.

Pesquisas nos cemitérios locais também levaram à descoberta, no Cemitério Nossa Senhora de Fátima, Campo do Meio, do túmulo de Antônio Pires da Cruz, integrante da primeira Legislatura da história de Montenegro e que também ocupou o cargo de intendente da cidade. Hoje, é mais conhecido por dar nome a uma das principais ruas montenegrinas: rua Capitão Cruz.

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