Lições da enchente: Montenegro reforça estrutura da DC e regulamenta voluntariado

PARTICIPANTES DO Prefeito Tá On apresentam avanços em logística, resgate e assistência a famílias atingidas

Nessa quarta-feira, dia 7 , foi realizada mais uma edição do programa Prefeito Tá On. A entrevista conduzida por Mara Rúbia Flores teve como tema “As lições que a grande enchente de maio de 2024 deixou”. Participaram o prefeito em exercício de Montenegro, Cristiano Braatz, o coordenador da Defesa Civil municipal, Clóvis Pereira, e o secretário municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania, José Vitor Cardoso.

Durante a conversa, os representantes da administração municipal detalharam medidas de prevenção e enfrentamento a eventos climáticos extremos. O prefeito em exercício destacou que o Governo Zanatta tem buscado preparar as equipes da Defesa Civil e da assistência social com materiais, equipamentos e cursos. O objetivo é garantir estrutura para o acolhimento de famílias atingidas, desde o resgate até o retorno aos lares.

Braatz mencionou que eventos anteriores, como as enchentes de julho e novembro de 2023, contribuíram para a melhoria da logística municipal. A experiência acumulada permitiu a organização de locais de acolhimento, transporte de moradores e distribuição de materiais essenciais. Segundo ele, há um mapeamento em andamento das áreas atingidas com o objetivo de subsidiar a participação do município em programas estaduais e federais.

O prefeito também recordou que, quando vereador, participou de ações voltadas à redução dos riscos relacionados ao fornecimento de energia elétrica em áreas alagáveis. Na ocasião, um trabalho conjunto com a concessionária de energia e a Defesa Civil resultou na diminuição da necessidade de cortes preventivos de luz em bairros com histórico de enchentes de médio porte.

Além das ações preventivas, Braatz comentou sobre as medidas emergenciais adotadas pelo município após os eventos climáticos. Segundo ele, foram destinados recursos para micro e pequenos empresários, bem como auxílio direto às famílias afetadas. Entre os apoios prestados, citou a entrega de cestas básicas, roupas e móveis, além da concessão de um valor de R$ 1.500,00 para compras no comércio local, como ocorreu após a enchente de julho de 2023.

Os participantes do programa reforçaram a necessidade de estrutura contínua para os setores envolvidos na gestão de crises e destacaram que o município de Montenegro foi um dos primeiros a ser contemplado com programas estaduais e federais após a enchente de maio. A meta, segundo a administração, é manter as ações de prevenção, resposta rápida e reconstrução com base nas lições aprendidas nos últimos episódios.

Defesa Civil formaliza banco de voluntários e amplia capacidade de resgate

A Defesa Civil de Montenegro contará com um banco de voluntários formalizado e uma estrutura reforçada para atendimento em situações de emergência. Um decreto regulamentando o serviço voluntário está em fase final de elaboração e deve ser assinado nos próximos dias pelo prefeito em exercício. A medida abrange moradores, barqueiros e profissionais que desejam atuar em apoio às operações de resgate e assistência durante eventos climáticos extremos.

Com a criação do banco de dados, os voluntários serão cadastrados por bairro. O processo será iniciado no Olaria e se estenderá a outras regiões da cidade. A intenção é registrar, rua por rua, informações das famílias que vivem em áreas de risco. A iniciativa envolve também a Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Cidadania, e será integrada ao sistema digital da Prefeitura.

Além do cadastro, a frota da Defesa Civil foi ampliada. Até meados de 2023, o órgão não possuía embarcações próprias. Atualmente, segundo Clóvis, conta com cinco barcos, um jet ski, uma lancha e um bote inflável. Duas novas embarcações, com 5,4 metros de comprimento e 1,6 metro de largura, estão em processo de aquisição.

Segundo o coordenador da Defesa Civil, a ampliação da estrutura é resultado da necessidade identificada ao longo dos 17 episódios de enchente registrados em Montenegro entre junho de 2023 e junho de 2024.

Durante a enchente de maio, Montenegro registrou oficialmente 1.650 resgates por meio do telefone 193. No entanto, estima-se que aproximadamente 6.500 resgates tenham sido realizados de forma não oficial, com o apoio de voluntários e barqueiros da própria comunidade. Clóvis ressalta que a mobilização dos moradores foi fundamental para garantir a retirada de pessoas e animais em segurança.

Desde 2023, a administração municipal tem adotado medidas para reequipar os serviços de emergência. Parte dos equipamentos foi adquirida por licitação, como jet ski, lancha, bote inflável e roupas de neoprene. Após a enchente de maio, a Prefeitura acelerou a compra de mais uma lancha por meio de processo emergencial.

A qualificação das equipes de atendimento também foi reforçada, com treinamentos voltados especialmente à montagem e operação de abrigos temporários. Segundo representantes municipais, Montenegro passou a adotar um procedimento padrão para o abrigamento de famílias afetadas.

“Instalamos uma régua no rio e reestruturamos a régua do Arroio Manduca, onde está localizado o sensor da CPRM , que, até então, não contava com régua. O serviço foi feito de forma escalonada, incluindo a construção de taludes com calçamento e a instalação das réguas por metragem até a beira do arroio”, explica Clóvis sobre outras ações feitas. “Também foi colocado um poste de concreto de 12 metros, onde foi fixado o sensor, para garantir que ele não fosse levado pela força da água. Com isso, revitalizamos toda a estrutura do sensor da CPRM”.

Além disso, reuniões de planejamento e integração entre a Defesa Civil, ONGs e voluntários têm ocorrido semanalmente, às quintas-feiras, com foco na organização preventiva, um dos objetivos é manter o município em estado permanente de prontidão.

Outro ponto destacado por Clóvis é o trabalho de cadastramento das famílias afetadas pelas enchentes. Ao longo de cerca de sete meses, a Defesa Civil e a Secretaria de Habitação atuaram para registrar os moradores atingidos, com o objetivo de inseri-los em programas federais de reconstrução. O processo envolveu a integração entre os Ministérios da Integração e Desenvolvimento Regional e das Cidades, por meio do programa Minha Casa Minha Vida. Em Montenegro, cerca de 150 residências foram danificadas ou destruídas.

Clóvis e José Vitor unem esforços para que o município esteja preparado, em caso de novas enchentes

Montenegro implementa núcleos comunitários para apoio em emergências

A Prefeitura de Montenegro, por meio da Defesa Civil, iniciou o processo de implantação de núcleos comunitários nos bairros da cidade. A medida faz parte do plano de contingência do município e tem como principal objetivo fortalecer a comunicação e a resposta rápida em situações de emergência, como enchentes.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil, os núcleos funcionam como pontos de referência locais para disseminação de alertas e orientação sobre rotas de fuga. Os representantes desses núcleos serão moradores com vínculo consolidado com a comunidade, como integrantes de associações de bairro e lideranças religiosas. “A ideia é que esses moradores atuem como porta-vozes da Defesa Civil, principalmente na mobilização inicial da população quando os alertas forem emitidos”, explica Clóvis.

As igrejas têm desempenhado papel importante nesse processo. Por meio do Conselho dos Pastores, que reúne diversas denominações religiosas do município, a Defesa Civil mantém interlocução contínua com as lideranças religiosas. Essas instituições colaboram na logística de atendimento e acolhimento, cedendo estruturas como cozinhas e salões para preparação de refeições e apoio a abrigos temporários.

A formação dos núcleos inclui a definição de abrigos já pré-estabelecidos e a orientação prática sobre os procedimentos durante eventos críticos. As lideranças envolvidas também recebem informações sobre os fluxos de retirada de moradores e apoio logístico, contribuindo com a organização e agilidade nas ações emergenciais.

Segundo o prefeito em exercício, a criação dos núcleos visa tornar a resposta comunitária mais coordenada e eficiente. “A logística é um dos aprendizados recentes. Esses núcleos, integrados às estruturas já existentes nos bairros, ampliam nossa capacidade de resposta sem depender exclusivamente das equipes centrais”, destaca Cristiano.

A iniciativa integra o conjunto de ações de prevenção e preparação que vêm sendo adotadas desde 2023.

Estrutura de abrigos fortalece articulação com forças de segurança para emergências

De acordo com o secretário José Vitor Cardoso, a cidade desenvolveu uma estrutura capaz de atender até 600 pessoas de forma imediata, o triplo da média histórica de acolhimentos em eventos anteriores. Esse preparo inclui a manutenção de estoques permanentes de colchões, cobertores, travesseiros, roupas, além de contratos com fornecedores de refeições prontas. A cidade também conta com infraestrutura adequada nos principais pontos de abrigo, como o Azulão, que passou por reformas, agora conta com estrutura de banheiros, vestiários e lavanderia.

O modelo de atuação adotado pelo município tem como base a experiência própria e a observação de falhas registradas em outras cidades atingidas, como ocorreu na região do Vale do Taquari. A presença de voluntários e o apoio de empresas locais também têm sido relevantes na operação dos abrigos. Durante a última enchente, servidores da iniciativa privada atuaram diretamente na organização dos espaços, auxiliando com tarefas diárias como limpeza e separação de doações.

Além da preparação logística, Montenegro mantém uma articulação permanente entre as forças de segurança e a Defesa Civil. Segundo Clóvis, todos os servidores públicos são considerados membros do sistema de proteção por lei, assim como os moradores que atuam ativamente nas ações.

O município também utiliza a mão de obra de reeducandos do Instituto Penal de Montenegro em tarefas de manutenção e remoção de bens atingidos. Em caso de necessidade, há apoio imediato do Batalhão de Engenharia de Cachoeira do Sul, através do Comando Militar do Sul. Já o plano de contingência da segurança pública segue normas do Ministério da Justiça, o que permitiu, por exemplo, a atuação de 50 servidores da Força Nacional em Montenegro durante eventos críticos.

Convênio com o Estado garante desassoreamento de arroios

Para a realização do hidrojateamento das galerias, foram contratadas 500 horas-máquina. Foto: ACOM/Prefeitura de Montenegro

A Prefeitura de Montenegro firmou convênio com o Governo do Estado e captou R$ 1,5 milhão por meio da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão para a limpeza e desassoreamento de arroios em áreas urbanas. Os serviços contemplam os arroios Montenegro, Maratá e da Cria, considerados pontos críticos para o escoamento da água em períodos de cheia. De acordo com o prefeito Cristiano, a ação teve efeito direto na melhoria da vazão dos arroios.

Segundo a administração municipal, o desassoreamento é um trabalho contínuo, já que cada nova chuva traz novos sedimentos. A manutenção deverá ser feita regularmente para evitar novos bloqueios e permitir o fluxo da água. O sistema de hidrajato também vem sendo usado para fazer a limpeza de galerias.

A gestão também destaca que a responsabilidade pelos arroios é municipal, enquanto a limpeza do rio Caí depende de ações do governo estadual. A Prefeitura afirma que tem executado sua parte, incluindo intervenções locais e medidas preventivas.

Outro ponto abordado foi o cadastramento das famílias atingidas pelas cheias. Segundo João Vitor Cardoso, a Prefeitura registrou tanto os domicílios já mapeados como os que procuraram a administração espontaneamente. Algumas residências não foram incluídas por estarem fora da área oficialmente atingida pelas inundações.

Em complemento às ações locais, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) esteve em Montenegro durante 26 dias, realizando um novo levantamento da mancha de inundação. O último estudo disponível era de 2016. O novo mapeamento, previsto para ser divulgado no próximo mês, incluirá áreas que anteriormente não estavam classificadas como zonas de risco, como o Morro São João. Essa região passou a ser considerada vulnerável a deslizamentos, e os dados atualizados devem subsidiar futuras ações de prevenção . resposta.

Novas réguas de medição auxiliam no monitoramento das águas do Rio Caí. Foto: arquivo Jornal Ibiá

Município avança na realocação de famílias

Em Montenegro, cerca de 180 moradias foram oficialmente condenadas após laudos técnicos elaborados por uma arquiteta da Secretaria de Habitação. Destas, 150 famílias já foram convocadas pela Caixa Econômica Federal para o processo de compra assistida de imóveis, com recursos de até R$ 200 mil por unidade.

As famílias beneficiadas são responsáveis por encontrar os imóveis, que devem atender a critérios técnicos e legais exigidos pela Caixa. Após a escolha, o imóvel passa por uma análise documental e de engenharia. Já há 50 propostas em andamento, sendo que 20 contratos estão assinados e os demais seguem em processo de avaliação.

A ação conta com o apoio de um correspondente da Caixa em Montenegro, que auxilia os beneficiários no envio de propostas e na organização da documentação necessária. Conforme José Vitor, a Secretaria de Habitação mantém contato direto com as famílias por meio de grupos de mensagens, esclarecendo dúvidas e orientando quanto às exigências do programa.

Além das 150 unidades previstas via compra assistida, outras 96 habitações serão viabilizadas por meio da construção de apartamentos, totalizando cerca de 250 novas moradias destinadas a famílias atingidas pelas cheias.

Lacunas no planejamento urbano

Durante audiência pública no ano passado, moradores questionaram a ausência de medidas relacionadas a enchentes no Plano Diretor. Na ocasião, o Executivo argumentou que o documento já estava em fase avançada de tramitação quando a enchente ocorreu, e que novos projetos seriam encaminhados posteriormente para contemplar o tema. No entanto, as propostas complementares, estimadas entre seis e oito projetos de lei, não foram enviadas à Câmara de Vereadores.

De acordo com o prefeito Cristiano Braatz, toda alteração no Plano Diretor parte do Executivo, é analisada pelo Conselho Municipal e, após aprovação, segue para apreciação da Câmara. Após a aprovação de alterações nas leis complementares do PD, a prefeitura irá contratar uma universidade para desenvolver estudos sobre as áreas de risco e propor ações de infraestrutura. O objetivo é embasar futuras intervenções e garantir que o crescimento urbano ocorra de forma ordenada.

Entre as possíveis mudanças, está a limitação de construções em regiões já consolidadas e frequentemente atingidas por cheias, como o bairro Industrial. A proposta é desestimular novas edificações nessas áreas e criar mecanismos de retenção da água da chuva. Braatz também informou que, paralelamente à pavimentação de ruas, a Prefeitura está ampliando a rede de drenagem e executando serviços de limpeza em galerias e bueiros.

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