Moradores participaram de audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília, através de teleconferência
A luta continua para os moradores da Volta do Anacleto, no interior de Montenegro, que estão ameaçados de terem bloqueado seu principal acesso à BR-386, a Tabaí-Canoas, em virtude da construção da nova praça de pedágio. A revolta das famílias foi manifestada diretamente às autoridades federais, nesta quinta, por meio de uma conferência on-line com a Comissão de Viação e Transportes (CVT) da Câmara dos Deputados.
A comunicação direta com Brasília foi proporcionada pela Câmara de Vereadores, que disponibilizou todo o aparato técnico para viabilizar a interação com os parlamentares. A atividade foi concretizada graças a um requerimento proposto pelo deputado federal Pompeo de Mattos (PDT). Estava em pauta na Comissão o debate sobre os impactos negativos da implantação de praças de pedágio junto à BR-386, na altura do Km 426 (Volta do Anacleto) e na BR-101 (altura do bairro Caravaggio, em Três Cachoeiras).
Na abertura dos trabalhos, Pompeo ressaltou que o objetivo era discutir a instalação de passarelas, túneis e vias de acesso ao longo destas estradas, para atender aos moradores das margens. Liderados pelo suplente de vereador Paulo Azeredo (PDT), os representantes da comunidade compareceram organizados, portando faixas e bandeiras. Alguns tiveram oportunidade de se manifestar. Na mesa de trabalho, estavam o gerente de Regulação e Outorga da Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), Marcelo Fonseca Cardoso, e o representante da concessionária CCR Via Sul, Bruno Ferreira.
Além da sua manifestação em defesa dos moradores, Pompeo também exibiu um vídeo sobre o problema, que envolve o fechamento da Estrada Pedro Ost, existente há mais de 35 anos e utilizada por cerca de 200 pessoas diariamente. Com o fim do acesso à BR, ela perde a função e os moradores que quiserem alcançar a rodovia terão de fazer um deslocamento extra de, no mínimo, seis quilômetros.
O representante da CCR ViaSul, Bruno Ferreira, disse que é preciso resolver o problema de forma conjunta. Abordando aspectos técnicos, afirmou que a Praça está localizada exatamente no local determinado pelo estudo de viabilidade. Quanto ao fechamento dos acessos num raio de um quilômetro ao redor das cancelas, a orientação consta no Manual de Rodovias. “A legislação precisa ser cumprida”, defendeu.
Conforme o gerente de Regulação e Outorga da ANTT, Marcelo Fonseca Cardoso, o processo começou em 2015, com a elaboração do Estudo de Viabilidade. Ele observa que é comum certo impacto na instalação das Praças de Pedágios, mas ponderou que, até então, não haviam aparecido questionamentos como o dos moradores da Volta do Anacleto. Por outro lado, lembrou que a instalação da praça já está em estágio avançado, e que uma mudança de posicionamento não mais acontecerá.
Estrada tem 35 anos
Irritado, o deputado Pompeo disse que os moradores não podiam reclamar de algo que sequer sabiam, como o fechamento de um acesso à rodovia existente há mais de 35 anos. “Nas audiências públicas, em nenhum momento, foi tratado com clareza, por exemplo, que iriam fechar acessos como o de Montenegro”, apontou.
O primeiro a se manifestar, representando Montenegro, foi o suplente de vereador Paulo Azeredo (PDT). Ele alertou que a decisão da CCR Via Sul, em consonância com a ANTT, vai acabar com uma comunidade de mais de 150 anos. “Que fique bem claro o pleito dos moradores, que é o acesso lateral, uma passarela para os que necessitam atravessar a via”, defendeu.
Na sequência, os moradores também falaram. Para algumas famílias, será necessário percorrer até 20 quilômetros para chegar à Tabaí-Canoas, por outra estrada que, em dias de chuva, acumula mais de um metro de água. Também questionaram se a decisão da CCR Via Sul não estaria desrespeitando o direito de ir e vir dos cidadãos que já utilizam este acesso há muitos anos. “Vocês estão nos massacrando com aquelas máquinas”, desabafou uma das reclamantes. “Tirem o coração do bolso e o coloquem no seu devido lugar”, pediu outro.
O ex-prefeito Percival de Oliveira representou, na reunião, a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Ele lembrou que o Município fez altos investimentos na via que será bloqueada, como a obra de levante, evitando seu alagamento. “Além de todos os prejuízos à comunidade, também teremos a perda desses recursos públicos se a estrada for fechada”, lamentou.
Diante da constatação de que os apelos não sensibilizaram a concessionária e nem as autoridades federais, o deputado Pompeo de Mattos elevou o tom: “Podem se preparar, vocês da CCR Via Sul, porque as coisas não são simples assim. O bicho vai pegar!”.