SÍTIO MAHO. Rô e Marcelo empreendem reconstituindo a natureza

Rosângela Fontana e Marcelo Pereira trabalharam por 25 anos, mas conseguiram transformar um pedaço de terra degradada pela monocultura em oásis de agricultura ancestral. Uma reconstituição ambiental que ainda está acontecendo, por meio da memória da terra e do cultivo em Agrofloresta de Sucessão Biodiversa, permitindo que o verde reocupe um deserto de tocos, ao lado da lavoura sem veneno. Agora os portoalegrenses começam a abrir o Sítio Maho Magia, na Rua Nova, interior de Montenegro, ao turismo e ao conhecimento.
O casal, ambos com 56 anos, repetiu o trajeto de muitos que se esgotam na turbulência da cidade e no tédio de empregos confinados, buscando vida nova no interior. Estavam tão esgotados quanto os 16 hectares que adquiriram no ano 2000, criando uma sinergia de quem se reconstruía como gente enquanto reconstruía a terra.
As décadas de plantio de mato exauriram o solo ao ponto de torná-lo arenoso e compacto, e já não havia aves ou animais silvestres vivendo no local. Houve também um campo de futebol para refúgio dezenas de pessoas nos finais de semana, enquanto a natureza desconhecia o ócio de entressafra.
Isso exigiu paciência, e nos três primeiros anos Rô e Marcelo vinham apenas para reerguer as instalações e limpar o terreno. Ao seu redor, os filhos Vitória e Marcelo, hoje Bióloga e Veterinário formados e com 27 e 36 anos, se divertiam. “Nós pensamos que aqui é um lugar mágico”, define Marcelo, ao explicar o nome. O curioso é que Maho estava surgindo da junção de seus nomes, em uma verdadeira conspiração do destino, pois descobriram que, em japonês, seu significado é “magia”.
Retornando ao ciclo ancestral

Quando vieram para Montenegro, a cabeça deles estava no “agro”. Mas as estufas de moranguinhos foram levadas por um vendaval e as 100 cabeças de gado leiteiro se mostraram trabalhosas para quem buscava o sossego. Até que Rosângela descobriu em 2018 o sistema biodiverso. De forma muito resumida, consiste em retornar à harmonia cíclica entre os seres vivos que trouxe o planeta até aqui.
Uma planta ajuda no desenvolvimento da outra. As árvores protegem as menores do sol e do vento, e com seu radical puxam nutrientes e água do subsolo. Aquelas que são rasteiras, como a batata-doce, e até o capim, retardam a evaporação. Os insetos polinizam, e as formigas, inimigas naturais dos agricultores, cumprem a função de tornar o solo poroso, permitindo a infiltração da chuva e dos minerais.
Outros grandes aliados no Sítio Maho são as bananeiras, esponjas d’água ricas em potássio; e o Eucalipto, cuja madeira é um fertilizante biológico. Ambos são podados e colocados no solo, inteiros ou triturados, enquanto as raízes preservadas permitem seu renascimento. Basicamente, é um longo manancial de fortificante para hortaliças e pomares. “Em um canteiro de 45 metros tem cerca de 30 árvores diferentes. De um Tomatinho Cereja até um Abacateiro”, revela Marcelo.
Projeto de turismo e conhecimento

Como em todo início, o casal de agricultores errou e insistiu. Um de seus nortes foram os ensinamentos da saudosa agrônoma Anna Maria Primavesi, “mãe da agrofloresta”, homenageada na parede do Sítio em grafite feito pela filha Vitória e o genro Cassiano. “Não tem jeito certo de fazer a agrofloresta. Mas o jeito errado é não fazer”, filosofa Marcelo. Um dos grandes feitos foi a recomposição sem semeadura de quase 2 hectares desmatados. A iniciativa deles foi deixar acontecer por meio da “memória da natureza”, com sementes que estavam na terra ou foram trazidos pelos animais, transformando o campo de tocos em mato verde fechado.
O próximo passo é receber convidados dispostos a aprender, sobretudo as crianças. A ideia é combinar um projeto com a escola e agendar uma visita guiada. Para o futuro, o sonho é um recanto de relaxamento em meio ao verde do Sítio Maho Magia. Já os alimentos sem agrotóxicos de Rô e Marcelo podem se comprados na Feira Livre de Montenegro (no Cais do Porto e na praça da Timbaúva).

Contate e acompanhe
Instagram = @sitiomahomagia
WhatsApp = (51) 996-059-110 (Rô)/ 999-440-574
*o Sítio fica no quilômetro 416 da BR-386