Para estudantes do campo, o isolamento também é digital

Linha Catarina. Falta de Internet e celular é um grande atraso para o Interior de Montenegro

As dificuldades de comunicação na Zona Rural de Montenegro é bandeira editorial do Jornal Ibiá, que abordou a demanda em reportagens recentes. Sobretudo a ausência de sinal para celular e de sistema para acesso à Internet, cujo isolamento representa inclusive risco à vida, ao dificultar ligação aos telefones de emergência. E neste momento de pandemia, sobressai a dificuldade dos estudantes em cumprirem tarefas da educação remota (em casa).

Esta realidade é externada pela moradora da Linha Catarina, Sélia Carolina de Ávila, 22 anos, que toda segunda-feira se vê obrigada a ir até a casa da tia para baixar os temas do filho Ícaro de Ávila Reidel, 4 anos, da Pré-escola na Municipal Dona Clara Camarão. O mesmo se repete com cerca de outros 20 jovens, inclusive sua sobrinha, Katiele Reidel de Souza, 12 anos, aluna do 7° ano Escola Estadual de Osvaldo Brochier.

“Sempre damos um jeito! Nunca deixamos criança nenhuma sem fazer as lições, porém, para isso, passamos por coisas desnecessárias para poder ter essas lições em dia”, explicou. Em resumo, crianças e pais acabam obrigados a romper o isolamento social, circulando na comunidade e interagindo para poder usar um computador com Internet.

Sélia mora em uma área mais baixa da Linha Catarina, onde há 10 casas (sete com alunos) que têm apenas telefone residencial. Sinal para celular e internet no celular é inexistente, e o sistema por rádio também não tem alcance. A situação que se ameniza em outras partes da Linha Catarina, porém, ainda mantendo a precariedade.

A verdade é que o problema de isolamento virtual é antigo, e afeta toda a Zona Rural de Montenegro. O Ibiá já descreveu a situação da Costa da Serra, onde empreendedores, serviços e cidadãos enfrentam dificuldades para ‘achar sinal’ de celular. Ali, a situação tem o agravante dos riscos na ERS-411, onde uma chamada de emergência em tempo hábil pode ser decisiva.

Empresas não mostrariam interesse
Os moradores da Linha Catarina estão indignados com a falta de valorização das empresas do setor. Inclusive no último dia 6 de junho fez um ano da reunião promovida por uma destas prestadoras, em Campo do Meio.

Sélia recorda que diversas famílias da região participaram, todavia poucas foram aceitas como clientes. Na época, o argumento foi que não valia investir para levar fibra ótica para apenas duas ou três residências na área baixa. “Eles sabiam que era um pessoal que precisava, porém, fizeram somente para quem foi mais viável para eles, e não para todos. Provavelmente, atingiram sua meta”, avalia.

Mas a nova realidade dos estudantes em casa reacendeu a busca por internet, então Sélia e sua cunhada Rutineia Reidel, 37, mãe da Katiele, retomaram a mobilização. “Agora já são nove casas certas que vão querer colocar internet”, revelou Sélia, ventilando a possibilidade de este número aumentar. E desta vez a empresa argumentou que são muitas residências, o que aumentaria seu investimento, pois seria necessário puxar a rede a partir de Campo do Meio, encarecendo o serviço ao cliente.
E nesta semana, sua segunda e última opção de prestador do serviço confirmou que também não pode atender a Linha Catarina.

Anatel explica que há interesse comercial e fala sobre novas regras para o meio rural
O Ibiá fez contato com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), questionado se acesso à comunicação é um direito e se há força de lei em favor do cidadão. A resposta foi a mesma que os moradores da Costa da Serra receberam no ano passado, que “o Serviço Móvel Pessoal (SMP, celular e banda larga móvel), o Serviço de Comunicação Multimídia (SCM, banda larga fixa) e o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC, TV por Assinatura), são prestados sob o regime privado, baseados nos princípios constitucionais da atividade econômica”.

Neste sistema, o atendimento pressupõe interesse comercial, no qual rege unicamente o plano de negócios e estratégia de atuação das prestadoras. Mas o órgão regulador ressaltou também que tem estabelecido obrigações de cobertura, tanto para a telefonia móvel quanto para acesso à Internet. Inclusive no próximo Edital de licitação de radiofrequências para o 5G vai impor novas obrigações de expansão do serviço móvel, atendendo localidades rurais e margens de rodovias.

Estas são denominadas “compromissos de abrangência”, divididos em: atendimento com Telefonia Móvel 2G e 3G, Móvel 4G e às Áreas Rurais. Entretanto, até o momento, a área de cobertura obrigatória para a telefonia móvel engloba somente da cidade. “É considerando atendido o município quando a área de cobertura contenha, pelo menos, 80% da área urbana do Distrito Sede”. Já localidades que estejam a até 30 km dos limites da sede são uma escolha ao atendimento de telefonia e internet fixos. “Os usuários devem solicitar o atendimento rural diretamente na prestadora”, finaliza.

Regra e números
-Todas as sedes de município devem ser atendidas com, pelos menos, tecnologia 3G; e todas as sedes de municípios com mais de 30.000 habitantes devem ser atendidas com, pelo menos, tecnologia 4G;
-Em maio deste ano, Montenegro contava com cerca de 14 mil acessos em banda larga fixa, 58 mil telefones móveis, 5 mil acessos de TV por assinatura e 8,2 mil telefones fixos.

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