Festa de 2019. Pomar dos Atkinson, na Fortaleza, cresce do capricho e do conhecimento
A conquista do jovem agricultor Lucas Henrique Atkinson foi poética: em primeiro, na primeira vez. Isso porque nunca antes o citricultor, de 24 anos, havia inscrito frutas em seu nome na mostra competitiva da Festa da Bergamota. A vitória da edição deste ano, ocorrida no final de semana de 20 e 21 de julho, sela a excelência das frutas produzidas por sua família desde a década de 70; no qual o segredo se resume a “capricho”.
Ledo engano imaginar que a melhor bergamota de 2019 é resultado de alguma técnica inovadora. Lucas reiterou que a produtividade nos pomares da Fortaleza é alcançada com zelo, mas também graças aos quase 50 anos de conhecimento acumulado em pelo pai Danilo, de 67 anos. Basicamente, é um conjunto de rotinas a ser seguido, como poda, limpeza, aplicação de defensivos, raleio (retirada das primeiras bergamotinhas verdes de cada safra) e adubação.

O pai começou e os filhos foram inovando o sistema, que inicia com o plantio das mudas. A exemplo dos demais produtores, os Atkinson compram suas mudas de viveiros. Como são semeadas na terra, é fundamental que sejam replantadas no pomar em menos de 24 horas, espalhando e “embarrando” as raízes na cova. “Se deixar ela secar, ela já sente um pouco”, explica. Assim, até hoje eles não perderam uma muda sequer.
“Cem por cento pega! É só saber plantar”, defende Lucas, alertando, porém, para o perigo de algum fenômeno climático drástico. O plantio dos novos pomares deve ser feito agora no Inverno, justamente para aproveitar o frio e umidade. Mas, se de forma anormal der seca ou calor, o risco de perda é grande. Se tudo correr bem, em três anos as novas árvores frutificarão.
Deixar o capim, podar e aplicar agrotóxico
Outra técnica, em especial nesta época de colheita, é manter entre o arvoredo, o capim Nabo Forrageiro. Ele protege o solo e vira adubo quando é roçado mas, principalmente, protege a fruta de um fungo que causa manchas na casca. Somente no Verão é feita capina total, devido à aparição de uma erva daninha que suga muitos nutrientes do solo. “Tem que tirar a concorrência”, brinca Lucas.
Assim que encerrar a colheita da Montenegrina, será realizada a poda; e em outubro, quando as primeiras pétalas das flores caírem, é hora da pulverização, repetida a cada 25 dias. A aplicação dos agrotóxicos tem sido a garantia da praga da “pinta preta” ter sido extirpada dos pomares da família.
Todas as frutas são de primeira
A forma como Lucas foi para a exposição é curiosa. Na manhã do sábado em que os produtores deveriam apresentar suas amostras, ele estava lavando frutas no paking. Então, sua esposa Grazieli pegou aleatoriamente algumas na máquina de polimento. Assim, concorrendo inclusive com o pai e o irmão Eduardo, conquistou o primeiro lugar.
Mas não é sorte. É comprovação de qualidade. “A bergamota que a gente manda para os clientes também tem que ser bonita”, declarou, ressaltando que nem teria tempo para sair pelo pomar fazendo uma seleção de frutas.
Hora também de cobranças
Qualquer conversa com agricultores de Montenegro acaba na pauta “situação das estradas”. É possível entender esta perturbação ao analisar os números de produção dos Atkinson, que caminha para superar 200 hectares plantados, produzindo duas mil toneladas (mais de 100 mil caixas) de citros por ano. Lucas assinala que, por semana, sai da propriedade ao menos um caminhão truck carregado, que precisa enfrentar a estrada entre Passo da Serra e Fortaleza até a RSC-287.
E há também outra forte reivindicação do setor, que diz respeito à emissão do Certificado Fitossanitário de Origem (CFO), obrigatório para a venda de alimentos para fora do Estado. Ao contrário de outros municípios, no Berço da Bergamota Montenegrina este custo é dos agricultores. “Só Montenegro que não tem, e que é o mais forte (na produção)”.