Tombamento será importante para automatização desta tradição
A comunidade de Costa da Serra quer tornar o badalar do sino da Igreja da Trindade um Patrimônio Histórico Imaterial de Montenegro. A iniciativa é enraizada no costume centenário de contar a passagem do tempo na localidade rural com base nas batidas que ressoavam do templo Luterano Evangélico. Mas há dois anos o silêncio tomou a torre, após o último sineiro cumprir sua missão.
Segundo Magnus Pilger, integrante da diretoria da Comunidade Luterana, com o tombamento será possível buscar recursos por meio de leis de inventivo cultural para tornar o processo automatizado. Orçamento realizado no ano passado apontou investimento de R$ 24 mil. “Gostaríamos que se mantivesse os horários tradicionais”, comentou, sem afastar a programação de “hora certa”, de hora em hora.
Para criar o primeiro Patrimônio Imaterial de Montenegro, foi elaborado o projeto “Sino da Integração – Uma marca no tempo”, financiado pela lei Paulo Gustavo, através da Secretaria Municipal de Cultura. O historiador Eduardo Kauer foi chamado para realizar a pesquisa, somando informações contidas em documentos com relatos de pessoas da comunidade. (veja entrevista no link)
Muita história em torno do badalar
A Igreja da Trindade teve início da construção entre 1907 e 1908, e Consagrada em 1949; mas já tinha o sino desde 1927, momento a partir do qual se tornou parte da vida dos moradores da Costa. Ele era tocado todos os dias às 11h30 e 18 horas, exceto em Sexta-feira Santa e Finados; além dos cultos e dias especiais, como no Kerb, em abril ou maio, e o aniversário da Comunidade Luterana em janeiro (criada em 1896).
Mas, durante as celebrações, dias de festa e anúncios fúnebres, a rotina de seu badalar ainda está mantida. “Esse toque lembrava os agricultores o horário de voltar para casa ou de começar os trabalhos. Os moradores se guiavam pelo som, e como a torre estava numa posição privilegiada, podia ser ouvia a grandes distâncias”, lembra Kauer.
Quando alguém falecia, comenta, a batida específica anunciava o luto da família, e os moradores acorriam para saber quem havia morrido. Representava na época (Século XX) a forma mais rápida e prática de comunicar uma perda. O historiador lembra que era tocado também no Ano Novo, o que criou uma celebração. Segundo Kauer, o anúncio da meia-noite reunia uma pequena multidão, muitos trazendo caixas de cerveja, só para ouvir o toque do sino.

Projeto em andamento
A secretária de Cultura, Turismo e Desporto, Dani Boos, informa que o projeto está na fase de estudo dos patrimônios materiais, no caso, o inventário, e depois se fará o inventário dos imateriais. Ela não deu prazo para conclusão, revelando contato com o IPhae (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico RS) para mais encaminhamentos.