Chuva chegou em boa hora para a piscicultura

INTERIOR. Emater lançou relatório de orientações diante da perda de peixes

Este verão de constantes e elevadas temperaturas do ar e da água tem preocupado os piscicultores que, diante das perdas, se socorreram da Emater/RS Ascar. Inclusive, o Escritório Regional de Lajeado anota relatos de mortandade de peixes em municípios de sua área. Já o escritório de Montenegro ainda não tem registros desta natureza. Isso porque, conforme seu coordenador, Everaldo Vinicius da Silva, não faltou água ao ponto de chegar nessas consequências. “Não soube de nenhum produtor que teve agravada redução da qualidade da água em função da seca dos últimos dias”, garantiu.

Por outro lado, o presidente da Associação Montenegrina de Piscicultores, Nelson Zanetta, revelou nesta quarta-feira, dia 22, que ao menos um dos associados perdeu 200 quilos de peixe. O fato ocorreu entre dezembro e janeiro, na localidade do Morro Montenegro, onde um dos açudes naquela propriedade teve baixa oxigenação.

Diante dos sinais de uma seca prolongada, o próprio presidente optou em não recolocar alevinos (filhotes) após retirar peixes adultos entre novembro e dezembro. E para não perder aqueles em criação, Zanetta precisou transferir água de açudes vazios para manter o nível dos outros. “Batalhei muito para manter eles vivos”, ilustrou.

Outro que saiu no prejuízo foi o agricultor Demenciano Padilha, que perdeu cerca de 30 Carpas em sua propriedade no Assentamento 22 de Novembro, no Zootecnia. “Um açude deu problema. Pouca água e falta de oxigênio”, explicou. A situação foi contornada, e ele afirma que nos outros cinco açudes está tudo bem.

Zanetta aposta que o retorno da chuva, com previsão de que se mantenha nos próximos dias, deverá proporcionar que tudo volte ao normal. Mas, acima da elevação no nível dos açudes, o presidente saúda mesmo é a queda da temperatura, especialmente à noite. Entretanto, se esta estiagem severa persistir, os criadores terão trabalho para manter os peixes adultos que ofertarão na Semana Santa. Hoje, a projeção é de a mesma quantidade, porém com peixes menores.

Terá peixes para a Páscoa, todavia serão menores

Emater lança relatório técnico
Diante do problema real na maioria dos municípios da Regional Lajeado, o assistente técnico na área de Piscicultura, João Alfredo de Oliveira Sampaio, elaborou um relatório com orientações. Todavia, ao Ibiá ele declarou que as últimas chuvas, a princípio, todos os problemas estão resolvidos. Também observou que a mortandade ocorreu em açudes que já tinham problema na qualidade da água, o que é um pré-requisito para novas crises muito maior do que uma nova estiagem.

Seu relatório inicia explicando que peixes são “Termoconformadores”, ou seja, regulam seu metabolismo conforme a temperatura ambiente. E cada espécie tem aquele em que organismo funciona melhor, a chamada de ‘temperatura ótima’, cuja exposição acima ou abaixo dela reduz seu crescimento.
E o calor, em muitos casos, pode levar à morte. Isso porque águas com temperaturas muito elevadas trazem dificuldade ao processo de digestão, com redução da capacidade de absorver os nutrientes. “A temperatura da água afeta aos peixes de maneira positiva quando se encontra dentro da faixa ideal de cada espécie; e é negativa quando se encontra fora”, reitera Sampaio.

Em seu relatório, o técnico destaca especialmente Carpas, Tilápias, Jundiás, Lambaris e as Traíras, que são os mais criados nos açudes da agricultura familiar da região. Segundo ele, de modo geral, estes ‘peixes de cultivo’ apresentam o melhor desempenho quando estão entre 24 a 28 graus.

Há ações possíveis de serem aplicadas pelo agricultor
A sugestão de Sampaio aos produtores é que criem seus peixes em ‘águas verdes’, observando a transparência. Quando é possível enxergar a 30 centímetros de profundidade quer dizer que a água pode manter os peixes em uma proporção de, no máximo, um quilo por metro quadrado de superfície de viveiro, considerando que tenha uma profundidade média de 1,2 metros.

Quando esta transparência estiver menor que 30 cm, o produtor deverá trocar a água ou retirar uma parte dos peixes. Alternativa é adsorção de oxigênio com utilização de choque mecânico de água com água (com bomba); ou reduzir a alimentação ao mínimo, ou inclusive combinar estas duas ações. Caso contrário, há risco de faltar oxigênio livre durante a noite, que ao chegar em menos de 1,5 mg/litro dá início a mortalidade.

Água quente tem menor oxigênio e afeta também a alimentação
O fator é bem simples. Quando está muito quente, os peixes necessitam uma maior quantidade de ‘oxigênio dissolvido’. E o mesmo calor acelera reações de decomposição, sendo que o excesso de matéria orgânica em fermentação nos açudes consome mais oxigênio. A velocidade das reações químicas dobra ou triplica para cada 10 graus de aumento, elevando o consumo do “oxigênio dissolvido” (livre).

Mas acontece que é somente este que os peixes conseguem respirar (a molécula de água possui um oxigênio ligado a dois hidrogênios – H²O – e é muito forte para ser quebrada). Já o oxigênio livre é produzido, principalmente, pelas Algas Verdes, que durante o dia transformam nutrientes químicos da água em energia (Fotossíntese). Esta reação, sob luz do sol, libera oxigênio em concentração ideal de 5 a 8 mg/litro.

Mas quando a temperatura ultrapassa os 28 graus centígrados na água, este equilíbrio fica desajustado e falta oxigênio durante a noite. O comportamento dos peixes neste caso é típico. Em primeiro lugar, imediatamente suspendem a alimentação. E se o produtor não souber observar, dando mais alimento do que os peixes comem, a sobra gerará mais material orgânico, que vai decompor e gastar ainda mais o oxigênio.

Problema também com a aceleração da digestão. O peixe chega ao ponto de ingerir o alimento tão rápido que inicia o processo, mas sem tempo de absorver os nutrientes, ficando fraco.

Observação do Ph da água
O Ph da água para as espécies criadas deve ficar em torno de 7,0. É recomendada a leitura a cada 15 dias como forma de saber se há necessidade de correção. Caso esteja abaixo de 7,0, usa-se 30 gramas de calcário do tipo ‘Füller’ por metro quadrado de viveiro, repetindo esta dosagem a cada leitura que der resultado abaixo de Ph 7,0.

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