FATAL. Fenômeno climático depende da combinação de quatro fatores
Os dias de frio intenso – neste que será o inverno mais rigoroso no Sul do país em anos – geram na Agricultura o medo da chamada “geada negra”. Está versão severa do fenômeno climático causa danos graves nas plantas, sobretudo as hortaliças; mas pode afetar também aquelas de maior porte, como pés de citros. Um alerta que cresce diante da previsão da geada retornar ao Vale do Caí no início da próxima semana.
Nesta semana, o Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), modelo preditivo da Secretaria de Agricultura do Estado, capaz de gerar índice de geada, mostra condição de “moderada a forte” na região. O meteorologista Flavio Varone, coordenador deste modelo, explica que a massa de ar frio será persistente, interrompida brevemente pela chuva a partir desta quinta-feira, dia 26. “No início da próxima semana voltará o ar frio, então pode ter geada novamente”, confirma.
Todavia, ele observa que ainda é cedo para afirmar se será “negra” ou comum. “Precisa ter toda a combinação perfeita de vento forte e massa de ar frio”, explica. Varone observa ainda a hipótese de ocorrência desta em áreas muito isoladas, caso a condição climática pré-dominar, reiterando a previsão pelo Simagro.
Em relação a plantas menores, certamente haverá perdas, inclusive por que hortaliças sem proteção são sensíveis até mesmo a uma geada comum. A mortandade de plantas maiores também não pode ser descartada, afirma o meteorologista, ao recordar do evento ocorrido no Paraná em 1975, que dizimou vários hectares de cafezais.
Flavio Varone explica que uma geada pode ser fraca, moderada ou forte, todas com efeitos na lavoura. Aquela mais comum ocorre no congelamento direto do vapor d’água na superfície da planta. Mas a versão mortal, ao contrário, atinge o interior da planta, ou seja, ela congela a seiva da planta. A condição climática para sua ocorrência é a combinação entre noites de pouca umidade, vento, céu aberto e temperatura baixa, sendo estes os aspectos de alerta ao produtor.
Estudo enviado pela Regional Lajeado da Emater-Ascar/RS descreve que “na ausência de ventos, o ar frio ‘escorre’ encosta abaixo como se fosse água, acumulando-se no fundo de vales ou bacias”. Assim, culturas plantadas nas partes baixas do terreno estão sujeitas às geadas, devido a esse tipo de bolsa de ar frio. “Ela causa danos irreparáveis na planta, e praticamente liquida com uma lavoura, se for de alta intensidade, em função de congelar a parte interna da planta”, reforça Varone.
Prevenção e pós-geada
Há medidas preventivas que podem ser adotadas pelo agricultor para mitigar esses efeitos danosos. A primeira é evitar plantar em áreas mais baixas ou vales, porque o ar frio é mais pesado, então acumula e ficar por mais tempo nestes pontos. Alternativa também é usar cobertura, como as telas de sombrite, lona ou plástico. “Assim protege direto do contato com o gelo, e muda a temperatura daquele ambiente.
Outra ferramenta é a irrigação por aspersão. Varone explica que jogar água sobre as plantas também mantém a temperatura mais estável. Entre outros vários manejos está a vegetação densa e alta ao redor da lavoura; fazer corredores onde o ar frio pode passar; no momento que geada está ocorrendo pode ainda ser feito o aquecimento da área com fontes de calor, como alguns queimadores com serragem ou óleo
Um estudo da Cepagri/Unicamp – fonte da Emater – recomenda “manter a encosta livre de mato e o solo uniforme permitindo assim que o ar frio passe livremente, sem danificar a plantação”. O texto explica que nessas condições as plantas perdem calor, passando a “fabricar” mais ar frio, que se acumula nas partes baixas.
Assim, eliminação de vegetação rasteira (grama, capim, restos) em áreas acima da cultura desfavorece a formação de geadas; enquanto uso de cobertura morta nesta época tem efeito contrário. “Para após a ocorrência se recomenda a poda, para remover esses tecidos mais danificados e estimular desenvolvimento de novos brotos, e adubação”, finaliza Varone.