Localizado na rua Santos Dumont, em uma casa, o local tem agenda de atividades, biblioteca e armário de trocas
Um espaço de política, de ações comunitárias, retornando aos princípios básicos da filosofia, com trabalho em grupo e solidariedade. Assim é a proposta do Espaço Comunitário Vale do Caí, localizado na rua Santos Dumont. Inaugurado em março deste ano, ele é uma iniciativa de um deputado estadual, a partir das necessidades listadas por Ezequiel Souza, militante montenegrino, aluno da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e integrante da assessoria do político.
O local tem diversas atividades ministradas durante a semana e é um convite à comunidade montenegrina que busca pesquisa, troca de experiências e acolhimento. “Na época em que assessorava o vereador Tuco, um projeto que eu chamava de Casa da Cidadania era desenvolvido por ele. Depois que a proposta encerrou, senti a necessidade de continuar algo parecido na cidade, pois traz retorno à comunidade. E a possibilidade veio quando fui convidado para integrar a equipe do deputado”, explica Ezequiel.
Militante há 15 anos, ele afirma que o ambiente politizado, fértil e com troca de vivências tem como principal objetivo desenvolver a consciência política das pessoas. “Principalmente da juventude. É uma nova forma de fazer política, embasada nos princípios filosóficos com trabalho em grupo, com solidariedade, troca de experiências, do se enxergar no outro, desenvolvendo a empatia e apostando em ações sustentáveis”, salienta o jovem montenegrino.
O estudante, que também é coordenador do local, destaca a importância do Espaço para movimentos como o LGBTT, de negritude e feminista. “Todos esses grupos, prejudicados por um sistema eurocentrista, patriarcal e machista, não têm espaço de manifestação. A partir do momento em que se cruzam e se relacionam socialmente, militando em um local em comum, inicia uma nova forma de política”, enaltece.
Biblioteca Paulo Freire
Com vários cômodos, a casa onde funciona o Espaço Comunitário possui sala de reuniões, cozinha, horta coletiva, recepção e até ambiente acarpetado para ensaios artísticos. E para incentivar ainda mais a fertilidade intelectual, há a biblioteca Paulo Freire.
Com diversos exemplares de autores como Freire, Piaget e Cecília Meireles, e boas acomodações para leitura, com colchões pelo chão, almofadas coloridas e muito silêncio, a sala é disponível a todos que querem dedicar um tempo aos livros, mas não possuem ambiente apropriado.
“Já que, infelizmente, nossa biblioteca está localizada longe do centro da cidade. Temos uma agenda de cadastro, onde as obras podem ser retiradas, sem prazo de devolução. A pessoa pode optar por levar para casa ou realizar a leitura aqui mesmo. É só chegar”, diz o estudante.
Local para ensaios
Daiani Fiori Fernandes, 22 anos, veio de São Paulo para estudar Dança na Uergs. Assim como ela, segundo Ezequiel, muitos estudantes da instituição utilizam o local para pesquisa, ensaios e desenvolvimento de atividades artísticas. Praticando em uma das salas do Espaço, a aluna relata que há quatro meses frequenta o Espaço Comunitário. “É maravilhoso. Mesmo a Uergs tendo vínculo com a Fundarte, às vezes fica difícil conseguir sala para ensaiar, porque há aulas acontecendo. Aqui é tranquilo, adequado para a imersão necessária ao estudo”, destaca.
Outros locais, como a Estação Ferroviária, Daiani ressalta serem mais burocráticas na disponibilização de seus espaços. “Aqui tem horários flexíveis. É um lugar de lazer e arte”, define.
Horta comunitária
Couve, repolho, batata doce, moranga, tomate, cenoura, espinafre e rúcula. Não, não estamos falando de um mercado de hortifruti, mas da horta comunitária conservada na parte de trás do Espaço Vale do Caí. Para quem gosta de chás e temperos, também há muitas qualidades plantadas na hortinha. As plantas são usadas também nos almoços coletivos. “Realizamos, normalmente uma vez por semana, o almoço nutritivo na nossa cozinha comunitária. É uma proposta de refeição saudável e sustentável com os insumos colhidos aqui. Abrimos geralmente oito vagas, com o custo de R$5,00 por pessoa”, relata Ezequiel.
A cozinha, segundo ele, também fica à disposição durante a semana para quem estiver pelo Centro e precise esquentar seu almoço ou sentar tranquilamente. “E nos dias de reunião, fazemos o Open Chá, com as plantas que cultivamos”, destaca.
Armário do troca-troca
O armário do troca-troca também faz sucesso. Com diversas peças de roupas e sapatos, a simbologia do móvel é de sustentabilidade, em um sistema que incentiva a troca e consumo consciente. “Você vem, traz uma peça sua e troca por outra de seu interesse”, afirma Ezequiel.
O roupeiro é cheio de sapatos, blusas, camisas, calças e figurinos. “E uma vez por mês tiramos todas as roupas para o evento de troca. Esse é um momento legal, de interação com a sociedade. Nas últimas edições, nos surpreendemos com a adesão. No início, a maioria das pessoas frequentadoras do Espaço eram os estudantes da Uergs. Hoje já noto que o público montenegrino está ocupando também”, destaca.