Então é Natal. Mas, o que esta data simboliza para você?

O Brasil tem em seu calendário o dia 25 de dezembro dedicado ao Natal. Igrejas Ortodoxas seguem o calendário Juliano, celebrando a festividade no dia 6 ou 7 de janeiro. Mas o que é Natal? Como surgiu? Por que se usa tantos objetos, como pinheirinho e enfeites? Para os cristãos, são símbolos da vinda de Jesus, o salvador de seus seguidores.

O teólogo Eduardo aponta que o Cristianismo readaptou cultos antigos

Contudo, existem registros indicando que, desde a Antiguidade, rituais e sacrifícios eram realizados para comemorar as passagens dos solstícios de verão e inverno. O teólogo Eduardo Kauer, de 47 anos, conta que muito antes do estabelecimento do Natal cristão, havia a celebração européia ao retorno do sol e ao renascimento da natureza, que acontece nesta época do ano no hemisfério Norte. “Na Roma antiga, a Saturnália era a festa celebrada ao deus Saturno (ou deus Sol), que era festejada de 17 a 24 de dezembro. No evento, havia trocas de presentes e refeições entre amigos e familiares em honra a sua divindade”, explica.

Estas festas eram cultos ao deus Saturno, com a intenção de assegurar a vitalidade do novo ano. Com o reinado de Aureliano (270-275), os romanos celebravam o prolongamento dos dias, chamado Sol Invicto, que também marcava o início do novo ano. “Para eles, era uma grande festa, pois havia um período de muito frio, neve e dias mais curtos. Então a chegada de dias mais longos e de mais calor trazia também a alegria ao povo, que expressava sua gratidão e esperança desta forma”, comenta.

Em 354, a festa da Natividade (do nascimento) foi comemorada pela primeira vez em Roma, sugerida pelo Papa Liberius. Sabem em que dia? 25 de dezembro. Em 506, o Concílio de Agde fez do Natal um dia obrigatório e, em 529, o imperador Justiniano o oficializou como feriado nacional. A Missa do Galo, tradição ainda existente, passou a acontecer no século V, sob o pontificado do Papa Gregório, o Grande.

Eduardo aponta que, no século XII, a celebração religiosa foi acompanhada de encenações teatrais, que representavam simbolicamente o nascimento de Jesus e a chegada dos reis magos. “Assim surgiu a tradição dos presépios para o Natal, que também é muito atual dentro e fora dos templos cristãos”, comenta. O único problema é quando a encenação acrescentava trechos não encontrados na Bíblia, com a quantidade de magos que levaram os três presentes a Jesus, que por sinal estava em uma casa, conforme o texto de Mateus 2.1-11.

Tendo em consideração a celebração da vinda de Jesus, o Natal é considerado uma festa cristã. No entanto, a Bíblia, livro usado principalmente pelas denominações cristãs, não apresenta nenhum texto que confirme a data exata do nascimento do maior líder da religião. Foi a Igreja Católica Romana que, entre os séculos III e IV, determinou a data no dia 25 de dezembro. Eduardo acredita que esta decisão foi estratégica para a época. “Era necessária uma data e houve então uma transição de datas pagãs, celebradas no mesmo tempo que as cristãs”, diz. Dessa forma, o povo manteve suas festividades originais, com uma readaptação de seus sentidos cultuais.

Natal é vitalidade, união e comemoração

Padre Diego acredita que imagens, como a do Papai Noel e a do pinheiro, podem auxiliar na compreensão do que é o Natal

Para o padre Diego Knecht, de 30 anos, o Natal é uma época de comemoração do nascimento de Jesus e celebração entre os familiares. Ele reconhece que a Bíblia não descreve a data de nascimento de Jesus, mas afirma que é essencial ter um dia em que se relembre a sua vinda. “Foi uma data estabelecida pela Igreja, para que nós tivéssemos um dia específico para essa comemoração, por que a vinda de Jesus é a confirmação de que Deus quer estar próximo de seu povo”, comenta.

Para ele, os símbolos utilizados atualmente (presépio, pinheirinho, o Papai Noel, etc.) auxiliam para a compreensão da festividade entre os fiéis. “A tradição do pinheiro, por exemplo, representa para nós a vitalidade, pois no inverno rigoroso do hemisfério Norte essa é a única árvore que continua verde. Então, tem sim um significado especial, mas a celebração é centrada na vinda de Jesus, o ungido de Deus, ao mundo”, explica.

Papai Noel representaria o bispo Nicolau, conhecido por sua bondade

A respeito do Papai Noel, figura que aparece muito principalmente no comércio, também é um personagem aceitável na Igreja Católica. De acordo com Diego, o “bom velhinho” é um personagem que faz memória ao bispo Nicolau, lembrado por suas boas ações e pela distribuição de presentes às crianças.
“Temos a imagem de que ele era um bom velinho, que saía com presentes para distribuir à criançada. Mas é um exemplo de como devemos ser e não pode ser mais exaltado do que o verdadeiro motivo do Natal, que é festejar a vinda de Jesus ao mundo”, comenta.

CURIOSIDADES
*Jeremias 10.3-4 aponta o conselho de Jeremias quanto à prática de cortar uma árvore e levá-la para dentro de casa.

* Na cultura Egípcia, acredita-se que Hórus, o filho de Isis (nome egípcio que indica a “Rainha do Céu” destacado em Jeremias 44), nasceu em 25 de dezembro.

* Durante os três primeiros séculos, depois de Cristo, não há registros de celebração do Natal pelos cristãos.

*Na Bíblia, não há instruções para relembrar o nascimento de Jesus com festividades ou cultos. Porém a sua morte, sim: em 1 Corintios 11.24-26 consta: “Tomou o pão e, havendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é o novo pacto no meu sangue; fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estarei anunciando a morte do Senhor, até que ele venha.”

*Em nenhum momento é dito quantos magos presentearam a Jesus, depois de seu nascimento. A passagem que narra a história é Mateus 2.1-11, que, em resumo, diz que uns magos lhe presentearam com ouro, incenso e mirra. Três presentes de dois, três, dez ou até mesmo vinte magos: o número exato não foi testificado.

* No Judaísmo, ao invés de Natal, come mora-se nessa época o dia de Chanucá ou Hanukkah, a Festa das Luzes. Na verdade, são vários dias de celebração. A cada noite, é acesa uma das nove velas de um candelabro especial. Entre as famílias, o costume é brincar com um peão que tem gravadas letras hebraicas. A família se diverte brincando de adivinhar qual é a letra que fica pra cima quando ele para.

*Os muçulmanos não comemoram o Natal. Para eles, existem apenas duas festas religiosas: o Eid El Fitr, que é a comemoração após o término do mês de jejum (o Ramadan) e o Eid Al Adha, quando comemoram a obediência de Abraão a Deus (história descrita em Gênesis).

*Os budistas consideram Jesus Cristo como um “Bodhisattva” (Santo), entretanto não celebram o Natal.

Observação – As passagens bíblicas citadas na matéria foram da versão Almeida Revista e Atualizada. Outras versões podem conter palavras diferentes, porém o comprometimento com com o texto continua o mesmo.

Cultos e tradições foram introduzidas no Natal cristão

Pastor Daniel afirma que a mensagem a ser passada deve ser a da salvação

Para o pastor Daniel Guedes, de 53 anos, da Igreja Batista, lembrar do nascimento de Jesus Cristo é muito importante. Entretanto afirma que o auge da alegria de um discípulo dele está no reconhecimento de ser salvo, por meio da sua crucificação. A Bíblia testifica que Deus enviou seu filho unigênito (único) para que, por meio de sua morte, e posteriormente ressurreição, todo aquele que nele cresse e aceitasse seu senhorio fosse salvo. “Então acabamos comemorando o Natal, lembrando das profecias, do nascimento, mas também da crucificação e ressurreição de Jesus. A Palavra só foi cumprida quando a profecia foi consumada, lá na cruz”, explica.

Daniel observa que cultos antigos, feitos a outras entidades espirituais, foram readaptados e fazem parte de muitas denominações cristãs. Ele cita como exemplo a relação entre a árvore de Natal, o pinheirinho, e Ninrode, o primeiro homem poderoso descrito na Bíblia. “Ele era filho de Cuxe, neto de Cam e bisneto de Noé. Foi, provavelmente, sob o seu comando que se iniciou a construção de Babel e da sua torre”, comenta.

Ninrode aparece em Gênesis 10 e em 1 Crônicas 1 e é responsável por transformar seu espaço, defendendo a opinião de que a única maneira de afastar os homens do temor a Deus era fazê-los dependentes do seu próprio poder. O pastor lembra que Ninrode ficou conhecido por ter ameaçado vingar-se de Deus, se ele quisesse novamente inundar a terra (referindo-se ao dilúvio, descrito em Gênesis do capítulo 6 ao 9), porque construiria uma torre alta em Babel, que não poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados.

“Além de ser muito perverso, Ninrode foi tão desviado do caminho de Deus que casou-se com sua própria mãe, Semíramis. Depois de sua morte, ela propagou a doutrina maligna da sobrevivência de Ninrode como um ente espiritual, alegando que um grande pinheiro havia crescido da noite para o dia, de um pedaço de árvore morta, que simbolizava o desabrochar da morte de Ninrode para uma nova vida”, conta Daniel. Todo ano, no dia do aniversário de Ninrode, que é datada como 25 de dezembro, Sermíramis alegava que Ninrode visitava a árvore sempre viva e deixava presentes nela. Ninrode foi o fundador de Babel, que deu origem à grande Babilônia mais tarde, nação que também dominou e levou cativo o povo de Israel, região do Iraque atualmente.

A história babilônica descreve ainda que quando Ninrode morreu, Semíramis estava grávida e, quando deu a luz, o chamou de Tamuz. Ela acreditava que esse filho era a reencarnação de Ninrode e, inspirada na profecia de Gênesis 3.15, atribui ao menino o título de Salvador. Com a morte de Tamuz, criou-se a lenda de que Semíramis reunia as mulheres e juntas jejuavam por Tamuz, e depois de 40 dias de jejum e clamores, Tamuz voltava à vida e Semíramis era adorada como a doadora da vida.

Além dos documentos babilônicas, a Bíblia, na passagem de Ezequiel 8, descreve exatamente o mesmo culto a Tamuz, com jejum e pranto. Desenvolveu-se na Babilônia, uma religião do “culto à mãe com a criança”, em que a mãe era adorada, pois trouxe o filho à vida novamente; o poder era dela. Essa religião foi levada pelos fenícios, porém sem os nomes originais.

Entre tantas afirmações e crenças, a mensagem que o pastor Daniel acredita que deva ser passada nessa época do ano é a da salvação. “Jesus nos mostrou o caminho de volta para Deus, de tal maneira que todos os pensamentos, sentimentos, ações e reações nos levem a experimentar verdadeiramente o Deus conosco, e a certeza de uma eternidade possível”, comenta.

Alguns símbolos e as crenças por trás deles:
Presépio:
O presépio é o único símbolo natalino com base nos Evangelhos. Em geral, ele é a reprodução simbólica do cenário onde Jesus Cristo nasceu, desde que siga a descrição sem alterações, é claro. Geralmente ele apresenta Jesus, como recém nascido, seus pais, José e Maria, os magos e alguns animais

Pinheiro:
Os pinheiros são as únicas árvores que mantêm suas folhas mesmo no inverno. Quem o utiliza dentro de casa, defende que ele representa, no Natal, a esperança, a alegria e a mudança. No entanto, como já citado, também é reconhecido como um culto a Ninrode, um homem bíblico que se rebelou contra as leis de Deus, casando-se com sua própria mãe.

Bolas de Natal:
Atualmente, as bolinhas que enfeitam o pinheirinho são vistas como meros enfeites, sem muito significado. Porém há a defesa de que elas representam os frutos da vida humana e seus desejos, como amor, esperança, perdão e alegria. Há também a afirmação de que as bolinhas tiveram origem durante os cultos a Baal, descritos no Antigo Testamento da Bíblia. A árvore era um elemento fundamental ao culto e a ela oferecia-se sacrifícios humanos, de crianças meninas, que, após serem mortas, tinham suas cabeças decepadas e penduradas na árvore. Quanto maior fosse o número de cabeças penduradas, maior e mais importante era o sacrifício. Em 2002, uma foto do festival Gajan repercutiu na internet, com crânios pendurados em galhos de uma árvore, em culto a Shiva, pela religião/seita Tântrica.

Coroa de Advento: Em geral, a Coroa de Avento consiste em um círculo envolto em ramos verdes que sustenta quatro velas que simbolizam a espera pela vinda de Jesus. Nas quatro semanas que precedem o Natal, o objeto fica exposto em algumas igrejas, em pontos de destaque.

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