Enchente avança e atinge bairros e vias centrais de Montenegro

Ginásio Azulão abriga moradores que tiveram que deixar as suas casas

Montenegro voltou a viver, nesta semana, o medo que ainda ecoava das enchentes do ano passado. Após atingir a cota de inundação (6 metros) na tarde de quarta-feira, 18, o nível do Rio Caí seguiu em elevação, invadindo ruas e forçando a retirada de famílias em diversos bairros. No início da tarde de quinta-feira, a régua oficial do Serviço Geológico do Brasil (SACE-CPRM) já apontava o rio acima de 7,5 metros, provocando bloqueios em várias ruas e a ocupação de abrigos públicos.

Os bairros Industrial, Ferroviário, Municipal, Centro e Olaria foram os primeiros atingidos — repetindo o roteiro de um ano atrás. Na manhã de quinta, a água já havia invadido pontos como a rua Tobjorn Weibull, nas imediações da empresa Tanac, onde o trânsito foi interrompido. A Avenida Ivan Zimmer teve passagem restrita até a esquina com a rua Coronel Apolinário de Moraes, sendo bloqueada no trecho seguinte, denominado Fernando Ferrari, devido à presença da água sobre a pista.

No início da tarde, o alagamento já chegava à esquina da Olavo Bilac com Menino Deus, no Ferroviário.

Moradores que resistiam em suas casas foram surpreendidos pela velocidade da subida e correram para salvar o que podiam.

No Ferroviário, água já atingia a esquina da rua Olavo Bilac com a Menino Deus na tarde dessa quinta-feira

Famílias buscam abrigo no Ginásio Azulão

Famílias de desabrigados começaram a chegar no Ginásio Azulão ainda na quarta-feira

Com o avanço da enchente, a estrutura de acolhimento da Prefeitura foi rapidamente montada. O Ginásio Azulão, no Parque Centenário, passou a receber as famílias desalojadas ainda na noite de quarta-feira. Até a tarde de quinta, ao menos 60 pessoas já estavam abrigadas no local, entre crianças, adultos e idosos.

Coordenadora do espaço, Simone Dresch explica que o atendimento é feito em parceria com equipes de Assistência Social e Saúde. “As pessoas passam por cadastro, identificamos suas necessidades e oferecemos todas as refeições básicas, além de apoio com medicamentos e outras demandas”, relata.

“Temos também apoio da Secretaria do Meio Ambiente, que está cuidando dos animais trazidos por algumas famílias. Atualmente, temos cerca de 12 bichinhos aqui com seus tutores”, complementa.

Para quem não pôde levar os animais, um abrigo alternativo foi montado na antiga Delegacia, na rua José Luiz, onde voluntários cuidam dos pets até o retorno dos tutores para casa. O acesso ao abrigo pode ser feito com ajuda da Defesa Civil, pelo número 193 ou 3632-4784. “Muitos saíram com o que deu para carregar e estão apenas esperando. Não há previsão de retorno para casa enquanto o clima não melhorar e o nível do rio não baixar”, afirma Simone.

Na tarde de quinta, ao menos 60 pessoas já estavam abrigadas
Na tarde de quinta, ao menos 60 pessoas já estavam abrigadas no Ginásio Azulão

O medo de perder tudo na enchente

Moradora do Olaria, Suzana foi uma das primeiras a buscar o abrigo no Azulão

Aos 50 anos, Suzana Ignácio foi uma das primeiras a buscar o abrigo no Azulão. Moradora do bairro Olaria, ela saiu de casa às duas da madrugada de quinta-feira, por precaução. “A água já estava beirando o pátio. Com as crianças em casa, principalmente minha netinha de um mês, não dava para esperar. No ano passado perdemos tudo, agora preferimos sair antes”, relata.

Ela vive com três netos e relembra que os móveis foram erguidos rapidamente antes da saída. “A gente ficou com medo. O que temos hoje foi tudo doado depois da última enchente. Ver isso acontecer de novo, do mesmo jeito, é horrível. Parece um pesadelo que não acaba”, diz emocionada.

Maria Bernadete deixou sua casa no Municipal ainda na tarde de quarta-feira com medo do avanço da água

Maria Bernadete, de 61 anos, moradora do bairro Municipal, decidiu deixar a sua residência ainda na tarde de quarta. “Levantei tudo o que pude e vim para o ginásio. Lá em casa é um dos primeiros lugares a alagar e um dos últimos a baixar a água. A gente tem medo, porque no ano passado foi terrível. Ainda não me recuperei daquela enchente, e agora estamos de novo na mesma situação. É uma angústia viver isso outra vez, e todo mundo aqui sente o mesmo”, relata. Na sua casa vivem ela e dois filhos, um deles com deficiência. A filha mora na casa ao lado. “A enchente não destrói só as coisas, ela destrói nossa tranquilidade”, resume.

Moradores retiraram o que puderam de suas casas antes da água subir ainda mais

Rio ainda deve subir

Em entrevista ao Ibiá na tarde dessa quinta-feira, o prefeito Gustavo Zanatta atualizou a população sobre a situação do município. “Temos monitoramento de hora em hora, com dados do CPRM. A equipe técnica analisa o avanço da água nos bairros mais críticos, como Industrial, Olaria e Ferroviário”, afirmou.

O prefeito lembrou que, desde o dia anterior, o Município já orientava os moradores a retirarem móveis e se prepararem para uma possível evacuação. “Temos mais de 90 pessoas abrigadas entre o Ginásio Azulão e o Casulo Recreo. E para quem deseja apenas retirar bens, disponibilizamos o ginásio da Cinco de Maio para guardar os pertences temporariamente”, informou.

Zanatta explicou que o ritmo de elevação do rio vinha diminuindo: de 14 cm por hora caiu para 11 e, depois, para 5 cm. “Ainda temos água represada que vem de outras cidades da região, como Feliz e Bom Princípio, além da contribuição do Rio Cadeia, que se junta ao Caí. Isso pode fazer com que a enchente avance mais alguns centímetros”, afirmou.

A Defesa Civil Estadual confirmou a tendência de elevação em praticamente todas as bacias do Rio Grande do Sul. Com chuvas intensas nos últimos dias, os rios Ibicuí, Jacuí, Taquari-Antas e Caí atingiram cotas de inundação, colocando diversas cidades em estado de alerta. Para Montenegro, ainda não se pode prever com segurança quando o nível do Caí vai estabilizar e começará a baixar.

Com a ajuda de barco, moradores retiraram seus pertences de casa

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