De Campo do Meio para a Bienal do Mercosul

Arte. Itelvino Jahn foi convidado a expor 5 obras em Porto Alegre

Itelvino Jahn nasceu no ambiente rural de Campo do Meio, interior de Montenegro, onde a vida simples permitiu despertar uma sensibilidade criativa. “Desde criança, eu observava e gostava de alguns detalhes da natureza, que são curvas, movimentos”, descreve.

Hoje, aos 66 anos e da mesma comunidade da família de agricultores, sua arte no estilo orgânica chegou às galerias e acervos particulares de todo o Brasil; culminando no convite para expor no maior evento do continente. O montenegrino está entre os 77 artistas nacionais e internacionais selecionados pela curadoria da 14ª Bienal do Mercosul, expostos em 88 locais (estalos) pela Capital até dia 1º de junho. Essa é uma honra para o escultor, e também à cidade que jamais deixou pra trás.

Há uma escultura dentro do esqueleto da árvore, que seguirá viva pelas mãos do artista

Passando os olhos pelo atelier, o leigo vê inúmeros pedaços de árvores que tombaram e lenha cortada. Para o artista, são esculturas esperando serem desvendadas com seu trabalho manual guiado pelas formas pré-existentes. O instinto de observar do menino, que se encantava com formas, curvas e imperfeições, das raízes as copas, foi aprimorado à medida que o autodidata submergiu no conhecimento das artes plásticas.

“Mas a minha grande paixão ainda é observar e ficar pensando naquilo que a natureza nos põe”, declama. Mas antes de se firmar no cenário cultural brasileiro, o montenegrino viveu incertezas. Ele se achava “estranho” por apreciar beleza e reconhecer mensagem naquelas formas brutas, banais aos demais.
Seu norte surgiu ao conhecer o trabalho de Frans Kracjberg (1921-2017), um judeu polonês que fugiu do holocausto e se refugiou no Brasil, em 1948. Este homem havia levado sua arte orgânica, com ativismo ecológico, de Nova Viçosa, na Bahia, para o mundo. Então montenegrino soube que não estava sozinho.

Arte de Itelvino surge da contemplação e do diálogo com a peça de madeira bruta

Em contemplação, dialoga com a madeira

A escultura orgânica pode se revelar já no ato do resgate de uma árvore tombada, com o primeiro olhar do artista nas formas que se impõem. Mas é no atelier que inicia o “diálogo” entre artista e matéria-prima, com as mãos sendo guiadas pelas ranhuras, nós e feridas da madeira. A peça está ali dentro, e o escultor precisa trazê-la pra fora.

Ele usa apenas a parte integra do “esqueleto”, fazendo uma limpeza que pode, inclusive, alterar aquele seu primeiro olhar. “Muitas vezes não acontece de cara este processo escultórico. Mas sim, neste diálogo, que vai se vendo as formas que ela tem e aquilo que vou acrescentar, tirando ou deixando na matéria”, descreve.

Assim como na arte abstrata, a forma que sensibiliza o artista não se repetirá no olhar do expectador. Por isso Itelvino não nomeia suas peças, evitando induzir a percepção de quem aceita decifrá-las. Na verdade, muitas vezes, o próprio artista é surpreendido, vendo seu projeto mudar de forma.

Itelvino Jahn da Bienal

Casa de Cultura Mario Quintana, Museu de Arte Contemporânea do RS = uma peça no acervo permanente (Instagram @ccmarioquintana)
Galeria Tina Zappoli = 15 peças em acervo permanente (Instagram @galeriatinazappoli)
Art.Hotel Transamerica Collection = três peças expostas no saguão (Instragram @art.hoteltransamerica)
*siga o artista no Instagram @itelvinoadolfojahn

Diálogo com as mãos, entre artista e matéria

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