Debate. Donos afirmam que seus preços são mais altos porque não têm as mesmas condições de negociação
Você está insatisfeito com os preços dos combustíveis em Montenegro? Os donos dos postos também. Em reunião na Câmara de Vereadores na tarde de ontem, eles afirmaram que as distribuidoras não lhes dão o mesmo tratamento dispensado aos estabelecimentos do Vale do Sinos, Canoas e de Porto Alegre, o que explicaria a média de valores mais alta aqui.
Proponente do encontro, o vereador Joel Kerber (PP) se disse preocupado, porque a população busca alternativas abastecendo em cidades próximas, o que prejudica a economia do município mediante a queda na arrecadação. “Montenegro parece uma ilha, porque aqui a gasolina custa mais que em qualquer cidade do nosso entorno. Por isso nós chamamos os comerciantes para entender o que tem ocorrido e quais seriam as alternativas. Não queremos crucificar ninguém, mas sim ajudar. Muita gente deixou de abastecer aqui por causa do preço”, enfatiza.
Diante das queixas dos proprietários dos postos, Kerber propôs levar o caso ao Ministério Público para apurar os porquês dos preços excessivos empurrados pelas distribuidoras em cima dos revendedores. “Os nossos fornecedores têm práticas arbitrárias, mas os penalizados somos nós, porque muitos consumidores nos dizem que estão sendo roubados. A política de formação de preços na distribuidora é obscura e unilateral. Na hora de negociarmos preços, temos que implorar, pois esse é um jogo em que os postos não têm voz ativa”, lamentou Marjorie Biehl, proprietária do Posto Comauto.
Os comércios de combustível sofrem, ainda, com a oscilação diária dos preços nas refinarias em decorrência da política da Petrobras, que passou a acompanhar o valor do petróleo no mercado internacional, em dólar. Um proprietário contou que a situação está no limite — “não consigo trabalhar mais” —, porque no último mês as distribuidoras subiram cerca de 20 centavos por litro, valor que não consegue repassar ao consumidor, que já reclama da tabela atual.
O empresariado argumenta, ainda, ter perdido a referência do que é um preço justo praticado pela distribuidora desde que a Petrobras passou aos ajustes diários. Há relatos de que os revendedores locais pagam às distribuidoras mais do que o cliente encontra nas bombas de Novo Hamburgo, cidade historicamente com os mais baixos preços de gasolina no Rio Grande do Sul. Sem margem de negociação, os estabelecimentos montenegrinos vêm cortando despesas e as demissões, nos dois últimos anos atingiram cerca da metade do quadro de pessoal.
Os vereadores Felipe Kinn da Silva (PMDB) e Juarez da Silva (PTB) concordam que as distribuidoras precisam ser pressionadas a dar aos postos montenegrinos as mesmas condições de negociação de que gozam os comerciantes de cidades próximas. “Até o nosso comércio está perdendo, porque se alguém sai daqui para abastecer o carro, também irá aproveitar para fazer suas compras fora. Queremos apenas um tratamento igualitário”, pondera Juarez.
A reunião com o Ministério Público ainda não foi agendada, mas deve ocorrer nos próximos dias, conforme o vereador Joel. O secretário municipal da Indústria e Comércio, Elias da Rosa, propôs que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) seja chamada a participar do debate. O objetivo do grupo é que todas as distribuidoras em operação no Rio Grande do Sul prestem esclarecimentos e, consequentemente, parem de tratar desigualmente os postos de Montenegro em relação às cidades próximas.
O fato de praticamente todos os postos praticarem os mesmos preços, o que a comunidade vem denunciando como formação de cartel, não foi debatido durante o encontro.