Companhia respondeu sobre as recentes polêmicas envolvendo o fornecimento
A qualidade da água consumida em Montenegro vem sendo questionada bastante nos últimos dias. Ao mesmo tempo em que sofria as críticas pela entrega de água com gosto e alteração de cor nas torneiras dos montenegrinos, a Corsan foi surpreendida pela divulgação de uma pesquisa do programa de pós-graduação da Ufrgs que colocava em cheque a eficácia do tratamento da água para livrá-la de protozoários. Questionada pelo Jornal Ibiá, a companhia respondeu sobre a situação e garantiu: a água que oferece pra consumo é segura.
O estudo da Ufrgs foi feito pelo engenheiro químico Luciano Zini. Além de pesquisador, ele trabalha como fiscal sanitário para o Estado e atua nas inspeções das estações de tratamento de água. Zini encontrou evidências de microrganismos nas águas brutas do Rio Grande do Sul, ainda antes do tratamento. Porém, defendendo um maior controle, indicou que não haveria garantia total de sua remoção nos tratamentos que são feitos.
De Montenegro, o estudo apontou que apenas uma, das 50 análises feitas pra presença de protozoários entre 2016 e 2020 foi positiva pra presença de giárdia. Outra, das 50, foi positiva pra presença de cryptosporidium. Ambas são do fim de 2016. Mesmo assim, foi feito um alerta. O estudioso projetou que, no período em que a amostra foi positiva pra giardia, sete a cada mil pessoas que tiveram contato com a água tiveram risco de se contaminar e desenvolver giardíase. Já pro período da amostra com cryptosporidium, que tem tamanho menor, duas a cada cem pessoas que tiveram contato com a água tiveram risco de contaminação e desenvolvimento de cryptosporidiose. No geral, ambas doenças causam quadros de diarréia de diversa severidade.
O que diz a companhia
Em resposta aos apontamentos, a Corsan questiona a projeção feita pelo estudo ao garantir que o processo de filtração feito para a eliminação dos microrganismos é eficaz para limpar a água. “O processo de filtração levado ao rigor estabelecido pela legislação é a barreira sanitária que elimina os protozoários da água para consumo humano”, respondeu a companhia. Segundo a – ainda – estatal, o controle analítico da água distribuída em Montenegro é “rigoroso”, seguindo preceitos da legislação federal que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.
Traz a Corsan: “A cada duas horas são coletadas amostras e realizadas análises da água na saída de cada filtro das Estações de Tratamento de Água de Montenegro, bem como na saída do tratamento. Também são realizadas 54 coletas mensais de amostras na rede de distribuição da cidade, estas distribuídas equitativamente ao longo do mês e observando representatividade dos pontos de coleta no sistema de distribuição, combinando critérios de abrangência espacial e pontos estratégicos”. Seriam pontos próximos a grande circulação de pessoas; próximos a grupos de risco, como hospitais e asilos; pontos de queda de pressão; dentre outros.
Além das análises citadas, a companhia aponta que são realizadas análises horárias na água captada no Rio Caí, bem como análises intermediárias no processo de tratamento, que permitem que se realizem os ajustes necessários aos parâmetros de tratamento. De Montenegro, o serviço é submetido a regulação da Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs); e também a avaliações da vigilância sanitária municipal.
Precisa ferver ou filtrar a água?
A Corsan diz que não. Questionada pelo Ibiá, a estatal respondeu que não é necessário nenhum método complementar de tratamento; e voltou a garantir que a água fornecida atende aos padrões de qualidade estabelecidos pelas legislações vigentes. Ela ainda faz um alerta: “Caso algum método seja utilizado, deve ser observado que, se estes retiram o cloro presente na água, logo a mesma não contará mais com o produto residual que garante a sua desinfecção. Nesses casos, recomenda-se que seu consumo seja o mais breve possível.”
O que ocorre com a água atualmente?
A água com gosto e com cor inadequada segue chegando às torneiras. Os problemas foram tema de reunião entre a Administração Municipal e a superintendente de Relações Institucionais da Corsan, Samanta Takimi, na sede da companhia, em Porto Alegre, na quarta-feira, 23. Takimi prometeu que vai conversar com responsáveis pela unidade regional para buscar uma solução. Mas explicou que a situação é causada pela estiagem e a proliferação de algas, que interferem na captação. Recentemente, o engenheiro Ângelo Marcelo Faro, responsável pelo abastecimento em Montenegro, havia complementado que, pela situação, o ferro e o manganês utilizados no tratamento dão tom mais escurecido para a água. Ele garantiu que, mesmo assim, a água é própria para o consumo.
Nessa segunda-feira, 21, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do RS, Arilson Wünsch, também reconheceu a dificuldade; que se repete em vários municípios. Ele foi entrevistado na Rádio Ibiá Web. “Quando baixa bastante o nível das lagoas e dos rios vai aparecer aquilo que a população coloca pra dentro deles, que é a sujeira; com ela, a proliferação de algas e a proliferação de diversos microrganismos que podem dar problema na água. Isso não é prerrogativa da Corsan”, comentou. A Corsan já foi acionada pelo Comdecon e até denunciada na Polícia sobre a água que vem entregando. Não há um prazo concreto para o problema ser resolvido.