Consciência Negra: Atos refletem questões históricas

Discriminação e preconceito racial foram alguns dos temas abordados nas atividades

Nesta semana, o debate sobre questões raciais esteve presente em diversos espaços. Em Montenegro, uma agenda de atividades lembrou a importância do Dia da Consciência Negra, que marca a luta dessa parcela da população contra o preconceito e a discriminação no Brasil, como explica o jornalista e pesquisador Rogério Santos. “Entender o porquê de um dia para se refletir sobre a luta e resistência negra, com certeza, passa necessariamente pela história”, enfatiza o pesquisador, sobre o 20 de Novembro.

“Não esquecemos que o Brasil tem 519 anos, dos quais 350 foram vividos com a prática da escravidão. Fomos o país que mais recebeu negros escravizados, mais de 5 milhões de pessoas e, também, o último país no mundo a abolir a escravidão”, destaca o jornalista, acrescentando que, aproximadamente, 150 milhões de pessoas viveram e morreram como escravas no Brasil. “Junto a isso tudo, ficamos 50 anos sem poder estudar ou ter alguma propriedade definida por lei. Éramos e continuamos sendo uma raça inferior na visão de muitos e muitas.”

As estatísticas expõem heranças e estigmas herdados desde o período escravocrata, além de revelar a ausência de políticas públicas efetivas para a real inserção da população negra na sociedade. De acordo com o informativo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início do mês, 55,8% da população em 2018 se declarou preta ou parda (a soma das duas raças resulta nos negros). Entretanto, entre os 10% com maior rendimento per capita, os brancos representavam 70,6%, enquanto os negros eram 27,7%. Entre os 10% de menor rendimento, isso se inverte: 75,2% são negros, e 23,7%, brancos.

“São 131 anos da abolição, mas só desfizeram as amarras materiais; na psique da sociedade, elas ainda existem”, lamenta o pesquisador. “Ser negro no Brasil é algo extremamente particular, cada um tem suas vivências e percepções. O autoconhecimento da negritude tem implicações sem volta no intelecto de uma pessoa negra, a militância requer força e coragem de se reestruturar diariamente”, completa.

Maioria no ensino superior público
A proporção de pessoas pretas ou pardas cursando o ensino superior em instituições públicas brasileiras chegou a 50,3% em 2018. Apesar desta parcela da população representar 55,8% dos brasileiros, é a primeira vez que os pretos e pardos ultrapassam a metade das matrículas em universidades e faculdades públicas. Para o pesquisador, apesar do cenário otimista, a inserção no mercado de trabalho é um grande desafio.

“Fico me questionando sobre como o mercado brasileiro terá vagas para estes negros que estão saindo das universidades”, questiona Santos, destacando a pesquisa do IBGE, que mostra que os brancos são maioria entre os ocupantes de cargos gerenciais no Brasil – 68,6% -, enquanto que os pretos e negros representam apenas 29,9%.

O levantamento ainda mostra que essa parcela da população ganha, em média, R$ 1.608, ou 42,5% (R$ 1.188) a menos que os brancos, que têm salário médio de R$ 2.796.

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