Antes da Jenifer, as mulheres já eram homenageadas em músicas

Canção de Gabriel Diniz não é a primeira a bombar com um nome feminino

2019 já tem o seu hit do verão e possivelmente do Carnaval: “Jenifer”. A música do cantor sertanejo Gabriel Diniz é a mais tocada nas primeiras semanas do ano, seja nas plataformas de streaming ou nas rádios. Composta por oito amigos em Goiânia, a canção fala sobre um personagem que termina o seu relacionamento e, logo depois, encontra um novo interesse romântico no Tinder (aplicativo de paquera). Quando sua ex-namorada descobre, arrepende-se do término e começa a xingá-lo.

Não é a primeira vez que uma pessoa é “homenageada” na música brasileira. Outras melodias já fizeram sucesso e obrigaram quem dividia o nome com a canção a passar por brincadeiras e a ficar horas exaustivas ouvindo o próprio nome ser cantado. Essas músicas podem acabar sendo um problema, com letras variando de declarações de amor e muiro romantismo até brincadeiras e xingamentos. Apesar de se sentirem um pouco incomodadas, a maioria das pessoas leva as brincadeiras tranquilamente e evitam maiores incômodos. Com o passar do tempo, as piadas diminuem, mas, até lá, as músicas continuam grudadas na cabeça dos ouvintes, como é o caso de “Jenifer”.

Jenifer – Gabriel Diniz – 2018/2019

JENIFER Beretta

Música do verão de 2019, “Jenifer” foi escrita por oito amigos que moram juntos em Goiânia, após um deles encontrar uma garota que conheceu no Tinder durante um almoço do grupo. A canção é forte candidata a ser também a mais popular no Carnaval, em março. Jenifer Beretta, 22, estudante, achou a música engraçada e boa, apesar de não ser o tipo de som que normalmente escuta. No momento, enquanto a canção é febre, recebe áudios de amigos cantando a música ou ouvindo na rádio, mas diz levar tudo na brincadeira. “Não me estressei com isso. Levo numa boa e até acho graça” conta Jenifer.

Carolina – Chico Buarque – 1967

CAROLINA Frezza

O nome Carolina já foi inspiração de diversas canções na música brasileira. Passando por artistas importantes desde o começo da MPB, estas composições geralmente são feitas como declarações de amor, com arranjos bonitos e letras melhor trabalhadas. Chico Buarque escreveu a sua “Carolina” em 1967, durante um vôo, e, em outubro do mesmo ano, a música foi premiada com o terceiro lugar no II Festival Internacional da Canção Popular. A estudante Carolina Frezza, 21, tem o nome graças à canção. Ao longo dos anos, já se deparou com outros cantores-compositores que admira, como Jorge Ben, Toquinho e Seu Jorge, que também se inspiraram em alguma Carolina. A jovem observa que essas músicas são diferentes de outras com nomes de pessoas. “Eu acredito que todas essas músicas que tem meu nome não são no sentido de zoar, até têm letras bonitinhas, felizmente. Nunca me incomodei com isso, sempre achei fofo”, revela Carolina.

A Jessica ta Louca – MC Jair da Rocha – 2011

Alguns anos atrás, outro nome com a letra “J” fazia sucesso na música brasileira: Jéssica, no funk “A Jéssica tá Louca”, de autoria do paulista MC Jair da Rocha. Jéssica Carneiro, 22, designer gráfico, lembra que, quando a música bombava nos ouvidos dos jovens, era muito incomodada. Com o passar dos anos, o incômodo foi diminuindo, mas até hoje é lembrada do hit. “Sou uma pessoa tranquila, só aceito a zoeira e fico na minha, dou aquela risadinha pra socializar. Incomoda um pouco, sim, mas hoje todo mundo só quer saber da Jenifer”, brinca Jéssica, bem-humorada.

Renata – Latino – 2004

RENATA d’Avila

Apesar de não ser a música mais conhecida do álbum “As Aventuras do DJ L” (que conta também com “Festa no Apê”), do cantor Latino, de 2004, “Renata” ficou mais conhecida pelo adjetivo que a define: “ingrata”. Para o azar das pessoas de mesmo nome de todo o Brasil. A estagiária de Arquitetura Renata d’Avila, 24, achava graça das brincadeiras no começo, mas, depois de um tempo, começou a forçar o sorriso para não parecer chata, pois já não se divertia mais. Na época em que a música fez sucesso, quando a zoação era mais constante, guardava o incômodo para si mesma. Hoje, as brincadeiras são mais raras, mas ainda acontecem. “Ironicamente, essa semana meus colegas começaram a cantar a música enquanto eu chegava à minha sala. Entre amigos, relevei”, conta Renata. “Apesar de tudo, acho que não me estressaria com ninguém por conta das brincadeiras relacionadas à música, mesmo não achando graça”, completa.

Anna Julia – Los Hermanos – 1999

ANA Júlia Barth

Clássico do Los Hermanos, “Anna Julia” faz parte do álbum de estreia da banda, lançado em 1999. Escrita pelo vocalista Marcelo Camelo, a canção é uma homenagem à jornalista Anna Júlia Werneck, por quem o produtor da banda era apaixonado. Até hoje é a música mais conhecida dos cariocas, apesar de contrariar um pouco o estilo do grupo. A assistence comercial Ana Júlia Barth, 23, gosta da canção, apesar de ser muito nova na época do lançamento. Ainda que só tivesse quatro anos quando a música começou a fazer sucesso, as pessoas vivem perguntando se o nome dela é em homenagem ao hit, além de questionar se ela sabe que existe uma canção com seu nome. “Não chega a incomodar, mas toda vez que toca em uma festa, alguém me manda uma gravação por áudio”, diz Ana Júlia. “Depois de todos esses anos, já me acostumei.”

Ai! Que saudade da Amélia – Ataufo Alves – 1942

https://www.youtube.com/watch?v=KnHbjv7TRQY

ANA Amélia Haupenthal

Lançada em 1942, “Ai! Que saudades da Amélia” criou o estereótipo de mulher submissa, resignada e trabalhadora como “ideal” no Brasil. Apesar de ter a letra sexista e que passa uma imagem negativa da mulher, a canção é considerada uma obra-prima por historiadores da música brasileira. Ana Amélia Haupenthal, 22, analista de crédito, conhece a letra, apesar de não ter o costume de ouvi-la. Recebia a canção de gente que tentava puxar assunto, mas não costuma sofrer com brincadeiras relacionadas à música. “Normalmente, o que minhas amigas faziam era cantar ‘Ana Amélia’ no refrão de ‘Anna Julia’, quando tocava em festas”, conta Ana Amélia, fazendo referência à canção do Los Hermanos.

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