Greve. Motoristas encerraram movimento na expectativa de que óleo baixe
Passados 10 dias de paralisação, às 15 horas da última quarta-feira, dia 30, os caminhoneiros iniciaram a movimentação para deixar os pontos que ocupavam, há mais de uma semana, em Montenegro. Após a publicação das medidas provisórias negociadas entre o governo e líderes do movimento dos caminhoneiros autônomos, e da criação da tabela de preço mínimo do frete, os caminhões seguiram viagem. A diminuição de R$ 0,46 no litro do diesel — medida a ser confirmada na manhã de hoje nas bombas dos postos —, também contribuiu.
Na rótula entre a rua Buarque de Macedo, RSC-287, BR-470 e na ERS-240, os caminhoneiros saíram buzinando e receberam aplausos de quem ainda estava no entorno. Outra cena emblemática foi o recado escrito em um cartaz que permaneceu fixado no local: “Até hoje, não conseguimos compreender que país é esse”.
O alívio de quem protestava
Há 25 anos na estrada, o caminhoneiro Clóvis da Silva diz que será uma vitória histórica para a categoria se o governo cumprir com tudo o que foi prometido. “Valeu todo o esforço nestes dias em que acampamos na rua. Teremos uma remuneração melhor com a tabela de preço do frete”, afirma. Para ele, outros direitos serão pleiteados, como melhores rodovias e boas condições nos locais de descanso.
Entre os manifestantes que ficaram em frente à loja Taqi, principalmente agricultores, o sentimento era de gratidão. Eles agradeciam à loja por ter liberado o espaço e ao povo do interior, pela união. “Nossa união foi dez, foi mil. A perda [no campo] é incalculável, mas só o fato de estarmos aqui já faz a diferença. Ninguém estava pensando no dinheiro e não permitimos nenhum sindicato ou movimento político entre nós”, disse um dos líderes do grupo, que não quis identificar-se. Houve, no entanto, em todos os pontos de paralisação, a lamentação pelo baixo apoio dos cidadãos.
João Rosa, um dos caminhoneiros que fez a linha de frente da manifestação na cidade, disse que nunca imaginou um ato tão bem feito e organizado como o que aconteceu, oportunizando conquistas históricas. “Não alcançamos todas as nossas reivindicações, mas é preciso analisar a situação do país e já avançamos bastante”, avalia. Ele reforçou o agradecimento às polícias, aos colegas caminhoneiros, aos agricultores, à imprensa e toda a população que esteve nos pontos de manifestação.
Veja quais são e como estão as medidas
Desconto no diesel
O governo prometeu, por dois meses, desconto de R$ 0,46 no litro do diesel, nas bombas dos postos de combustível. Após os dois meses, os reajustes serão realizados a cada 30 dias. Conforme o presidente Michel Temer, haverá mais “previsibilidade” aos motoristas.
Bancar parte do desconto no diesel vai custar R$ 9,5 bilhões aos cofres públicos até o fim do ano, segundo o governo. Além disso, para que a redução do preço do óleo chegue às bombas, o ministro Carlos Marun já disse que conta com o “patriotismo” dos comerciantes, o que já foi sinalizado pela Federação dos Postos de Combustível (Fecombustíveis), que, por sua vez, declarou que vai repassar a redução ao consumidor.
O fim da cobrança do PIS-Cofins sobre o diesel já teve aprovação das duas casas legislativas do Congresso Nacional, isto é, Câmara dos Deputados e Senado. Haverá um aumento de impostos na folha de pagamento de 28 setores da economia, servindo como compensação do que foi aprovado pelo Congresso.
Tabela de preço mínimo do frete
Será determinada, pelo governo, uma tabela de preços mínimos por quilômetro rodado no transporte rodoviário de cargas. Conforme a medida provisória, a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) vai elaborar a tabela e tem até hoje para efetivar a publicação da primeira.
Fretes para autônomos
Outro pilar do acordo selado entre representantes da paralisação e o governo define que 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) devem ser feitos por caminhoneiros autônomos.
Isenção de pedágio para eixos suspensos
Como a cobrança nos pedágios é feita por eixo, os caminhões vazios costumam rodar com pelo menos um levantado. Assim os caminhoneiros pagam um valor menor nos pedágios e evitam desgastes no caminhão.
No anúncio do último domingo, o presidente da República, Michel Temer, disse que consta na medida provisória a isenção de pedágio em todo o território nacional para caminhões vazios. Neste sentido, a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), que administra os pedágios nas rodovias estaduais do Rio Grande, anunciou já ter colocado a mudança em prática, desonerando os motoristas.
Colaborou Denis Machado.