Futebol. O jovem Bruno Herter pendurou as chuteiras para abraçar um projeto como empresário de jogadores de futebol
O sonho da grande maioria dos meninos, enquanto pequenos, é se tornar jogador de futebol, e com Bruno Herter não foi diferente. Nascido em Santo Ângelo, na região das Missões, ele morou até os quatro anos em Caibaté, até mudar-se para Montenegro. No Vale do Caí, aprendeu a gostar de futebol e hoje, aos 24 anos, faz do esporte seu ganha-pão, mas não dentro de campo.
Em seus primeiros anos em Montenegro, Bruno estudou na creche do Sesi e foi lá que o futebol chamou sua atenção. Aos oito anos, o garoto acompanhava diariamente os treinos da escolinha Luiz Carlos Winck, que na época aconteciam atrás da creche onde estudava, e logo ingressou nela. “Eu olhava eles treinando todos os dias, essa lembrança é muito grande. Falei para meus pais: pô, quero ir para a escolinha, quero jogar bola. Sempre botei muita pressão nos meus pais e eles sempre me incentivaram, sempre me ajudaram muito”, revela.
No Winck, Bruno participava de competições internas e não teve experiências contra grandes times, que disputavam mais campeonatos regionais e estaduais. Na escolinha, jogou até os 12 anos de idade. Desde pequeno, o jovem enfrentou uma dificuldade que o acompanhou durante todo o tempo em que atuou dentro das quatro linhas: a forma física. “Minha maior lembrança é que eu era bem menor que os outros. Não sabia muito bem como me alimentava. Meu café da manhã era uma banana e um leite, e isso, antes de um treino, era um absurdo se parar para pensar”, relembra.
Depois do Winck, Bruno Herter passou pelo Municipal, pelo América e pelo Riograndense, onde aprendeu muito com amigos mais velhos. “Nos outros times aqui da cidade, joguei em categorias mais velhas, onde acabei aprendendo, com amigos mais velhos, a como me defender em campo, como ser malandro, a usar mais o corpo mesmo não tendo muita força. Era um problema que me diferenciava bastante dos demais, e por isso acabava ficando no banco. Em algumas partidas, viajei e não entrei, era tido como aquele cara que não tinha chance de jogar bola”, ressalta.
As coisas começaram a melhorar quando o meio-campista (posição em que Bruno atuava) foi para o São José/POA, aos 14 anos. No clube da capital, buscou ouvir sempre os treinadores para despontar de vez no futebol. “Não tinha muito o que fazer para equilibrar (a força física), mas algumas coisas se sobressaíam, como a questão técnica e o posicionamento. Sempre me dei muito bem com preparadores físicos e treinadores. Sempre procurei ouvir e aprender muito e isso me ajuda até hoje. Um dos maiores aprendizados que tive, desde a escolinha do Winck, foi sempre ouvir os professores, pois na minha cabeça, os professores são nossos principais formadores depois da nossa família”, enaltece.
O franzino meio-campista ficou um ano no Zequinha e conta que seu grande momento no clube foi logo na chegada, no primeiro treinamento. “Fui muito bem no primeiro treino e já me convocaram para a viagem que teria na mesma semana. Ia jogar contra o Corinthians, em São Paulo. Peguei o Corinthians logo de cara, fui titular e acabei indo mal. Meu psicológico pesou.”
Maior conquista no Zequinha não foi dentro de campo
No São José, Bruno conquistou a Liga Encosta da Serra e ainda disputou três competições no estado do Paraná, mas lamenta não ter tido êxito no clube porto-alegrense. “Não tive grandes momentos, tive mais decepções do que bons momentos. Quando tu vais para a capital, tu és o cara do interior e o pessoal da capital é muito mais malandro, em todos os sentidos, dentro e fora do campo. Até pelo meu porte físico, que era menor. Nunca fui muito valorizado lá, mas sempre lutei para dar o meu melhor e acho que isso é válido”, argumenta.
A malandragem dos companheiros de equipe acabava gerando um certo preconceito, relembra o jovem. “Acredito que acabava se tornando preconceito pelas questões de tratamento. Quando tu és novato, não esperam nada de ti. Estar com o psicológico bom é essencial. Tu tens que provar diariamente que é melhor que os caras de lá. Se tu chegas do interior, é piadinha, e tem gente que apela. Se não tem cabeça boa, é difícil de lidar”, salienta.
A experiência do meio-campista no Zequinha não foi de grandes conquistas dentro de campo, mas fora dele. “Uma das maiores conquistas lá foi conhecer um dos meus melhores amigos, o Luis Henrique Carvalho. No São José, ele tinha o apelido de Johnny, por causa do Johnny Herrera, ex-goleiro do Corinthians. Ele tinha o cabelo grande e também era goleiro.
Foi um grande amigo que fiz lá, mantemos uma relação absurdamente boa há dez anos, mesmo ele morando em Capão da Canoa. Talvez, as melhores conquistas tenham sido os contatos, sempre fui bem relacionado e tive facilidade para fazer amizades. A gente sabe que no futebol é difícil fazer amigos, mas quando faz, é de verdade”, exalta.
Azar no Novo Hamburgo e título estadual pelo Aimoré
Após sair do São José, Bruno foi para o Novo Hamburgo, em seu último ano na categoria juvenil. Na oportunidade, o meia também não deu sorte, já que o clube decidiu não formar grupo na categoria júnior exatamente no ano em que Bruno subiria. “Dei azar, acabei voltando para Montenegro. Minha mãe sempre falou para eu nunca deixar de lado os estudos e hoje devo muito isso a ela. Me formei no Ensino Médio. O Inglês, que estudo desde os 10 anos, me abriu portas, me ajudou bastante”, destaca.
Em 2011, o meio-campista foi para o Aimoré, mas teve problemas na equipe do Vale do Sinos e não permaneceu no grupo que ia disputar campeonatos, pois o clube não tinha alojamento e o custo para ir a São Leopoldo todos os dias ficaria muito alto. “Com isso, decidi que não queria mais e acabei jogando pelo amador em 2012 em São Leopoldo. No amador, o pessoal de lá pediu para eu ser testado no time júnior do Aimoré. Fui bem lá, era meu último ano de júnior. Era aquela questão: ou vai, ou racha”, declara.
No Aimoré, Bruno subiu rapidamente para o profissional na posição de lateral-esquerdo e acabou conhecendo Rogério Oliveira, que se tornou seu empresário e atualmente é seu sócio. “Sempre mantivemos uma boa relação. Subi para o profissional do Aimoré ainda em 2012. Fomos campeões da Segundona Gaúcha (terceira divisão do estadual) naquele ano e subimos para a divisão de acesso. Inclusive, foi o primeiro título gaúcho do clube e, dois anos depois, o Aimoré subiu para a primeira divisão. A gente que começou a trajetória lá embaixo”, diz.
Novas alternativas e a importância dos contatos
No início de 2013, Bruno Herter teve a possibilidade de se transferir para o Ypiranga de Erechim, mas como a negociação não deu certo, acabou pendurando as chuteiras de forma precoce e foi em busca de novas alternativas. “As coisas não aconteceram. Na época, eu já estava cursando Comércio Exterior na Unisinos. Treinava e ia para a faculdade. Então, acabei deixando de lado o futebol para buscar outras alternativas”, conta.
Em fevereiro de 2015, Bruno realizou um intercâmbio em Vancouver, no Canadá, a fim de estudar Inglês, já que tinha a ideia de jogar futebol universitário nos Estados Unidos, coisa que acabou não acontecendo. Então, Bruno retornou ao Brasil e começou a trabalhar na
SAP, empresa de tecnologia. “O intercâmbio foi legal, deu uma bagagem muita boa sobre o exterior, de como é morar fora. E a questão do inglês, por mais que eu já falasse, foi sensacional aprender mais. Acabei jogando num time amador de lá também”.
Ainda quando jogava pelo Aimoré, Bruno conheceu o atacante Japa, que hoje atua na segunda divisão chinesa e, de certa forma, abriu algumas portas para o ex-jogador. “O Japa está muito bem na China e também foi muito bem na Coréia do Sul. Ele que me passou o contato do agente coreano Seong Chan Park quando comecei a mexer com futebol, em fevereiro de 2016”, enfatiza.
“Uma modificação de sonho”, revela Bruno
Quando trabalhava na SAP, Bruno foi convidado diversas vezes pelo seu ex-empresário Rogério Oliveira para também se tornar empresário, mas resistia. “No início, ele (Rogério) me convidava muitas vezes e eu não quis, depois acabei entrando de cabeça”.
O encanto pela área em que Bruno trabalha desde o início de 2016 vai muito além das quatro linhas. “Descobri que meu sonho de ser jogador não era apenas por jogar bola, era por tudo que envolve o futebol, pelos bastidores, estádios lotados, por esse universo paralelo. Sempre digo que foi uma modificação de sonho. Queria estar no meio do futebol, mas não dentro do campo. O Inglês e o Espanhol me ajudaram muito nesse sentido. Agora, quero passar meu aprendizado”, ressalta.
Porém, como em todas as áreas, os primeiros meses de trabalho não foram fáceis para o empresário. “No início, é muito difícil ter jogadores. Como em todas as áreas, há dificuldades. Depois que tu vais ganhando mercado, as pessoas começam a te procurar, você adquire confiança, credibilidade e contatos, que é o mais importante. Contato vale mais que dinheiro. Tem que ter persistência e acreditar em si acima de tudo. Tem que estar sempre disposto a aprender. É minha meta de vida crescer cada vez mais na área. Vivo hoje meu melhor momento profissional e pessoal.”
Na última semana, Bruno esteve na Coréia do Sul para finalizar uma negociação intermediada por ele. É exatamente na Ásia a melhor porta de negócios para Herter e os escritórios que ele representa. “O pedido da Coréia que entra no Brasil chega diretamente em mim e nos meus sócios. Neste tempo como empresário, fui para o Bahrein e para a Coréia do Sul. A Ásia é nossa melhor porta. Na Europa, até temos contato, mas não há uma confiabilidade para fazermos negócios”, relata.
Bruno revela que não há mistério nas negociações e que o foco de sua empresa é na intermediação dos negócios. “A forma de negociação de Barcelona e Aimoré é a mesma, mudam apenas os valores e a vaidade, mas o sentido é o mesmo. Temos contatos com alguns empresários e intermediamos o negócio, focamos nisso. O caso do zagueiro Nilson, que negociamos com a Coréia na última semana, foi exatamente esse. Temos o Luis Gustavo no Bahrein também, ele foi campeão lá recentemente. Intermediei a ida dele para lá com o empresário Matheus Assaf, que também é empresário de Eduardo Sasha e Gustavo Ferrareis, do Inter, e do atacante Kazim, do Corinthians”, conta.
Os jogadores brasileiros têm ganho cada vez mais mercado na Ásia, mas Bruno diz que os jogadores precisam estar preparados para sair do país. “O jogador tem que suportar a pressão quando sai do país. Com o brasileiro no exterior é maior ainda essa pressão. Hoje, tem que ser muito diferenciado para ter sucesso fora do Brasil. O futebol na Coréia é comparado com a Premier League (campeonato inglês), e no Japão eles comparam com a Liga Espanhola. Não pela qualidade, é claro, mas pela dinâmica de jogo”, salienta.
No atual ramo, o empresário de 24 anos já conheceu figuras carimbadasdo futebol gaúcho, como os ex-jogadores Tinga e Bolívar, que hoje atuam na mesma área de Bruno. Os contatos são essenciais, mas a honestidade também é de suma importância, garante o jovem. “Em todos os lugares que fazemos negócio, eles traçam um perfil, com altura, times em que o atleta jogou, posição, números e o vídeo do jogador. Temos que ser honestos, não podemos mentir, se não perdemos a confiança dos caras. Não mandamos jogadores fora do perfil solicitado. O Seong Chan Park, agente coreano, é uma pessoa que converso quase que diariamente, sobre tudo. Temos uma boa amizade, hoje cada um conhece um pouco da vida do outro”, completa.
Além de viajar frequentemente para outros estados do país e também para a Ásia, Bruno cursa Administração no campus da UCS de São Sebastião do Caí e tem a pretensão de fazer gestão esportiva e algum mestrado no futuro.