Entre gigantes. Rodrigo Schu Ferreira constrói trajetória vitoriosa no esporte
Em 2016, Rodrigo Schu Ferreira ingressou no paraciclismo com um único objetivo: melhorar seu desempenho no basquete em cadeira de rodas. Cinco anos depois, o paratleta de Triunfo acumula inúmeras conquistas no esporte e busca alçar voos ainda mais altos. Recentemente, sagrou-se pentacampeão gaúcho de contrarrelógio. Nesta sexta-feira, 5, Rodrigo embarca para Leme-SP, onde disputa a Copa Brasil de Paraciclismo.
A vida de Rodrigo mudou drasticamente em 2009. Naquele ano, o triunfense, então com 25 anos, sofreu um acidente de moto perto de casa. Além dele, a noiva também estava na motocicleta, e ela acabou não resistindo. Após 30 dias em coma, Schu acordou e ficou sabendo do falecimento da companheira. Além disso, foi informado pelos médicos que havia sofrido uma lesão na medula, que comprometia os movimentos das pernas. “Foi uma situação bem complicada. O fato de eu ter sofrido uma lesão medular ficou em segundo plano. O primeiro ano foi desgastante, só para me recuperar da perda da minha noiva. Até hoje carrego esse pesar. Aqui no interior é muito difícil a vida de uma pessoa com necessidade especial, por falta de acessibilidade em muitos lugares. Então, fui aprendendo a fazer as coisas de novo, a primeira atitude foi morar sozinho”, relembra.
O paratleta de Triunfo recorda que enfrentou muitas dificuldades nos primeiros anos após o acidente. Então, decidiu que precisava melhorar a qualidade de vida, e recebeu a indicação de amigos para praticar esportes. Começou no basquete, modalidade que praticou por alguns anos, até se encantar com o paraciclismo. “Quando iniciei, não havia competições de paraciclismo no estado, então comecei a participar de desafios Audax (ciclismo de longa distância), nos percursos de 90 km, 100 km e 130 km, em meio a atletas convencionais, já que não havia categoria específica”, conta.
Em um dos eventos Audax, o organizador da Copa União de Ciclismo viu Rodrigo competindo e decidiu incluir uma categoria para paraciclistas no campeonato de 2017, ano em que quatro paratletas competiram no evento. Em meio a isso, a Federação Gaúcha de Ciclismo entrou em contato com o triunfense para organizar um evento estadual de paraciclismo chancelado pela Confederação Brasileirão. Foi aí que nasceu a Copa Sul de Paraciclismo.
O sucesso da competição deu origem a duas categorias de paraciclismo junto ao campeonato oficial de ciclismo da Federação Gaúcha e, desde então, o Estado passou a incluir as categorias de paraciclismo em todos os eventos oficiais. De lá para cá, Rodrigo Schu foi bicampeão da Maratona Internacional de Porto Alegre em 2017 e 2018, pentacampeão gaúcho consecutivo (de 2017 a 2021), tricampeão da Copa Sul na categoria H3 em 2017, 2018 e 2019, além de terceiro lugar em uma etapa da Copa Brasil, em Leme-SP, no ano de 2019.
Sonho internacional e o exemplo para outras pessoas
Aos 37 anos, Rodrigo Schu vai construindo uma carreira vitoriosa no paraciclismo, e essa trajetória inspira muitas pessoas e mostra que, “com empenho e dedicação, qualquer um pode alcançar grandes objetivos”, como ele mesmo diz. Seu principal sonho é disputar pelo menos uma prova em cada continente. No Brasil, o triunfense já competiu em vários estados, como Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraíba e Paraná.
Ele também já disputou duas provas internacionais, ambas na Argentina, onde ficou em terceiro lugar na primeira participação e foi campeão do Campeonato Argentino em sua categoria na segunda vez que competiu em solo hermano. Agora, Rodrigo quer alçar voos mais altos, e as maratonas internacionais de Chicago e Nova Iorque, além do Circuito Pan Americano de Paraciclismo, são suas grandes ambições.
“Minha trajetória é recheada de pessoas incríveis. Sempre tem alguém para me ajudar, minha família é fantástica também. Consegui grandes conquistas por estar junto de pessoas grandes. Busco abrir portas para outras pessoas. Há pouco tempo, foi aprovada em Triunfo uma lei de incentivo ao esporte, para qualquer esportista, paralímpico ou convencional, ser patrocinado. Essa foi uma grande conquista para mim”, enaltece.
O retorno a Leme, agora de avião
Entre os títulos conquistados por Schu no paraciclismo, alguns têm um significado especial. É o caso da 1ª Copa Sul, primeiro evento do Estado de paraciclismo promovido pelo triunfense e outros paratletas, que também foi o primeiro título de Rodrigo, em 2017. A medalha de bronze, conquistada na Copa Brasil, na cidade de Leme-SP, também é marcante na carreira do competidor de Triunfo.
Como não tinha dinheiro para pagar a viagem de avião a Leme, Rodrigo decidiu pegar o seu carro, colocar a bike dentro do veículo e dirigir até a cidade paulista, sozinho. Foram mais de 3.200 km percorridos (entre ida e volta). “Foi uma experiência diferente, viajar todas essas rodovias sozinho, mas tive sorte, fui abençoado e deu tudo certo. Consegui a medalha de bronze na prova de contrarrelógio, minha primeira medalha a nível nacional. Ainda fui chamado para um time de revezamento e consegui outra medalha de bronze”, completa.
Nesta sexta-feira, 5, Schu viaja novamente para Leme, onde disputará mais uma edição da Copa Brasil de Paraciclismo. Desta vez, ele vai de avião, e quer conquistar o primeiro lugar.