Para ser mãe não tem idade. Não tem hora e nem jeito. Sequer precisa ser fértil, porque ser mãe não é só ser de corpo, parir, é muito, muito mais. É um complexo paradoxo em ser ao mesmo tempo altruísta, ao querer doar tudo que se tem a uma pessoa, e egoísta, ao não querer dividir a prole. É deixar-se de lado para acolher outra vida. É não deixar-se de lado e acolher outra vida. É ser rigorosa, afável e ao mesmo tempo responsável. É instinto, opção. É abraçar o mundo e fazer dele seu aliado. Ser mãe é ser sublime. Não há uma única palavra que possa definir.
Contudo, há fase certa para se ter um filho? Biologicamente os médicos afirmam que sim, o primeiro até os 30 anos. Mas e socialmente? Escutamos diariamente muitas críticas às mulheres que resolvem se aventurar e engravidarem aos 40 ou aos 15. A pressão social é injusta e incrimina quem não é transgressor.
Quando se é mãe muito jovem, o discurso é de que será necessário abdicar de festas, namoros e estudos. É como se tudo pudesse ser comprometido. Aos 40, o excesso de maturidade –e idade- é o que prejudica. Os filhos serão criados muito rigorosamente.
Estigmas servem apenas para maldizer tudo que é considerado fora dos padrões. Mas ser mãe é não ter padrões. A homenagem da revista Expressão do mês de maio fala exatamente sobre isso. Sobre o sentimento das mulheres dando à luz em idade tão precoce e já adulta. Sobre ser mãe. E Mário Quintana soube como ninguém em seu poema descrever como todos nós, que também somos filhos, sentimo-nos em relação a elas.
Maturidade aos 15
Carolina Martins Alves, 18 anos, teve sua filha Manuella, hoje com 3 anos, aos 15 e sentiu exatamente a pressão de ser mãe tão jovem. “Foi difícil em todos os sentidos. Sempre fui a boa aluna e filha, e então descobri que estava grávida. Pensei: o que eu vou fazer? O que as pessoas pensariam?”
Sentindo-se uma criança cuidando de outra, ela afirma que teve a cabeça inundada por dúvidas e inseguranças. “Um bebê completamente inocente não teria que morrer porque eu errei. Foi então que eu escolhi ser mãe, e, para mim, foi a única, e melhor escolha”, explica.
Muitas famílias não aceitam o fato de uma menina engravidar tão cedo e culpam principalmente a mulher por isso. Mas a história de Carolina foi diferente, pois encontrou todo o amparo necessário no reduto de seu lar. “No começo foi muito complicado, mas minha família, meu namorado e até a família dele me apoiaram”, destaca.
Apesar disso, reconhece que teve inúmeras dificuldades, mas em hipótese alguma passou por sua cabeça não ter a filha. “Eu acompanhei a barriga crescendo e perdi muitos amigos da escola por conta disso. Eu estava no ensino médio, subia aquelas lombas enormes para ir pra aula. Todos comentavam que estava grávida como se fosse uma doença contagiosa”, relata.
Mas perder as amizades não fez com que sentisse vergonha, muito pelo contrário. Com o passar da gestação ela foi se apaixonando cada vez mais pela filha dentro dela. Cada chute e conversa serviram para fortalecer os laços.
E foi então que em 12 de janeiro de 2014 a Manu veio ao mundo. “Senti o verdadeiro significado da palavra Mãe. É você viver por outra pessoa. É literalmente ter o seu coração dividido em outro ser. Eu sou outra, vivo pra ela”, emociona-se.
Nessas horas, todo o amadurecimento precoce aos 15 anos valeu muito pena. “Conciliar a criação da filha, com estudos e outros afazeres foi difícil. Mas se eu pudesse ter escolhido, não mudaria nada. Jamais seria tão feliz e completa sem ela, nem imagino minha vida sem tê-la. Errando e aprendendo vou dando o meu melhor. É o maior e mais supremo sentimento que se pode ter por alguém”, conclui orgulhosa.
Surpresa aos 40
Farmacêutica há 17 anos, Cíntia Kirch do Nascimento, 41 anos teve sua primeira filha aos 28. Henrique, o caçula, para a surpresa da família, veio aos 40 anos. Ser mãe para ela é amor, dedicação, paz e alegria. “Sempre algo muito grandioso”, destaca.
Com mais dois filhos, de 13 e 9 anos, ela anuncia que a experiência de engravidar aos quase 40 é diferente das outras, principalmente pela maturidade. “Aproveito mais, tenho mais paciência, não há estresse por pouca coisa”, destaca.
Na primeira viagem, a farmacêutica explica que a tendência é criar uma redoma de proteção à criança. “O Henrique veio para completar ainda mais a família. Apesar do despreparo, quando aconteceu, foi a melhor coisa. Agora parece que está tudo redondo, completo”, explica.
A maturidade, segundo Cíntia, possibilita que a mulher esteja mais segura, preparada financeiramente e, no caso dela, consolidada na profissão. Organizar a vida com mais serenidade é um dos aspectos que consequentemente vem junto com a essa fase da vida.
E mesmo não tendo sofrido muitos preconceitos em decorrência da idade, algumas pessoas questionaram sua sanidade. “Atualmente, a vida está mais prolongada. As mulheres escolhem engravidar mais tarde”, afirma.
O marido, com que divide a relação há 16 anos, é um pai amoroso, participativo e “nota 10”. Isso contribuiu para o sentimento de segurança ao descobrir a gravidez. “Ficamos os dois surpresos. Demoramos uns quatro dias para nos estabilizarmos. Mas é outra vida que Deus nos deu para cuidar. Ter um filho só traz coisas boas. E, independentemente da idade que a mulher tenha, só vem para fortalecer e unir ainda mais a família. Não há uma regra certa sobre quando ser mãe”, finaliza.
Fotos:Morgana Castro