Frota de veículos aumenta 55% na cidade em dez anos

Crescimento permanece contínuo em toda a região, mas os indicadores mostram desaceleração nos últimos anos

As estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS) confirmam o que todo o montenegrino percebe ao sair às ruas: há cada vez mais veículos transitando no perímetro urbano. A frota em Montenegro cresceu 55,29% entre os anos de 2007 e 2016, um pouco menos que a média no Estado, que chegou a 66,10% nesse período.

Em relação à população, há um veículo para cada 1,51 habitantes em Montenegro, considerando o total da frota referente ao ano passado. O aumento é contínuo, mas vem desacelerando. A maior variação na última década percebe-se em 2011, quando a quantidade de carros cresceu 6,60% em relação ao ano anterior. Desde 2012, embora continue positiva, essa variação vem caindo, ficando em 5,66%. Em 2016, esse índice diminuiu para 2,10%. Do total de 41.652 veículos, os carros, motocicletas, motoneta e ciclomotores somam 33.644, e correspondem a 80,77%.

Ao avaliar o crescimento da frota em Montenegro, o secretário municipal de Obras Públicas, Edar Borges Machado, lembra o incentivo dado ao setor automobilístico, com a redução de impostos pelo governo federal. “Estimulou-se a compra sem ter a responsabilidade de ter estudos para saber como vamos acomodar estes veículos em movimento”, observa o titular da secretaria, a qual está subordinada a Diretoria de Trânsito no município. “Pensaram só no  lucro da fábrica, revenda e dos impostos que iriam arrecadar tanto na venda do veículo como IPVA e os impostos dos combustíveis”, completa.

Como impacto desse crescimento no trânsito, ele observa a maior probabilidade de acidentes, lembrando que, por haver mais veículos nas ruas, eles ficam mais próximos. “E os motoristas e pedestres foram preparados para esta nova realidade?”, questiona Borges.

Esse aumento de carros nas ruas resulta em congestionamentos, principalmente na área central da cidade. Para Borges, as medidas para evitar essa situação passam por mudança de atitudes da população ao escolher sua forma de deslocamento. “Uma das soluções para diminuir os veículos particulares em movimento é oferecer mais opções no transporte coletivo, com novos modais com tecnologia agregada”, afirma. Ele sugere ainda que as pessoas usem vias alternativas, evitando as ruas centrais. “E que recorram também a outras formas de transporte, como a carona, moto, bicicleta, etc…”, complementa.

Borges menciona alguns planos da Prefeitura em relação ao trânsito, mas sem detalhes. Ele cita a intenção de ampliar as ciclovias, colocar “onda verde” em mais sequências de semáforos; melhorar a sinalização; rever plano de mobilidade e implantar a fiscalização própria do município. “Teremos logo uma nova licitação para o transporte coletivo e vai ser momento de rever algumas questões”, acrescenta.

Para Borges, os problemas no trânsito são influenciados por vários elementos, mas principalmente pelas pessoas. “Não existe acidente cuja culpa é da chuva, cerração, pista e outros entes, a que normalmente as pessoas o atribuem”, opina. “Já ouvi pessoas falarem que o celular é culpado de muitos acidentes, mas nunca vi um celular, chuva, rodovia, cerração dirigir carro”, ironiza.

Como acabar com a “tranqueira” nas ruas
Que o trânsito de Montenegro está complicado, não é novidade para ninguém. Os engarrafamentos são quase diários, devido ao grande número de carros que trafega pelas ruas. Muitos pedestres não usam as faixas de segurança, as sinaleiras não são sincronizadas e não há fiscalização. A reportagem do Ibiá foi às ruas para saber o que cada um poderia/deveria fazer para acabar com a tranqueira.

 

Neusa Rodrigues da Silva, 43 anos, cozinheira – “O jeito é sair mais de bicicleta ou cansar as pernas andando a pé. Pra quem realmente não consegue ficar sem o automóvel, sugiro que estacione na primeira vaga que achar e não fique circulando pelas ruas. Isso não facilita o trânsito da cidade.”

 

Marcelo Lubaczwski, 33 anos, comerciante – “Eu utilizo só moto porque para o carro não tem estacionamento decente. Outra alternativa seria trancar a Ramiro Barcelos e permitir estacionamento só nas ruas que dão acesso à Capitão Cruz e João Pessoa. Hoje se perde muito tempo procurando uma vaga.”

 

Albino Appel, 60 anos, aposentado – “Não dirijo na cidade, apenas onde é mais fácil. Deixo o carro onde há estacionamento e caminho para o lugar que desejo ir. Agora estão fazendo mais vagas particulares na Ramiro Barcelos, o que é bom. Além disso, deixar o carro longe e andar a pé também ajuda.”

 

Cleomar Coimbra, 46 anos, taxista – “Voltar como era antes. Essa é a única solução. Ruas mais largas, com mão dupla. O motorista perde muito tempo sendo mão única porque tem de fazer muitas voltas até chegar ao destino. E tem que haver maior respeito. Obedecer as regras de trânsito.”

 

Irio Costa, 53 anos, comerciante – “A solução é menos carro. Cada família tem dois, três. Qual é o sentido disso? Têm dias que não dá para descer para o Centro, de tão lotado que está. Ou optar pela moto, que é pequena, mais prática, econômica e possui praticidade para ser estacionada.”

 

Alana Kuhn, 22 anos, auxiliar de cozinha – “Gastar R$ 3,00 (valor da passagem) e pegar um ônibus. Não tem necessidade de usar um carro para o deslocamento de uma pessoa só. Imagina uma família com cinco pessoas, e se cada uma tivesse um automóvel. Não é necessário isso tudo.”

 

Terezinha de Fátima Teodoro da Silva, 46 anos, cozinheira – “A solução é usar mais os ônibus. Se não vais passear, não há motivo de pegar carro só para trabalhar. Acredito que, se temos outras opções, como ônibus e bicicletas, devemos utilizá-las. Além do mais, o carro polui muito o meio ambiente.”


Janete Kranz, 62 anos, comerciante – “Mudar as vagas de horizontais para oblíquas em um lado da rua. Quando os motoristas estão na Ramiro Barcelos, o da esquerda quer seguir reto e o da direita quer dobrar para a Osvaldo Aranha, quem quer ir reto não dá espaço para o outro. É estressante.”

Frota gaúcha registra menor crescimento em 13 anos
No Rio Grande do Sul, também há crescimento, mas vem desacelerando. No ano passado, o Estado registrou um incremento de 2,7% na frota, a menor variação dos últimos 13 anos. Desde 2003, quando a baixa automática dos veículos que não substituíram a antiga placa amarela reduziu a frota em 9%, o crescimento não era tão baixo. O ritmo, que vinha em uma média de 6% ao ano desde então, começou a reduzir em 2014. Passou de 5,3% de aumento naquele ano para 3,5% em 2015, sempre em relação aos anos anteriores. O levantamento foi realizado pelo Detran/RS, analisando-se o período de 1997 a 2016.

A desaceleração da economia é a explicação óbvia para o menor crescimento. Mas a avaliação divulgada pelo Detran, através de seu site, sugere também um movimento de mudança. Algumas pessoas já começam a perceber desvantagens no veículo particular: congestionamentos, custos de manutenção e estacionamento, entre outras. Esses fatores, muitas vezes, têm tornado o carro um inconveniente, mais que um conforto, o que tem feito muita gente buscar alternativas, como morar próximo do trabalho, utilizar transporte público e veículos alternativos, como a bicicleta.

O incremento da frota gaúcha foi de 144,4% em 20 anos. Em 1997, eram 2,6 milhões de veículos. Ao virar o ano de 2016, já eram 6,4 milhões, uma diferença de 3,7 milhões de veículos a mais circulando nas ruas e rodovias do Estado. Mesmo com a desaceleração do crescimento, o aumento expressivo da frota representa um grande desafio para os gestores de trânsito, não somente em termos de infraestrutura, mas também de conscientização e educação para o trânsito.

Na Timbaúva, também há grande fluxo, especialmente na Bruno de Andrade. Foto arquivo Jornal Ibiá

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