Ao total, 20 fichas de atendimento são entregues por dia. Aumentar o atendimento é inviável, afirma papiloscopista

“Desde segunda-feira eu luto para conseguir fazer a minha identidade e a do meu filho”. Foi assim que Luiz Carlos Modzelan, 55 anos, há nove anos afastado do trabalho, retratou a espera em frente ao prédio do Sistema Nacional de Emprego (Sine), na manhã de ontem. Do início da semana até ontem, a rotina dele foi alterada por conta disso. Acordar mais cedo e, juntamente com o filho Mateus Moraes Modzelan, de 10 anos, seguir a pé, do bairro Cinco de Maio, onde moram, até o Centro, fez parte do planejamento.
A fila, que de segundas a sexta-feiras se forma em frente à agência, é para a disputa de uma ficha para encaminhamento do documento. No total, diariamente, 20 atendimentos são realizados. Quem chega primeiro – e cedo – tem uma garantia a mais de êxito. Primeira e segunda via entram no mesmo serviço.
“Eu acredito que as senhas deveriam ser distribuídas antes, para que as pessoas não fiquem iludidas. Assim, os que não poderão ser atendidos voltam mais cedo para a casa”, propõe Luiz. Uma das sugestões dele para agilizar os processos e acabar com a fila de espera é aumentar o número de funcionários destinados a esse ofício. “Essa burocracia abala não apenas a mim, mas todo o pessoal que aguarda. Vários compromissos são deixados de lado para estar aqui. Neste horário, 7h30min, eu estaria levando a minha neta na escolinha. O sistema não está contribuindo com ninguém”, reivindica.
Ontem, após aproximadamente 1h30min de espera, o calvário teve fim. Seu Luiz conseguiu ser atendido e solicitar a segunda via da identidade. “Mas para o menino não deu. Precisava pegar o número do CPF no Correio e não lembrei. Erro meu”, lamentou.

“Precisei acordar às 5h porque moro longe, no Faxinal”
Helena Zenaide Davis Rodrigues, desempregada, 50 anos, e seu cunhado, também sem emprego, Alvinho Ferreira Machado, 55 anos e deficiente mental, acordaram às 5h para estarem às 6h30min no Sine. “Nós tivemos que vir a pé, pois não temos como custear a vinda”, explica.
Foi a primeira vez que eles comparecem à filial com o propósito de solicitar a 2ª via do documento – para ela. “Quando eu arrumar um emprego, vou precisar de uma identidade nova. Mas a demora toda e esta fila enorme é a maior vergonha. Nem parece que somos humanos, trabalhadores. É pior que bicho ficar dependendo deles para tudo”, afirma.
A incerteza inicial, porém, virou contentamento. Helena conseguiu garantir a sua ficha. “O ruim é esperar e não conseguir nada”, conclui.
Aproveitando as férias da loja em que trabalha como vendedora, Dirlaine Moreira Chassot, 42 anos, levou o filho pela segunda vez para fazer a documentação. Por volta das 6h55min, eles estavam de prontidão em frente à agência. “Hoje têm menos pessoas. Estou ciente de que eles disponibilizam o agendamento pela internet, porém, o prazo de comparecimento é mais demorado. Arriscamos vir direto”, comenta.
Ela defende que, para melhora no serviço, aqueles que aguardam deveriam ser atendidos no mesmo dia. “A identidade é um direito de todos, é um bem nosso. O documento é essencial para tudo. Quem está aqui é porque tem necessidade”, destaca. Por volta das 8h, com a abertura do expediente do Sine, ela descobriu que teria que retornar em outra oportunidade. “Não deu. Distribuíram todos os números”, lamentou, incomodada com a perda de tempo.
Como funciona na prática
Luiz Carlos da Silva, papiloscopista responsável pelos protocolos de identidade em Montenegro, há 13 anos, explica que o serviço, que antigamente era feito na delegacia, passou para o Sine. “O processo inicia com a entrega de fichas. Em todos os lugares, não apenas aqui. Montenegro é uma sede regional. Ao total, nove municípios são atendidos aqui para este tipo de solicitação”, diz.
Para amenizar a situação dos usuários, ele indica o agendamento pela internet. “Essa é uma época em que todo mundo lembra que precisa de documentos. Muitas pessoas vêm de última hora. A antecedência deve ser levada em conta nessas horas”, enfatiza.
Ainda de acordo com o papiloscopista, a fila sempre existiu. Porém, a possibilidade de novas contratações para atender a demanda é inviável. “Não temos funcionários nem para entregar antecipadamente as fichas. Os que chegam cedo são atendidos primeiro. Para solicitar mais uma estação de acolhimento, envolve muita burocracia. Hoje, até recém nascido tem a carteira, e há 8 anos o modelo de documento mudou. Tudo isso aumenta a demanda, e o Estado não acompanha. A prestação de serviço é precária em todos os segmentos”, desabafa.
Ainda assim, ele afirma que o serviço da cidade é mais rápido que em outros lugares, como Novo Hamburgo ou Porto Alegre, por exemplo. “Não vou dizer que é 100%, mas é o que melhor atende. Inclusive pessoas de outros municípios sabem que aqui o atendimento é ligeiro e procuram o serviço”, finaliza.
Espaço cedido pelo Sine
O agente administrativo Nelson Timm e o coordenador Magno Jorge Arnhold informam que a agência do Sine não tem responsabilidade pela distribuição de fichas e nem pelo encaminhamento de documentos de identidade. “A concessão das duas salas é por parte do Governo do Estado. As pessoas saem chateadas daqui, mas não temos jurisdição nenhuma sobre essa questão. O Sine é uma coisa, emissão de identidade é outra”, diz.
Aproximadamente 90% dos cidadãos que procuram a unidade pela manhã fazem encaminhamento de documento de identidade. “Apenas 10% vêm para outras funções”, aponta Nelson.
Site de agendamento
– Para economizar tempo e ir com garantia de atendimento à agência do Sine, o governo disponibiliza um site de agendamento. O endereço eletrônico www.tudofacil.rs.gov.br/servico/292/carteira-de-identidade tem o propósito de facilitar a vida do usuário.
– Presencialmente, o atendimento para emissão de documento de identidade, no Sine, em Montenegro, é das 8h às 14h.
– Todos os dias, antes de atender as pessoas que chegam de madrugada e ficam na fila, são priorizadas aquelas que fizeram o agendamento, o que pode estender a espera por várias horas.
– Em média os atendimentos duram 15 minutos, dependendo da particularidade de cada caso.
– Após realizar todos os atendimentos presenciais, os funcionários encaminham novos agendamentos feitos através do site e cuidam da burocracia.