Crime. Os quatro assaltantes fingiram estar cumprindo mandado de busca e apreensão, então amarram as vítimas
Quatro bandidos armados e vestindo uniforme semelhante à Polícia Civil assaltaram e fizeram uma família refém na manhã de quarta-feira, 19. O crime aconteceu na localidade de Passo da Serra, interior de Montenegro, por volta das 7h30min. A quadrilha chegou em um Honda Civic prata, placas de Porto Alegre, alegando cumprir mandado de busca e apreensão. Da casa levaram dois revólveres antigos calibre 32. Foi o terceiro registro de ação semelhante em 2018.
No terreno existem duas casas, sendo que a moradora de uma delas, de 51 anos, estava na residência do irmão. Quando os criminosos chegaram, perguntaram por ele e inclusive disseram o nome. O marido da vítima, também 51 anos, se encontrava na residência deles e ouviu a esposa falando alto e foi verificar. Os homens não estavam encapuzados, apenas um deles cobria o rosto com a camiseta.
Ele havia acabado de chegar da empresa onde trabalha durante a noite e levaria o filho de 12 deles ao curso de inglês no Centro. Quando chegou à casa do cunhado também acabou rendido, os três foram colocados no sofá. Pouco tempo depois, apareceu outro irmão da vítima e também foi rendido. Um dos homens, o mais agressivo, arrancou parte da cortina da sala e amarrou a mão dos adultos para trás, colocando-os deitados no chão.
Chamou a atenção o fato de os bandidos, em momento nenhum, pedirem objetos de valor ou dinheiro. Eles queriam apenas armas, parecendo terem informações de que as encontrariam na casa. Enquanto três vasculhavam os cômodos, revirando o guarda-roupas, o outro permaneceu do lado de fora.
“Ameaçaram matar nós, sacudiram a cabeça da minha esposa no chão. Nós deitados no chão, colocaram o revólver na nossa cabeça, mandaram não olhar para eles. Tinha um grandão só ‘metendo o terror’, um outro era mais educado, mais calmo”, conta o marido. A família registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Montenegro.
As vítimas só foram libertadas pelo outro irmão da mulher que chegou. Ninguém ficou ferido durante a ação. Muito nervosa, a esposa precisou de atendimento no Hospital Montenegro (HM). As armas levadas pelos meliantes eram antigas. Elas pertenciam ao pai do dono da casa, já falecido. As vítimas não quiseram ter os nomes e endereço do local revelados.
Operações são com viaturas ostensivas
O titular da 1ª DP, delegado Paulo Ricardo Costa, ressalta a possibilidade de este tipo de crime ser cometido por uma mesma quadrilha ligada à facção criminosa. Já houve registros de casos semelhantes em Montenegro, Salvador do Sul e Bom Princípio.
Ele salienta a importância de se prestar atenção em alguns detalhes. Um deles é o fato de, via de regra, os mandados só poder ser cumpridos durante o dia. Somente em casos especiais a Justiça autoriza a ação à noite. A BM ou a Polícia só podem entrar no período noturno na residência das pessoas para prestar socorro ou atender flagrantes. “Normalmente, em operações, essas com abordagens, não utilizamos viaturas discretas. Isso é um dado bem importante. Se a pessoa ver um carro estranho circulando, pode chamar a Brigada Militar, que conhece as viaturas discretas da Polícia Civil”, completa Costa.
A utilização de viaturas ostensivas tem outra justificativa. “Um segundo ponto importante é para aquele que está na atividade criminosa ver que são policiais, não um rival. Quando ele percebe que é um contrário à facção, ele vai lutar pela vida dele, não pela liberdade circunstancial que a Polícia pode tirar”, explica.
Além disso, os mandados são assinados pela autoridade policial. Assim, o delegado julga importante a população buscar saber quem são as pessoas que ocupam esses cargos.
Três casos semelhantes foram registrados no interior
Ao menos três assaltos usando o mesmo modo operanti foram registrado em Montenegro. Um deles foi em Santos Reis, interior de Montenegro, no dia 14 de junho. Três homens vestindo coletes da corporação e armados com pistolas chegaram em um carro. Disseram estar atrás de uma quadrilha responsável por roubo a banco em Maratá. Pouco tempo depois, anunciaram o roubo e renderam o proprietário e três amigos que estavam trabalhando em um galpão próximo à casa.
A mulher, que estava dormindo na residência, também foi rendida. Às cinco vítimas foram amarradas com plásticos e presas em um banheiro no galpão. Os homens fugiram levando uma quantia em dinheiro não revelada e joias.
Outro caso ocorreu no dia 10 de agosto, em estabelecimento comercial da localidade de Pesqueiro. Dois indivíduos usando uniformes da Civil renderam e amarraram o proprietário e outras duas pessoas. O caso mais surpreendente, porém foi em 12 de março. Dois homens se passaram por agentes fazendo blitz no comércio da Costa da Serra.
Enquanto um aguardava no carro o outro informava que estava apurando uma denúncia de venda ilegal de cigarros, e recolheria os produtos. Desconfiada, uma comerciante, que não quer ser identificada, dona do primeiro local a receber a dupla, ligou para a Delegacia de Polícia e constatou que não havia nenhuma investigação em andamento. Os dois acabaram presos em Cidreira, no Litoral Norte, no dia 16 de abril, em ação semelhante.