Ex-marido é condenado a 44 anos por matar terapeuta do Caps

Justiça. Mariane Isbarrola e a mãe dela, Terezinha da Silva, foram mortas a facadas

Após dois anos da morte da ex-terapeuta ocupacional do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Montenegro, Mariane Isbarrola, então com 30 anos; e da sua mãe, Terezinha de Fátima Pereira da Silva, 56 anos, a justiça foi tomada. Na noite da quinta-feira, dia 30, o Conselho de Sentença condenou Evandrios Martins dos Santos a 44 anos e oito meses de prisão em regime fechado. Ele foi culpado pelos crimes de feminicídios da ex-companheira Mariane, e da ex-sogra.

Mariane e a mãe levaram entre cinco e seis facadas

Os jurados o condenaram de acordo com a denúncia oferecida pelo Ministério Público (MP), apresentada pelo promotor Eugênio Paz Amorim. Dentre as revelações no julgamento, foi destacado o sentimento de posse do condenado pela vítima, incluindo situações em que ele a obrigava – inclusive com ameaça psicológica – a manter relações sexuais diárias. O réu, preso há 1 ano e 9 meses, não poderá apelar em liberdade.

“Ciúmes doentio”
Na manhã de 25 de abril de 2018, no bairro Humaitá, em Porto Alegre, a então terapeuta, que atuava há cinco anos no Caps de Montenegro, e sua mãe foram mortas a golpes de faca. A motivação foi o fato de o homem não aceitar o fim do relacionamento, como o próprio confessou já no período processual, quando também admitiu ter premeditado o ataque.

Mariane e Terezinha receberam entre cinco e seis estocadas. O crime ocorreu às 6h30min, no apartamento onde a família morava. Mariane foi atacada quando deixava a residência para vir trabalhar em Montenegro. Evandrios Martins dos Santos, teria se agachado no corredor para surpreender a vítima e a empurrado para dentro da residência, onde cometeu os homicídios.

Mãe e filha morreram na sala e a faca foi deixada em cima do sofá. As filhas do casal, de 7 e 4 anos, dormiam em um quarto do apartamento, no momento do duplo feminicídio. O crime comoveu desde ex-colegas de Montenegro até amigos e familiares.

Julgamento durou mais de 12h Foto: Divulgação/TJRS

Um crime que precisa ser enfrentado
O ex-marido havia ameaçado Mariane na sexta-feira, 20, anterior ao assassinato. Assim como muitas mulheres que são vítimas de violência doméstica, ela não denunciou o caso à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). Caso Mariane tivesse notificado, o destino da sua história poderia ser outro.

Segundo os dados do Relógio da Violência, do Instituto Maria da Penha, a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. Só até às 19h desta quinta-feira, 33.124 mulheres foram agredidas. Ainda de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2016 e 2018 foram mais de 3,2 mil mortes no País.

Para a presidente do Conselho Municipal de Defesa da Mulher (Comdim) e coordenadora da Rede Mulher, Carliane Pinheiro, a Kaká, o caso foi impactante, pois Mariane trabalhava no Caps atendendo mulheres vítimas de violência de Montenegro. “O feminicídio constitui a ponta de um iceberg. Quando todos os mecanismos de educação, de prevenção e de assistência falham, ele acaba sendo cometido”, fala.

Evandrios não aceitava o fim da relação com Mariane Foto: Reprodução Internet

Segundo ela, não basta somente a criminalização do feminicídio para coibí-lo, mas é preciso olhar debaixo da ponta do iceberg. Kaká aponta que mais políticas públicas voltadas à prevenção da violência são necessárias.

Para as mulheres que possam estar sofrendo agressões, Carliane respalda que é preciso denunciar, pois muitas vezes pode se estar em um relacionamento tóxico e não perceber. Para isso, existe uma rede de apoio para acolher as mulheres. “Temos um fluxograma com telefones das instituições de enfrentamento a violência doméstica. Este fluxograma foi feito em formato de tapeçaria em homenagem à Mariane, pois ela realizava uma oficina com as mulheres no CAPS”, completa.

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