Brasil precisa de estadista, defende Heitor Müller

Palestra. Presidente da Fiergs disse a empresários que o país não suporta mais os políticos que só olham para si

Não foi fácil fazer a digestão do almoço ontem, no Clube Riograndense — palco da palestra do presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, numa promoção da ACI Montenegro/Pareci Novo. Verdades nem sempre descem bem, e o montenegrino, no alto de seus 77 anos, tem vivências pessoais e profissionais que lhe permitem traçar um diagnóstico do Brasil em poucos minutos.

A crítica, no entanto, não vem desacompanhada de alternativas, de modo que a palestra dele pode, também, ser encarada como uma injeção de otimismo, desde que os potenciais sejam bem explorados e a população faça a sua parte. Como? Vote em pessoas de caráter, competentes e comprometidas com as questões do País em vez de se locupletarem e alimentarem a infinita sede partidária por dinheiro sujo e poder.

Ao destrinchar o tema “Brasil: O Estado e a Nação”, o líder da entidade das indústrias gaúchas bateu de mão fechada na corrupção e na cara de paisagem que a maioria da população faz diante disto. Criticou a intragável divergência entre os interesses da nação e os da classe política, que andam em rumos diametralmente opostos, assim como o péssimo nível de ensino no País, a estafante carga tributária, o descaso com a infraestrutura, o paquidérmico tamanho do Estado, a imensa burocracia, as distorcidas leis que favorecem quem está no poder e prejudicam a população (caso do foro privilegiado, por exemplo), o abandono da ética (especialmente nas estruturas públicas, que contaminaram o meio empresarial), o excesso de demandas judiciais, e o adiamento da reforma política, que não ocorre por ir contra os interesses dos congressistas. “Se houvesse convergência entre os donos do poder e a nação, seríamos um país invejável, invencível, progressista e muito melhor do que é hoje. Estado e nação deveriam estar casados, mas estão divorciados”, lamenta.

A fossa em que a classe política empurrou o Brasil impede que a economia nacional retorne para os trilhos, por mais que o empresariado se esforce. Com tanta instabilidade em Brasília, empreendedores postergam investimentos, o que prejudica a geração de empregos e, consequentemente, o consumo das famílias. É um ciclo de pessimismo que se retroalimenta sem perspectivas de superação. Salvo a eleição de 2018, que é apenas possibilidade, não garantia. “Nós abraçamos os que nos prometem mundos e fundos e condenamos os que produzem, geram riqueza, trabalho e renda.”

Na visão de Müller, a população deveria ser mais responsável e consciente na hora do voto e, neste sentido, eleger um estadista no próximo ano — um líder comprometido com um projeto de país, isto é, uma nação de legislação atualizada, de práticas éticas, de órgãos públicos mais eficientes e menos burocráticos, de tributos com efetivo retorno, de um Estado que sirva às pessoas em vez de servir-se das pessoas, de trabalhos profissionais mais voltados à tecnologia e menos braçais, de um sistema tributário mais equilibrado.

“Chegamos a tamanho absurdo que nem aumentando impostos resolve mais, porque não suportamos pagar mais. Este ano, o brasileiro trabalhou até 6 de junho apenas para pagar impostos. De tudo o que a indústria da transformação produz, 47% são tributos”, reclama.

Tudo está perdido?
Apesar do cenário bastante desfavorável, Heitor Müller citou bons exemplos, como a concessão de portos e aeroportos à iniciativa privada — medida que deve impactar no dia a dia dos gaúchos, já que o Salgado Filho passará a ser administrado por uma empresa alemã. Também destacou o projeto conhecido como “terceirização” da mão de obra, mas que prefere chamar de “especialização”, já que os profissionais tendem a atuar em nichos específicos. “Dizem que esse projeto vai precarizar as relações de trabalho. Mas como, se agora, além do empregador, também responde solidariamente a empresa que contratou o serviço terceirizado?”, analisa.

O presidente da Fiergs frisou que o Senai e o Sesi no Rio Grande do Sul, sob sua gestão na Fiergs, priorizaram investimentos em educação em detrimento do lazer, daí a origem das qualificadas escolas de Ensino Médio do Sesi, como a de Montenegro. Atitudes transformadoras de hoje é que farão a diferença no amanhã, diz. Sem isso, país deve continuar estacionado ou até regredir. Estado e nação devem, finalmente, caminhar na mesma direção. Todos ganharão.

Poder público custa demais
Heitor Müller citou que o Brasil tem o Poder Judiciário mais caro do Ocidente e o segundo Congresso que mais dá despesas no mundo, mas os serviços, contraditoriamente, não correspondem aos elevados gastos. Pouco se questiona neste sentido porque a educação vai muito mal, o que se revela no número de analfabetos, no mau desempenho geral do estudante brasileiro e na quantidade de pessoas que dependem do Estado para sobreviver.

Para onde vamos? O presidente da Fiergs tem lá suas dúvidas. Tirar Michel Temer de República? Ok, mas colocar quem no lugar? Pode ser que melhore, mas também pode ser que piore. O momento, conforme ele, soa como uma travessia agitada que impede a economia de deslanchar. A crise atual, acrescenta, atingiu a maior profundidade até hoje registrada devido à desonestidade e à incompetência das esferas públicas de poder, que não se renovam em nome da autoproteção. Juros altos, câmbio flutuante e excessos de processos judiciais são outros fatores que pesam contra a modernização do Brasil.

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