Uso da criatividade para despertar o interesse dos pequenos pela leitura

A REDESCOBERTA dos livros

No mundo atual, marcado pela revolução digital e pela ascensão constante da tecnologia, a tarefa de despertar o interesse das crianças pela leitura e pelos livros é desafiadora. A inovação está inserida desde o nascimento, transformado a maneira como as crianças interagem com o conhecimento. Nesse cenário, estimular o hábito da leitura desde cedo se torna uma missão nada fácil que requer disposição e criatividade. É neste ponto que o papel da família e da biblioteca pode fazer a diferença nos hábitos da garotada.

Os pais das pequenas irmãs Yasmin e Maya Boos da Silva, de 8 e 5 anos, dão exemplo de fomento à leitura. Lucas Vinícius Moraes da Silva, pai das meninas, encontrou uma forma diferente de fazer a filha mais velha se interessar pelo mundo das histórias, o que acabou gerando reflexos no comportamento da caçula. A menina é desafiada pelo pai a ler livros infantis, contos de fada, gibis e outras temáticas de seu gosto. Ela ainda junta as sílabas pausadamente, por isso o pai pede para que leia duas vezes. Depois de assimilar a história, Yasmin se reúne com Lucas para contar a interpretação que fez da obra. Feito isso, a pequena é recompensada com um novo livro.

“Quero que ela aprenda que tem de ler e entender o que está escrito. Comprei um lote de uns 30 livros para ir entregando aos poucos. Se eu tivesse simplesmente comprado e entregado, ela não iria dar valor. Assim ela própria vai ‘desbloqueando’ a recompensa e aprende sobre esforço e merecimento”, comenta o pai.

Yasmin afirma que gosta do método utilizado e mostra que já é fã de carteirinha dos livros. “Não tenho histórias preferidas, todas são muito legais”, diz a pequena leitora. Mas, as peripécias da Turma da Mônica ocupam um espaço especial na lista dos materiais que já passaram por suas mãos.

O que para Yasmin pode parecer uma brincadeira provocada pelo pai é, na verdade, a contribuição de Lucas e de sua esposa, Bruna Boos, para a formação dela como cidadã mais consciente e preparada para o futuro. “A gente sempre explica que quanto mais ela ler e estudar mais oportunidades terá na vida”, acrescenta a mãe da criança.

De pai para filhas
Lucas Vinícius tenta introduzir, sutilmente, na rotina da filha mais velha algo que na infância dele foi imposto por seu pai. “Meu pai, literalmente, me ordenou a leitura da coleção do Monteiro Lobato e eu fiz a contragosto. Mas no decorrer do tempo acabei gostando e continuei lendo”, recorda. “Segui com a série Vagalume, depois nos quadrinhos e assim foi indo”, relata. Tenho certeza que minha escrita e português falado só são bons por causa da leitura”, avalia Lucas.

A história entre as gerações desta família também abrange a filha mais nova do casal Lucas e Bruna. Maya ainda não é alfabetizada, mas já se inspira na ação da irmã frente aos livros. “Ela pega o livrinho, senta ao lado da irmã, vê as figuras e começa a falar em voz alta para que a gente olhe para ela e pense que está lendo”, conta Lucas.

Os livros também servem para unir ainda mais a família. Yasmin faz a leitura em voz alta para compartilhar a experiência com a irmãzinha que lhe faz companhia nos momentos de encontro com as palavras. “É muito legal”, conclui a primogênita.

O despertar para a leitura
Levar a filha à Biblioteca foi a forma que Edevaldo Martins, pai da Júlia Ramos, de 10 anos, encontrou para incentivar o hábito da leitura. Ele ressalta a importância desse estímulo, especialmente por que as crianças estão cada vez mais envolvidas com dispositivos eletrônicos e, com isso, acabam abandonando outras possibilidades. Para ele, é fundamental que a leitura seja valorizada e incentivada, pois proporciona benefícios ao desenvolvimento dos pequenos.

Ler já faz parte da rotina da Júlia, de 10 anos

Júlia é fã dos gibis e, assim como Maya, adora as histórias da Turma da Mônica. Retirar as “revistinhas” é um momento de alegria na companhia do pai, e essa história é exemplo de como o simples ato de ir à Biblioteca pode desencadear interesse duradouro pelos livros.

Para Edevaldo, conectar-se com a leitura é viver histórias e aprender algo novo a cada página. É uma jornada que enriquece a vida das crianças e contribui para a formação enquanto seres humanos mais sensíveis, criativos e conhecedores do mundo a sua volta.

A pequena escritora
Maria Fernanda de Mello Lenhardt, 14 anos, cresceu tendo os livros como companhia. Na infância, ela sonhava em escrever um. Se tornou figura popular entre grupos de escritores de Montenegro, participou de feiras e eventos de literatura, ao lado de sua mãe, Claudia Mello Lenhardt, o que fez despertar cada vez mais o gosto pela leitura. A menina passou a ser carinhosamente chamada de “pequena escritora”, mas com o tempo, a relação com as obras mudou um pouco, hoje ela gosta mais de ler do que escrever.

Quando pequena, Maria Fernanda lia histórias típicas daquela fase da vida, conteúdos lúdicos que transportavam seu pensamento para outros lugares . Os finais de semana eram períodos dedicados à leitura. Hoje, seus hábitos não mudaram tanto nesse aspecto.

Maria Fernanda aproveita os finais de semana para colocar a leitura em dia, no conforto do seu quarto

A jovem recorda dos primeiros contatos com a leitura. Entre eles, uma atividade na escolinha de educação infantil que frequentou. Maria conheceu o livro “Parque Di Versos”, do escritor montenegrino Carlos Fernando Leser, e teve a oportunidade de participar do encontro com o autor.

Desde a infância até agora, ela estima ter lido mais de 100 livros, mas não arrisca dar um número exato. A estudante do 8º ano do Ensino Fundamental tem preferência por romances, terror e sobrenatural.

O incentivo que recebeu quando era menor teve importante papel em seu interesse contínuo pelos livros. Maria Fernanda acredita que esse estímulo contribuiu para sua criatividade, vocabulário e conhecimento, moldando-a como a leitora que é hoje.

Quanto à “pequena escritora”, Maria Fê conta que, embora tenha parado de escrever histórias e contos longos há alguns anos, ainda escreve notas e poesias, mantendo viva a chama da escrita de forma mais íntima.

Ações para estimular a leitura
O acervo infantil da Biblioteca Pública Municipal Hélio Alves de Oliveira, em Montenegro, conta com 6.228 livros infanto-juvenis. Também existe possibilidade de acesso a leitura para quem mora do outro lado da cidade, no Telecentro e Biblioteca do bairro Timbaúva, ou seja, fica difícil arrumar uma desculpa para não ler. Contudo, para quem precisa de um “empurrãozinho” para procurar estes locais a equipe da Biblioteca está pronta para ajudar.

A Biblioteca estimula a leitura através de projetos como a Hora do Conto e a Visita Guiada, entre outros

A Biblioteca promove Roda de Conversa com escritores locais, Visita Guiada pela sede, Hora do Conto, projeto itinerante nas escolas e ainda divulga suas ações no Instagran. O foco é alcançar todos os públicos. “A Biblioteca é apresentada para os alunos, por meio do passeio com as escolas, e depois eles voltam com seus responsáveis. As crianças que participam da Hora do Conto, normalmente, retornam para se cadastrar e levar livros para casa. É um ciclo que se completa”, explica Leonardo Giongo, estagiário da Biblioteca.

Maria Terezinha Kraemer Canello, a Nica, diretora da Biblioteca, tem a experiência como professora (aposentada) que lhe permite avaliar o impacto da leitura na vida dos estudantes. “Proporciona maior vocabulário, desinibição e compreensão. A abertura de um livro revela discernimento sobre as coisas e diversifica os pensamentos, levando à evolução na interpretação de texto, na escrita e no relacionamento verbal”, diz Nica.“Seja gibis, revistas ou livros, o importante é a leitura ser prazerosa”, acrescenta.

“A Biblioteca abre a possibilidade de conhecer outros livros, autores e assuntos. Assim se forma a leitura crítica e também é adquirindo conhecimento”, opina a bibliotecária Alexandra Flores.

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