Algumas famílias estão fora de casa e não tem para onde voltar
Dos cerca de 600 desabrigados que estiveram em abrigos públicos de Montenegro durante as enchentes de maio, nesta semana restavam em torno de trinta pessoas na Casa de Passagem do Retiro Comunitário de Reabilitação Ocupacional (Recreo), situado no Centro da cidade. Recebendo quatro refeições por dia, além de abrigo com cama, tinham diferentes histórias e perspectivas, mas algo em comum: os prejuízos com a inundação.
De acordo com a Prefeitura, algumas casas estão passando por um processo de avaliação. Pelas análises realizadas, pelo menos duas famílias, que se encontram no Recreo, estão com suas residências inabitáveis, ou seja, a estrutura foi comprometida e não podem mais ser ocupadas.
Casa reformada
Moradora da Rua Fernando Ferrari, do bairro Industrial, Serenita da Silva Ribeiro, de 65 anos, já estava com seus pertences separados para voltar para sua moradia. “A casa foi reformada. Só falta botar as coisas dentro”, disse, enquanto aguardava um caminhão para o transporte.
Ao lado de netos e bisnetos, totalizando sete pessoas, Serenita esteve por 22 dias no ginásio Domingos dos Santos, o “Domingão” do Parque Centenário, e na última semana ficou no Recreo.
“Fomos bem atendidos. Virei cozinheira do abrigo”, disse, sorrindo, enquanto mexia nas panelas da cozinha, mostrando a janta. “Tenho 14 bisnetos e vinte netos”, conta. Ainda aguarda colchão, cesta básica e os recursos do Auxílio Reconstrução. “A casa tá careca. Não tem nada dentro. Precisamos comprar móveis”, diz, lembrando que sofreu com a terceira cheia que alagou sua moradia, incluindo de junho e novembro de 2023, mais agora a de maio, que foi a maior de todas.
Sem perspectivas
Já para outras duas pessoas que seguem no Recreo, não existem perspectivas e o futuro é incerto.
Liceto Antônio Dapper, de 54 anos, conta que morava em um porão alugado e vivia de cuidar de carros estacionados junto ao Cais do Porto. Nos últimos dias estava no ginásio Domingão e agora no Recreo. “Não tenho casa”, disse, esperando poder voltar a trabalhar o quanto antes para poder alugar outro imóvel.
Ao seu lado, Paulo Roberto da Silva, de 56 anos, declarou que também não tem onde residir. “Minha casa no bairro Industrial caiu toda”, disse, enquanto segurava alguns alimentos. “Vou dar para alguém isso. Não tenho para onde levar”, afirmou, citando que neste mês dormiu nos ginásios do Sesi e Domingão, sendo que agora também está no Recreo. “Não tenho mais nada. Preciso de um cantinho para colocar meu colchão e ter onde dormir”, disse, em lágrimas.