Símbolos nazista e de apologia ao racismo são pichados em ônibus da Vimsa

RETROCESSO. Sociólogo analisa comportamento como destrutivo às ações de igualdade

O símbolo da suástica, as siglas KKK – iniciais de Ku Klux Klan, e a frase “anti niggers”, foram afixados no ônibus 18052 da empresa Viação Montenegro (Vimsa), que fazia a linha Rodoviária/Germano Henke. O fato foi registrado e encaminhada por um usuário da linha, que também contatou a prestadora de serviços para que adotasse medidas, e efetuou registro de ocorrência do caso, por meio da Delegacia Online, já que se tratam de símbolos de apologia ao nazismo e a intolerância racial.

Os símbolos foram constatados no último banco do veículo, do lado direito. Além da suástica, foram escritas as iniciais KKK (Ku Klux Klan), e a frase “anti niggers”, termo utilizado de forma pejorativa para se referir a pessoas negras). O Ku Klux Klan é uma organização terrorista formada por supremacistas brancos que surgiu nos Estados Unidos depois da Guerra Civil Americana com o intuito de perseguir e promover ataques contra afro-americanos e defensores dos direitos desse grupo. O Klan, como ficou conhecido, foi responsável por cometer atos violentos, como incêndio de casas habitadas por afro-americanos, espancamentos, enforcamentos e outros crimes.

A Vimsa informou à reportagem que o ônibus foi retirado de operação para ser limpo e ter as imagens apagadas. “Normalmente estes eventos (pinturas em áreas internas em materiais mais rígidos) são apagados na limpeza diária do veículo. Nestes casos não é feito registro de manutenção. Quando há degradação de material, o veículo é mantido na garagem e feito registro e devidas averiguações”, explicou Julio Hoerlle, gerente operacional da Vimsa.

A Polícia Civil não informou se há registros de casos semelhantes na região. Já a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos, da Câmara Municipal de Vereadores, não prestou informações nem posição diante do ocorrido, pois, segundo informado pelos próprios vereadores que integram o grupo, o mesmo ainda não esteve reunido neste ano; sendo assim, não há um representante escolhido (presidente) para falar em nome do trio.

Segundo a empresa, os símbolos já foram apagados

Para o jornalista e sociólogo Rogério Santos o fato é considerado um retrocesso que vem sendo percebido há anos. “Não me surpreende, porque faz tempo que essas ideias prosperam dentre muitos, principalmente entre os mais jovens”, observa. “Teve uma época em que se discutia que eles faziam isso por ato de rebeldia e por certa ignorância do tema. Hoje, com internet, que possibilita a pesquisa do significado, eles sabem exatamente o que é”, acrescenta.

Conforme o sociólogo, esses pensamentos são normalmente encobertos por outros apelos como, por exemplo, patriotismo exacerbado ou conservadorismo. “Esse movimento é mais comum entre os jovens que se jogam. É uma classe mais exaltada em atos políticos. Os efeitos são retrocesso total. Retrocesso social de uma cidade, gerando aumento no racismo, a intolerância religiosa e de gênero, das pessoas se acharem superiores às outras. E o debate sai das ideias e vai para a questão das ofensas e violência física”, pontua.

Educar para mudar ideias e comportamentos
O sociólogo lembra que o nazismo, sendo uma forma de fascismo, tem suas raízes na extrema-direita e teve origem na Itália durante o período de Mussolini, influenciando movimentos em todo o mundo, como o Integralismo no Brasil. Apesar disso, ele observa que em Montenegro, não percebe a presença desse tipo de ideologia, mas nota alguns debates ocorrendo online e em grupos fechados.

Rogério ressalta a importância da VIMSA registrar ocorrência e, se possível, identificar os responsáveis por propagar símbolos nazistas, pois isso é crime segundo a Lei Federal n º 7716 de 1979. Contudo, para ele, apenas a repressão não resolve o problema. Ele enfatiza que a educação é fundamental para combater essas ideologias, promovendo uma consciência histórica mais ampla e capacitando as pessoas a lidarem com as contradições de forma inteligente e racional. Para ele, políticas públicas comprometidas com o fortalecimento do Estado Democrático de Direito são essenciais, enfatizando que a repressão não é a solução, mas sim o diálogo e a educação.

Últimas Notícias

Destaques