Sedentarismo infantil: atividade física deve ser estimulada na infância

Correr, pular, dançar, jogar bola e brincar são atividades que fazem parte de uma infância saudável. Manter o corpo ativo desde cedo traz inúmeros benefícios que serão úteis para a vida toda. É importante lembrar que nunca é tarde para começar a dar um “chega pra lá” no sedentarismo, mas quando o hábito é estimulado desde a infância, maiores são as chances de uma vida adulta ativa. Segundo João Ronaldo Krauzer, chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Moinhos de Vento, o sedentarismo infantil é uma situação complexa e que demanda muito do trabalho do pediatra. “Uma criança sedentária não desempenha nenhum papel além da sua atividade habitual, então ela não é exposta a nenhum tipo de atividade física”, define.

Conforme Krauzer, durante a consulta de avaliação de acompanhamento, deve obrigatoriamente fazer parte, dentro dos hábitos da criança, além das questões alimentares, nutricionais, a atividade física. “O que esta criança está fazendo? Ela só faz atividade dentro da escola? Tem atividade extra escolar?”, indaga. Ainda, ele alerta que se a alimentação estiver incorreta, tudo alinhado irá gerar um problema sério em relação a obesidade e risco cardíaco no futuro.

João Ronaldo Krauzer, chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Moinhos de Vento

Como faz parte da avaliação da consulta de rotina, o sedentarismo deve ser combatido assim que o pediatra se der conta que isso está acontecendo. Por isso, Krauzer afirma que é de extrema importância que o profissional questione a respeito das atividades. “É importante que o médico tenha firmeza e clareza a respeito do que o sedentarismo pode provocar nessa criança”, como aumento de peso, interferência nas questões alimentares e autoestima. Além disso, ao praticar atividades físicas, o corpo libera endorfinas que também auxiliam no humor. “Então, uma criança muito sedentária tende a ser uma criança mais fechada, uma criança que tem pouca participação”, diz. Sendo assim, ser ativo, brincar e até mesmo fazer atividades em conjunto, deve acontecer o mais breve possível.

Krauzer relembra que estimular a atividade física vai muito além de convidar a criança para jogar bola no fim de semana, por exemplo. Brincar, correr, fazer atividades ao ar livre. Todas estas atividades devem fazer parte da vida da criança. Ele afirma que a família que não tiver condições de matricular o filho em aulas de futebol, judô, balé, etc, pode sim combater o sedentarismo dentro da sua própria casa. “No seu bairro, em uma praça, nos finais de semana, levar para passear e proporcionar atividades que possam fazer com que a criança se movimente e a partir daí já passa a ser um combate ao sedentarismo”, destaca. “Atividade física na infância não necessariamente significa que a criança tem que se tornar um astro do esporte. Ela tem que fazer atividade para que ela se sinta estimulada e possa desempenhar, ter uma qualidade de vida melhor”, acrescenta.

Atividades para cada faixa etária
O pediatra ressalta que para crianças menores, abaixo de seis meses e abaixo de um ano, as atividades que devem ser estimuladas são as atividades do dia a dia. Sendo assim, estimular a criança a rolar e na sequência sentar, por exemplo, já vai auxiliar no desenvolvimento para engatinhar. “Engatinhar é uma atividade física bastante importante para aquelas crianças que desenvolvem essa habilidade, porque há um gasto energético significativo e a gente observa que nessa faixa etária, as crianças mesmo que se alimentem, mamem bem e comam bem, o ganho de peso começa a ficar reduzido, porque elas tem um gasto energético importante”, explica. Portanto, sim, engatinhar é uma atividade física.

A partir de um ano, um ano e um mês, um ano e dois meses ou um pouco mais, a criança começa a caminhar. Nesta fase é importante justamente o estímulo para a caminhada, dentro de casa e também ao ar livre. “Brincar em uma praça, fazer com que a criança interaja com outras crianças já começa a estimular a questão da coletividade. Isso é muito importante também”, confirma. A partir do momento que a criança já consegue ter algum grau de entendimento, pode-se pensar em iniciar atividades pontuais.

Para Krauzer, a natação é uma excelente opção para crianças já a partir do sexto mês de vida. “A natação é um ótimo exercício que ajuda a melhorar a capacidade respiratória e é aeróbico. Mesmo para crianças que têm alguma restrição respiratória, ela, melhorando a capacidade respiratória, por fazer uma atividade desse tipo, vai ajudar a melhorar”, afirma. Após, entram outras atividades. A partir dos cinco/seis anos de idade, a prática do futebol, judô, capoeira e balé são exemplos muito indicados que promovem bastante movimentação.

Para crianças de 7 a 10 anos de idade, atividades que funcionam bem, segundo o profissional, são as coletivas, como futebol, handebol, vôlei e basquete. “Quando a gente coloca, além do esporte, da atividade para se tirar o sedentarismo, algo lúdico, como é o esporte coletivo, isso ajuda muito”, sinaliza.

Família e escola como aliadas
Afinal, como inserir as atividades na rotina das crianças? O pediatra Krauzer afirma que a família também realizar as atividades é um grande começo. “Uma família que pratica atividade física em conjunto, não necessariamente a mesma atividade, mas uma criança que vê o seu pai, sua mãe, seu irmão praticando uma atividade física também vai se sentir mais estimulado”, destaca. Por isso, ele define que o exemplo é a melhor forma de conseguir que a criança tenha vontade de praticar determinado esporte. Outra dica dada pelo profissional é apresentar diversos tipos de esporte, até que a criança se mostre interessada por algum deles.

Krauzer ainda afirma que a escola tem um papel fundamental neste estímulo. Porém, não pode ser uma atividade que não tenha supervisão adequada. “O professor tem que estar junto, fiscalizando e atuando para que as crianças façam o esporte da melhor forma possível. As crianças, em geral, têm uma identificação com os professores, então se ele for legal, se ele estimular, eles também irão querer fazer uma atividade mais voltada para essa coisa lúdica que funciona muito bem nas escolas”, acrescenta.

Atividades até mesmo como desenhar podem tirar o foco das telas para uma vida sem sedentarismo

Benefícios e contra-indicações
Krauzer pontua que a atividade física na infância faz com que a criança cresça de forma mais saudável. Isso porque, quando ela se desgasta um pouco mais, gasta mais energia, vai sentir a necessidade de comer melhor, assim como vai ingerir mais líquido e também, liberando endorfinas, terá um humor melhorado. “Não consigo ver nenhum malefício em uma criança que esteja dedicada à educação física”, pontua.

O cuidado deve ser voltado para não extrapolar e estimular o exercício além da conta. Por exemplo, em campeonatos como de patinação e balé, são atividades que podem provocar um grau de ansiedade na criança, por isso, precisa haver o cuidado. Outro ponto são as lesões de repetição, que são muito comuns quando se pratica um esporte muito intenso, como ginásticas. “É muito interessante, mas sempre com a visualização sobre o cuidado de um profissional adequado”, conclui.

O pediatra relembra que no período da infância, tenta-se adequar os esportes de acordo com determinada faixa etária, mas não existe uma contra-indicação de fazer essa ou aquela atividade. “Pedimos para que, por exemplo, atividades que vão determinar levantamento de peso, musculação, seja aplicada em crianças a partir de 14 anos. Sempre supervisionada, porque se começar a fazer uma atividade sem um cuidado maior, tem o risco de fazer alguma lesão e tirá-la desse processo”, sinaliza. Porém, outras atividades aeróbicas, corridas, atividades ao ar livre, jogos coletivos e até mesmo o tênis, não oferecem risco e podem ser desenvolvidas pela maioria das faixas etárias.

A problemática das telas
O pediatra Krauzer também destaca a problemática do uso das “telas” na infância. Ele defende que enquanto a criança estiver ao ar livre brincando e se divertindo, ela não terá oportunidade de fixar nas telas. Durante o período da pandemia, houve um “boom” no uso de eletrônicos e o rescaldo ainda está ocorrendo. “Há um número significativo de crianças hoje que ficam jogando nos finais de semana inteiros em vez de sair para brincar e fazer alguma atividade com os amigos, assim, presos nas telas”, explica.

Telas precisam ser comedidas e com cuidado à faixa etária das crianças. Foto: freepik

Dito isso, a tela certamente vai colaborar muito com o sedentarismo, já que com celulares, tablets, videogames e computadores eles têm tudo na ponta dos dedos. “Eles conseguem jogar, conversar e praticar atividades ali simulando como se estivessem fazendo algum esporte. E, na verdade, do ponto de vista prático, ele mais prejudica do que ajuda”, afirma.

Para ele, a tela deve ser comedida, não evitada, mas obedecendo também as faixas etárias. “Criança abaixo de dois anos não deve ter contato com telas e acima disso tem que ter com muita parcimônia e com tempo restrito para que isso não venha se tornar um problema no futuro, do ponto de vista neurológico, psiquiátrico, visual e também o sedentarismo”, finaliza.

 

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