Audiência foi realizada pela Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa

Audiência pública em Montenegro debateu o possível fechamento do campus local

A audiência pública realizada na noite dessa quarta-feira, 29, sobre a possibilidade de saída da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) de Montenegro trouxe uma revelação ainda desconhecida. De acordo com a diretora executiva da Fundarte, Júlia Hummes, o prefeito Gustavo Zanatta correspondeu-se com a reitoria da instituição estadual oferecendo o repasse de uma área do Município, próxima da escola Adolfo Schuller, no bairro Panorama, para que a Uergs construísse a sua sede própria. A oferta, porém, teria sido negada.

De acordo com a representante da Fundarte, que vem acompanhando as tratativas de perto, há resistência da reitoria; que só aceitaria a cedência se ela já viesse acompanhada de um projeto arquitetônico para a construção da sede. Zanatta não pôde comparecer à audiência, mas a informação quanto a oferta feita foi confirmada pela secretária municipal de Educação, Cíglia da Silveira. O Ibiá tenta contato com a reitoria da universidade para obter mais detalhes.

Organizada pela Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa, a audiência pública reuniu estudantes, ex-estudantes e pessoas ligadas às Artes para falar sobre a possibilidade de fechamento do campus local, com seus quatro cursos de licenciatura e a pós graduação que são oferecidos gratuitamente. A universidade funciona, mediante aluguel, junto à Fundarte desde 2002; e ao longo dos anos, muitos debates ocorreram quanto à busca por uma sede própria ou, mesmo, da saída de Montenegro.

Mais recentemente, o movimento de fechamento ganhou força com o repasse do imóvel da antiga Fundação de Ciência e Tecnologia, em Porto Alegre, para a universidade. O espaço na capital abriu caminho para que algumas unidades do interior fossem transferidas; cortando custos do Estado com aluguel. Um grupo de professores que atua no campus local promoveu um estudo defendendo essa transferência. É o que está sendo avaliado pela reitoria.

AUSÊNCIAS

Na audiência, nenhum representante do movimento pró-saída de Montenegro compareceu. Convidados, o Executivo estadual e a reitoria da Uergs também não enviaram nenhum representante. A deputada estadual Juliana Brizola (PDT), que organizou a audiência após receber a demanda do vereador Paulo Azeredo, de seu partido, lamentou as ausências.  “A gente gostaria de escutar quais seriam os motivos e de argumentar em cima desses motivos com os que entendem ser um retrocesso perder a Uergs aqui em Montenegro. Seria importante que aqueles que não defendem a permanência colocassem a sua cara aqui e dissessem porque defendem que a Uergs vá para Porto Alegre”, declarou.

Durante mais de uma hora e meia, todas as falas feitas no evento realizado na Câmara de Vereadores foram em defesa da manutenção do campus montenegrino e da importância dele para toda a região. “Eu jamais teria a oportunidade de ser professor de Música, vindo de onde eu vim, se não fosse pela Uergs Montenegro. É a Uergs que sustenta o desenvolvimento cultural da região”, comentou o ex-aluno Lucas Braga.  As manifestações deram conta da formação de professores que abastecem as escolas da região; da descentralização da universidade pública; dos muitos espaços culturais liderados por ex-alunos da universidade; do desenvolvimento da economia criativa; e dos reconhecimentos de pesquisas, de mestres e doutores formados no campus que é referência e recebe estudantes de todo o País.

Presidida pela deputada Juliana Brizola (centro), audiência teve, na mesa, o vereador suplente Lucas Braga; a diretora executiva da Fundarte, Júlia Hummes; o vereador Paulo Azeredo; a presidente do sindicato dos professores municipais, Lucied Proença; o presidente do Diretório Acadêmico Regional das Artes, Luís Felipe Fernandes; e a secretária municipal de Educação e Cultura, Cíglia da Silveira

Estudantes também têm outras demandas

O presidente do Diretório Acadêmico Regional das Artes, Luís Felipe Fernandes, também destacou a importância da universidade, que já formou mais de 500 professores de Artes Visuais, Dança, Música ou Teatro ao longo de sua história. Mas fez questão de apontar outras demandas em prol da manutenção do campus e seus alunos no Município. Fernandes citou o desafio do transporte público, e a recorrente falta de linhas intermunicipais noturnas aos estudantes que necessitam. Também, as dificuldades encontradas por alunos que vêm à Montenegro para estudar – muitos de baixa renda – e encontram poucas oportunidades de emprego com horários flexíveis para as aulas; falta de acesso à alimentação popular acessível; e pouca flexibilidade nos contratos de aluguel. Ele disse que o Diretório já levou a pauta ao Executivo municipal e sugeriu algumas alternativas.

O que acontece agora?

Deputada estadual Juliana Brizola

Responsável por levar a demanda à Assembleia, o vereador Paulo Azeredo sinalizou que vai formatar um projeto de lei que reconheça, a nível municipal, a Uergs como um patrimônio cultural de Montenegro. A proposta é que uma lei como a tal ajude a barrar tratativas em prol da saída do Município. Já a deputada Juliana Brizola comprometeu-se em requerer um encontro com o governo do Estado – a Casa Civil e a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia – e a reitoria para abrir diálogo sobre o tema junto à comissão dos que estiveram na audiência pública. “É pra que a gente abra essa mesa de diálogo sincero e transparente, sobretudo com a comunidade acadêmica que não está sendo escutada neste momento”, declarou.

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