Sede do Executivo sofre com a ação do tempo e deve receber reforma
Há 100 anos, em um dia que coincidiu com a celebração do centenário da Independência do Brasil, um discurso emocionado do então intendente municipal, coronel Afonso Aurélio Porto, marcou a entrega do imponente edifício localizado na esquina das ruas João Pessoa e São João, no Centro de Montenegro. Na noite daquele dia, como é contado nas páginas da obra “Montenegro de ontem e de hoje”, os salões do edifício receberam um grande baile para celebrar a inauguração do prédio hoje conhecido como Palácio Rio Branco.
A imponente construção feita especificamente para servir como sede do Poder Executivo foi projetada por Ernesto Zietlow, que em 1912 havia assumido como engenheiro de obras públicas da Intendência Municipal. 100 anos depois, o palácio segue chamando atenção pela sua arquitetura do estilo da Renascença. A estrutura do prédio como é conhecida hoje, com o anexo aos fundos, é do final da década de 1980 e foi possibilitada através de uma negociação com a Igreja Católica.
No entanto, o tempo e a falta de investimentos não foram gentis com a estrutura do Palácio Rio Branco. Por conta do telhado danificado, de aberturas destruídas por cupins e outros problemas estruturais, o Governo Zanatta trabalha na mudança da sede do Executivo para um prédio alugado na Ramiro Barcelos, o que deve ocorrer em até 90 dias. Uma vez desocupado, o edifício histórico passará por uma reforma no telhado.
Antes dessa obra prevista, a última vez que o Palácio Rio Branco recebeu uma intervenção foi em 2009, quando foi feita a pintura do prédio. Em 2017, o Jornal Ibiá noticiou que uma reforma da edificação histórica e do anexo avaliada em R$ 5 milhões havia sido inclusa no Plano Plurianual de 2018-2022. No entanto, conforme a Administração Municipal, tal investimento não foi realizado por falta de recursos.
Segundo o Governo Zanatta, com após a substituição do telhado será realizado um estudo para a restauração de todo o prédio. “Depois deste trabalho, será possível avaliar os orçamentos e definir fontes de custeio”, informa o Executivo, por meio da sua assessoria de comunicação. Além disso, tal ação deve reavivar a ideia de realizar um concurso para a revitalização do complexo do Palácio Rio Branco.
O nome do palácio
Apesar de exaustivas pesquisas, a Administração Municipal não encontrou documentos oficiais, como leis ou decretos, que indiquem como se deu a nomeação do prédio. “Acredita-se que a decisão tenha sido tomada pelos governantes da época de maneira informal e preservada pelos administradores seguintes, sem a oficialização em lei ou decreto”, destaca resposta enviada pela assessoria de comunicação da Prefeitura.
Assim, especula-se que o nome dado ao prédio sede do Poder Executivo de Montenegro remete ao Barão de Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior. Nascido em 1845, o diplomata e político brasileiro teve grande participação na consolidação das fronteiras do Brasil. Inclusive, ele recebe o título de patrono da diplomacia brasileira. O Barão de Rio Branco recebeu seu título às vésperas do fim do período imperial, mas seguiu o utilizando mesmo após a proclamação da República. Paranhos Júnior faleceu em 1912, 10 anos antes da inauguração do Palácio Rio Branco.
Celebração com mostra e homenagens
Como forma de celebrar os 100 anos do Palácio Rio Branco, a Administração Municipal está organizando uma exposição, junto ao Gabinete do prefeito, com fotos e outras imagens do Palácio. A mostra conta até mesmo com uma pequena réplica em madeira, assim como referências ao responsável pelo projeto arquitetônico, o engenheiro Ernesto Zietlow.
A exposição está aberta para visitação de segunda a sexta-feira das 8h ao meio-dia e das 13h30min às 16h até o dia 30 de setembro, mediante agendamento pelo e-mail [email protected].
Além disso, o Palácio Rio Branco é tema da Semana da Pátria municipal, devendo ser lembrado de forma especial no desfile desta quarta-feira. O prédio histórico também receberá neste dia 7 uma solenidade de aniversário. O ato, que acontece em frente ao palácio, inicia às 18h30min. Entre as atrações estão apresentações da Camerata Montenegro, Coro Cantarte, Grupo Coral Vozes Montenegro, Keli Silva e Dança & Cia Flávio Azeredo.
Futuro do prédio deverá ser debatido
Com a reforma do telhado perto e um restauro mais profundo em vista, o futuro do Palácio Rio Branco também é pensado pela atual gestão municipal. No entendimento do Governo Zanatta, o prédio possui uma extensa vida útil, mas sua configuração e espaço restrito o tornam pouco funcional como sede do governo – especialmente num momento em que a legislação e a sociedade exigem acessibilidade. Assim, a ideia é promover um debate com a comunidade sobre o futuro uso do prédio historio.
Para o prefeito Gustavo Zanatta, a importância do prédio sede do Executivo vai além dos seus aspectos arquitetônicos. “Ele (o Palácio Rio Branco) é símbolo de poder, de organização, de ordem e de planejamento. É uma espécie de bússola, indicando os rumos da cidade, e de motor, onde as grandes decisões para a evolução de Montenegro são tomadas”, reflete. “Infelizmente, por décadas, esta estrutura foi negligenciada, como se a sua história – a nossa história – não devesse ser preservada. Nós queremos virar esta página, restaurando o Palácio Rio Branco para que ele continue sendo um motivo de orgulho para todos”, complementa.
O presidente do Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico de Montenegro (MPPHM), Ricardo Agádio Kraemer, também destaca a importância simbólica do Palácio Rio Branco. Ele defende que mesmo com a construção de um novo centro administrativo a edificação histórica siga sendo o local onde o prefeito recebe visitantes e despache. “Ele se mantém como sede do Poder Executivo, mas não precisa ter toda a estrutura”, avalia. Ricardo entende que o local também poderia servir como uma central de serviços ao cidadão.
Sobre a reforma do prédio histórico, o presidente do MPPHM defende a realização de audiências públicas, concurso e constituição de uma comissão para tratar do tema. Inclusive, ele lembra que o Movimento já esteve em conversa com a Administração Municipal sobre o tema, mas que os contatos cessaram. “Em paralelo, propomos ações de educação patrimonial visando dar conhecimento e visibilidade à comunidade deste importante patrimônio edificado que temos”, reforça Ricardo.