Outubro Rosa impacto psicológico e o papel do apoio emocional

O Outubro Rosa é mais do que uma campanha de prevenção ao câncer de mama; é também uma oportunidade para discutir o impacto psicológico que esse diagnóstico provoca nas mulheres. No Brasil, o câncer de mama é uma das doenças que mais afeta a saúde feminina, sendo a principal causa de morte por câncer entre mulheres, segundo o INCA. No entanto, os efeitos emocionais e psicológicos da doença, muitas vezes, não recebem a devida atenção. Para entender melhor essa questão, Mariane Hartmann, psicóloga e atual coordenadora do grupo de apoio Amigas do Peito, de Montenegro, destaca a importância do grupo que oferece suporte emocional e psicológico a mulheres em tratamento ou em fase de remissão do câncer de mama.

Mariane Hartmann,

A campanha Outubro Rosa exerce um papel essencial não só na conscientização sobre a prevenção do câncer de mama, mas também na sensibilização em relação ao impacto emocional que a doença causa. Mariane observa que campanhas educativas fornecem informações valiosas e desmistificam a doença. “Quando a sociedade tem acesso a essas informações, as mulheres passam a entender melhor os riscos, os tratamentos e os impactos emocionais, o que pode reduzir o estigma e a vergonha associada ao diagnóstico.”

Ela também destaca que as campanhas tornam a discussão sobre o câncer de mama mais acessível e menos assustadora. “Quanto mais falamos sobre isso, menos tabu o tema se torna. Além disso, as mulheres que enfrentam ou enfrentaram o câncer se sentem mais confortáveis para compartilhar suas histórias, mostrando que a superação é possível.”

Diagnóstico e o primeiro impacto psicológico
De acordo com Mariane, o momento do diagnóstico de câncer de mama é um dos mais desafiadores emocionalmente para as pacientes. “Sempre que recebemos uma notícia difícil, precisamos de tempo para assimilar o que está acontecendo. No caso do câncer de mama, o primeiro impacto emocional é de muito medo e, em alguns casos, de descrença”, explica. Ela destaca que as reações iniciais variam bastante: algumas mulheres entram em uma espécie de “modo automático”, focando exclusivamente nas etapas práticas do tratamento, enquanto outras enfrentam grande dificuldade para lidar emocionalmente com o diagnóstico.

Esse choque inicial, muitas vezes, ativa sentimentos como pavor da morte, angústia sobre a possibilidade de mastectomia (retirada total ou parcial da mama), e o receio dos efeitos colaterais severos do tratamento, como a perda de cabelo e as náuseas da quimioterapia. No entanto, cada mulher lida com essas emoções de maneira única. “A intensidade desses medos pode oscilar conforme a fase do tratamento e a personalidade da paciente. As experiências de vida e o apoio social também influenciam como o diagnóstico é processado”.

Medos e ansiedades no caminho
Mariane destaca que o medo da morte é o principal fator emocional com o qual muitas mulheres lidam após receberem o diagnóstico de câncer de mama. Entretanto, outros temores também pesam, como a possibilidade de não conseguir retornar às atividades normais, a perda da feminilidade devido à mastectomia e os efeitos colaterais do tratamento, que podem ser tanto físicos quanto emocionais. “O medo de perder uma parte importante do corpo, como a mama, pode afetar diretamente a autoestima e a autoimagem da mulher”, reflete.

A ansiedade sobre o futuro também é constante. “Muitas mulheres ficam obcecadas com a ideia de reincidência, mesmo depois de concluído o tratamento. A incerteza sobre os resultados e o temor de que o câncer possa voltar provocam grande desgaste emocional.” Em alguns casos, a ansiedade pode se tornar tão intensa que interfere nas relações sociais e na qualidade de vida.

Papel da positividade no processo de cura
Apesar do cenário desafiador, manter-se positiva durante o tratamento é fundamental, de acordo com Mariane. Ela explica que sentimentos de esperança, fé e desejo de viver podem ter um impacto profundo no bem-estar emocional e até no progresso do tratamento. “O otimismo pode ajudar a paciente a enfrentar o tratamento com mais coragem, manter relações saudáveis e aproveitar os bons momentos com amigos e familiares, o que é essencial para o equilíbrio emocional durante essa jornada.”

Além disso, estudos indicam que o estado emocional positivo afeta o corpo de maneira fisiológica, ajudando a fortalecer o sistema imunológico. A liberação de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, que estão relacionados ao bem-estar, pode ajudar a amenizar os efeitos do tratamento e melhorar a resposta ao mesmo.

Mariane enfatiza que manter uma mentalidade otimista é um facilitador. “Isso não significa que as mulheres devem estar sempre felizes, mas sim que podem encontrar força nos momentos mais desafiadores”.

Família e amigos facilitam a caminhada
Para Mariane, o apoio emocional de amigos e familiares é imprescindível durante o tratamento. “Quanto mais próximos somos de alguém, melhor podemos entender suas necessidades emocionais. O mais importante é estar presente, saber ouvir e ser uma rede de apoio sólida”. Ela ressalta que muitas pacientes precisam de alguém para ajudá-las em tarefas práticas, como acompanhá-las às consultas, preparar refeições ou simplesmente estar ao lado delas nos momentos mais difíceis.

É fundamental, no entanto, que o apoio emocional seja oferecido com sensibilidade. “Algumas mulheres podem se sentir desconfortáveis com olhares de pena ou frases bem-intencionadas, mas que soam insensíveis, como “não se preocupe, seu cabelo vai crescer de novo”. Cada mulher reage de maneira diferente, e o mais importante é que ela se sinta ouvida e respeitada em seus sentimentos”, diz.

Estratégias psicológicas
Entre as principais estratégias para enfrentar o tratamento, Mariane sugere a divisão do processo em etapas. “Concentrar-se em cada fase separadamente e viver um dia de cada vez pode ajudar a reduzir a ansiedade e o medo do futuro.” Aceitar que certas circunstâncias estão além do controle pessoal também é um passo essencial. “Quando falamos de aceitação, não estamos sugerindo passividade, mas sim um entendimento de que, em certos momentos, é preciso focar no que está ao alcance da paciente, como a adesão ao tratamento e o autocuidado.”

Além disso, cercar-se de pessoas que promovem bem-estar emocional e manter-se ativa, dentro das limitações de cada fase do tratamento, são atitudes que podem contribuir para a recuperação. Grupos de apoio como o Amigas do Peito oferecem um espaço seguro para compartilhar experiências, onde as mulheres podem se fortalecer mutuamente.

O grupo Amigas do Peito
O grupo Amigas do Peito é uma referência em apoio emocional para mulheres com câncer de mama em Montenegro. Fundado há quase duas décadas, o grupo é coordenado por Mariane desde 2023, quando assumiu a posição da psicóloga Paulina Pölking, que esteve à frente do projeto por muitos anos. “Nosso objetivo é proporcionar um espaço terapêutico para que as mulheres compartilhem suas histórias e encontrem apoio umas nas outras. É um ambiente onde elas podem se sentir compreendidas e acolhidas.” Os encontros acontecem duas vezes por mês e incluem dinâmicas terapêuticas, palestras informativas e troca de experiências entre as participantes. O grupo está vinculado à Unimed, que oferece suporte através do setor de Atenção Integral à Saúde.

O testemunho de Thais: uma jornada de superação
Thais Souza, 45, descobriu seu câncer de mama em agosto de 2022, o que deu início a um período desafiador de tratamentos e mudanças profundas. “Assim que recebi o diagnóstico, minha vida mudou completamente. Fiz a mastectomia e coloquei um expansor. Depois, em 2023, passei pela reconstrução da mama com prótese e também realizei uma mastopexia na outra mama para harmonizar o resultado”, detalha. Apesar das intervenções cirúrgicas, Thais ressalta que o processo ainda não terminou. “Ainda não fiz a pigmentação, mas já poderia ter feito. Cada etapa tem seu tempo, e a cada uma delas, é preciso se preparar mental e fisicamente.”

Thais propôs uma ação anual na escola CIEP chamada “Momento Rosa” em prol da conscientização da prevenção do câncer de mama

A jornada de Thais inclui um tratamento contínuo de quimioterapia oral, que deve durar aproximadamente cinco anos. Ela também faz uso de injeções trimestrais de medicação, o que demonstra o caráter prolongado e minucioso do tratamento. “Conforme o tipo do câncer e as recomendações do médico mastologista e oncologista, o tratamento é ajustado. O meu envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo psicóloga, psiquiatra, nutricionista, endocrinologista, cardiologista, entre outros especialistas.”

Thais enfatiza a necessidade de estar atenta aos efeitos colaterais das medicações e ao surgimento de outras condições de saúde. “O tratamento do câncer visa evitar a reincidência, mas também pode potencializar fatores pré-existentes, o que, às vezes, exige novas intervenções cirúrgicas ou tratamentos adicionais. É importante acompanhar de perto, com uma equipe médica dedicada.”

Além da atenção ao corpo, Thais sublinha a importância do cuidado com a mente e o espírito. “É fundamental desenvolver o autoconhecimento e se permitir olhar para dentro. Precisamos nos reconhecer, cuidar de nós mesmas e nos amar durante o processo. Isso envolve manter consultas e exames em dia, estar atenta às alterações físicas e emocionais e, acima de tudo, respeitar o próprio ritmo de recuperação.”

Participar de um grupo de apoio, como o Amigas do Peito, foi essencial para ela. “Estar ao lado de outras mulheres que passaram por situações semelhantes é muito significativo. Não se trata de comparar tratamentos ou julgar o que cada uma está fazendo, mas de partilhar vivências e oferecer suporte mútuo. O grupo nos dá um sentimento de pertencimento, o que acalenta e suaviza a jornada.”

Para Thais, o apoio da família também é indispensável. “A presença da família, seja ela biológica ou aquela que escolhemos com o coração, é crucial. Saber que temos com quem contar, que estamos cercadas de pessoas que nos amam e nos apoiam, é reconfortante. As vibrações positivas, orações, mensagens de carinho, tudo isso traz leveza para momentos que, muitas vezes, são pesados.” Por fim, Thais lembra que o processo de cura é contínuo e que todo cuidado faz diferença.

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