O Oscar dos recordes e da diversidade

Com 14 indicações em 13 categorias, “La la land: Cantando estações” é o grande destaque desse ano na corrida pelo Oscar. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou os indicados às 24 categorias do prêmio na última terça-feira. A 89ª edição da cerimônia acontecerá em 26 de fevereiro, em Los Angeles. O apresentador será Jimmmy Kimmel, escolhido após comandar o Emmy em 2012 e em 2016.

Tantas indicações colocam o musical “La la land” como recordistas do Oscar: a marca é a mesma de “Titanic” (1997) e “A malvada” (1950), os mais indicados até hoje. Além disso, o filme disputa as estatuetas das principais categorias: melhor filme, melhor diretor (Damien Chazelle), melhor ator (Ryan Gosling) e melhor atriz (Emma Stone), além de Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Design de Produção, Melhor Figurino, Melhor Canção Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som.

E tantas indicações são merecidíssimas, segundo o apaixonado por cinema – e musicais – Isaac Cruz. “O filme é uma experiência inspiradora que transcende as telas, é uma homenagem aos sonhadores”, destaca. Isaac avalia que, nas indicações de melhor ator, o páreo é o mais pesado. “Os favoritos são Casey Affleck (“Manchester a beira mar”) e Viggo Mortensen (“Capitão Fantástico”)”, opina. “Fiquei um pouco chateado por Amy Adams não ser indicada pelo filme “A Chegada”, que é um clássico instantâneo, e ela está impecável, mas vai entender a academia né?”, completa.

A lista de indicados desse ano também mostra que a Academia aprendeu alguma coisa com a imensa repercussão da campanha #OscarSoWhite (#OscarMuitoBranco), que criticou a ausência de artistas negros na edição do ano passado. Em 2017, todas as principais categorias possuem pelo menos um diretor, atriz ou ator negros. É a primeira vez na história que isso acontece.

Para Alexandre Ferraz, professor e acadêmico de Biologia, esta representatividade é muito importante e necessária. Segundo ele, muitos atores negros têm atuações brilhantes tanto quanto atores de outras etnias, ou até melhores. “Acredito que estas indicações vêm também com um singelo reparo. O não reconhecimento tido em edições anteriores, praticamente se institucionalizou. Em tempos dúbios como os que se passam nos Estados Unidos, é preciso lembrar que este país, na década de 1960, foi um dos pioneiros nas cotas raciais, para que, talvez, negros capacitados tivessem também o seu lugar no Oscar”, completa.

Outro recorde de 2017 vai para a atriz Meryl Streep, indicada ao Oscar de melhor atriz por seu papel na comédia musical “Florence: Quem é Essa Mulher?”. Esta foi a vigésima vez que ela recebeu uma indicação ao prêmio, sendo que levou a estatueta três vezes. Com isso, Meryl amplia seu próprio recorde de mais indicações, contando apenas as categorias de atuação.

Para Gabriela Almeida, jornalista, pesquisadora de cinema e professora universitária, os filmes lançados no cinema em 2016, no geral, seguiram a linha de muitas adaptações de histórias em quadrinhos e sequências de franquias consagradas. “É muito difícil falar em qualidade em termos absolutos, mas, no geral, 2016 foi de muitas produções marcantes”, diz Gabriela.

Aqui na redação do Ibiá, já temos nossas apostas. E você, qual obra acha que vai se consagrar neste ano? A gente não quer te influenciar – de jeito nenhum – mas tem uma crítica belíssima aí na página 2. Dá uma olhadinha.

 

“Moonlight: sob a luz do luar” teve oito indicações

 

os concorrentes nas principais categorias
Filme
“A chegada”
“Até o último homem”
“Estrelas além do tempo”
“Lion: Uma jornada para casa”
“Moonlight: Sob a luz do luar”
“Cercas”
“A qualquer custo”
“La la land: Cantando estações”
“Manchester à beira-mar”

Diretor
Dennis Villeneuve (“A chegada”)
Mel Gibson (“Até o último homem”)
Damien Chazelle (“La la land: Cantando estações”)
Kenneth Lonergan (“Manchester à beira-mar”)
Barry Jenkins (“Moonlight: Sob a luz do luar”)

Ator
Casey Affleck (“Manchester a beira mar”)
Denzel Washington (“Cercas”)
Ryan Gosling (“La La Land – Cantando estações”)
Andrew Garfield (“Até o Último Homem”)
Viggo Mortensen (“Capitão Fantástico”)

Atriz
Natalie Portman (“Jackie”)
Emma Stone (“La La Land – Cantando estações”)
Meryl Streep (“Florence: Quem é essa mulher?”)
Ruth Negga (“Loving“)
Isabelle Huppert (“Elle”)

Ator coadjuvante
Mahershala Ali (“Moonlight: Sob a luz do luar”)
Jeff Bridges (“A qualquer custo”)
Lucas Hedges (“Manchester à beira-mar”)
Dev Patel (“Lion: Uma jornada para casa”)
Michael Shannon (“Animais noturnos”)
Atriz coadjuvante
Viola Davis (“Cercas”)
Naomi Harris (“Moonlight: Sob a luz do luar”)
Nicole Kidman (“Lion: Uma jornada para casa”)
Octavia Spencer (“Estrelas além do tempo”)
Michelle Williams (“Manchester à beira-mar”)

Roteiro original
Damien Chazelle (“La la land: Cantando estações”)
Kenneth Lonergan (“Manchester à beira-mar”)
Taylor Sheridan (“A qualquer custo”)
Yorgos Lanthimos e Efthimis Filippou (“O lagosta”)
Mike Mills (“20th century woman”)

Roteiro adaptado
Barry Jenkins (“Moonlight: Sob a luz do luar”)
Luke Davies (“Lion: Uma jornada para casa”)
August Wilson (“Cercas”)
Allison Schroeder e Theodore Melfi (“Estrelas além do tempo”)
Eric Heisserer (“A chegada”)

Melhor animação
“Kubo e as cordas mágicas”
“Moana: Um mar de aventuras”
“Minha vida de abobrinha”
“A tartaruga vermelha”
“Zootopia”

Melhor canção original
“Audition (The fools who dream)” (“La la land: Cantando estações”); música de Justin Hurwitz e letra de Benj Pasek e Justin Paul
“Can’t stop the feeling” (“Trolls”); música e letra de Justin Timberlake, Max Martin e Karl Johan Schuster
“City of stars” (“La la land: Cantando estações”); música de Justin Hurwitz e letra de Benj Pasek e Justin Paul
“The empty chair” (“Jim: The James Foley Story”); música e letra de J. Ralph e Sting
“How far I’ll go” (“Moana: Um mar de aventuras”); música e letra Lin-Manuel Miranda

Melhor trilha sonora
Micha Levi (“Jackie”)
Justin Hurwitz (“La la land: Cantando estações”)
Nicholas Britell (“Moonlight: Sob a luz do luar”)
Thomas Newman (“Passageiros”)
Dustin O’Halloran e Hauschka (“Lion: Uma jornada para casa”)

 

La La Land: Cantando Estações e contando indicações
Eu queria poder escrever uma abertura de texto tão genial quanto é a cena de abertura do filme com o maior número de indicações ao Oscar (14) desse ano – e que também fez a limpa no Globo de Ouro, levando sete estatuetas, incluindo a de melhor filme. Mas não dá. La La Land – Cantando Estações deixa até os mais resistentes aos musicais boquiabertos na primeira cena. Um plano sequência muitíssimo bem executado, com muitos dançarinos, muita cor e um leitmotiv empolgante que te dá uma ideia otimista sobre o que esperar do filme dirigido por Damien Chazelle.

Infelizmente, segue assim até a segunda canção e perde força como Musical, pois passa a focar no casal protagonista e investe pouco em números grandiosos como os anteriores. Dançarinos, além dos dois, só entram em cena na última música, por exemplo. Só que isso não chega a ser um problema porque Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling) têm uma química tão legal que o filme ganha muita força como Romance. Os números musicais que seguem, mesmo essencialmente apresentados só pelos dois, continuam muito bons, inclusive dois deles foram indicados ao Oscar de Melhor Canção Original (City of Stars e The Fools Who Dream, que têm música de Justin Hurwitz e letra de Benj Pasek e Justin Paul).

La La Land se passa em Los Angeles (aí o porquê do LA) nos dias atuais, embora remeta muito aos anos 50 em figurinos, cenários e referências, e conta a história de dois sonhadores. Mia é uma atriz tentando conseguir entrar em uma grande produção. Sebastian é um pianista talentosíssimo que sonha em abrir seu próprio clube de Jazz. Em busca de seus sonhos, os dois acabam se encontrando e passando por todas as fases de um romance, começando pela negação do sentimento – que gera a melhor cena e número musical do filme – até chegar ao conflito que vai definir o rumo dos dois protagonistas. E é aí o principal acerto do roteiro: é muito fácil se identificar com os dois personagens. A busca do amor, os sonhos e a luta por eles, a tomada de decisões, escolhas, renúncias… Mia e Sebastian levam muitas das nossas aflições para a tela.

Embora tenha cenas impecavelmente bonitas – com destaque para os jogos de luz que funcionam como uma mudança de cenário sem que os atores se mexam – o maior brilho de La La Land não aparece em cena. O diretor é um guri de 32 anos que tem na bagagem nada mais nada menos que o brilhante Whiplash, vencedor de três Oscars em 2015. Ele não só dirigiu os dois longas como também os roteirizou. É incrível como um cara tão novo consegue conduzir tão bem um filme tenso como Whiplash e outro tão delicado como La La Land em um intervalo de um ano. Apesar dos enredos diferentes, os dois têm muita coisa em comum, como a busca dos protagonistas pelo sonho e o Jazz como trilha sonora. Muito legal ver que em cenas muito parecidas nos dois filmes os personagens reclamam que o Jazz está morrendo e que não podem deixar isso acontecer. Chazelle é músico de Jazz e claramente coloca suas experiências nos seus dois trabalhos.

La La Land tem tudo o que um bom Musical precisa – extravagância, sutileza, boas coreografias, ótimas canções – dentro de um Romance muitíssimo bem conduzido por dois atores indicados ao Oscar. É um filme com uma história muito simples, contada de forma excepcional em termos técnicos. Saí da sala de cinema lamentando que minha habilidade na dança pare nos passos da macarena, mas saí animado, leve e pensando sobre o peso das escolhas que eu tenho que fazer, assim como Mia e Sebastian fizeram. La La Land é altamente recomendável para quem gosta de Musicais e Romance, instrutivo para quem busca qualidade plástica e obrigatório para os sonhadores. Por: Vinícius Bühler da Rosa

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