Na última quarta-feira, 13, durante o programa especial da Rádio Ibiá Web em alusão ao Novembro Azul, mês dedicado à conscientização sobre a prevenção do câncer de próstata, o Dr. Celso Guttier, urologista cooperado à Unimed Vale do Caí foi o convidado da vez. A entrevista abordou os principais desafios enfrentados pelos homens diagnosticados com a doença, com foco em questões como impotência sexual, disfunção erétil, congelamento de sêmen e as alternativas de tratamento.
O câncer de próstata é um dos mais comuns entre os homens no Brasil. Dr. Celso Guttier destaca que a detecção precoce da doença pode mudar completamente o prognóstico e garantir uma vida sexual ativa após o tratamento. “Estima-se que um a cada seis homens no Brasil desenvolverá câncer de próstata ao longo da vida. No entanto, a boa notícia é que, com o diagnóstico precoce, a taxa de cura chega a mais de 90%. O importante é que, quando diagnosticada no estágio inicial, a doença pode ser tratada com menor agressividade, permitindo ao paciente manter uma vida sexual ativa após o tratamento”, explica.
De acordo com o DR. Guttier, exames regulares são fundamentais para o diagnóstico precoce e os homens devem se submeter a rastreamento a partir dos 50 anos, ou antes, caso possuam histórico familiar ou fatores de risco como obesidade ou etnia negra. “Se o paciente tem histórico familiar de câncer de próstata, é recomendável iniciar o rastreamento aos 45 anos. Para os homens da raça negra ou com fatores como obesidade, também devemos antecipar o acompanhamento”.
Impotência sexual e disfunção erétil
Um dos maiores receios dos pacientes diagnosticados com câncer de próstata é a possibilidade de perder a capacidade de manter uma vida sexual saudável após o tratamento. A impotência sexual, que pode ser resultado de diversos tratamentos, incluindo cirurgia, radioterapia e bloqueio hormonal, é um tema sensível e frequentemente abordado pelos pacientes. “Impotência sexual e disfunção erétil são conceitos muitas vezes confundidos. A impotência sexual não significa a falta de desejo, mas sim a dificuldade de manter uma ereção suficiente para a penetração. Já a disfunção erétil pode ser um sintoma pós-tratamento do câncer de próstata”, esclarece Dr. Guttier.
No entanto, ele enfatiza que, embora o tratamento possa afetar a função erétil, a grande maioria dos pacientes não fica impotente. “A minoria dos pacientes que realiza o tratamento do câncer de próstata sofre de impotência sexual. Atualmente, temos várias opções terapêuticas, como medicamentos orais, injeções locais no pênis e até mesmo próteses penianas. A chance de manter uma vida sexual ativa é real, mesmo após o tratamento”.
Com os avanços no tratamento do câncer de próstata, Dr. Guttier ressalta que a impotência sexual não precisa ser vista como uma sentença de fim de vida sexual. “Hoje temos diversas opções de tratamento, como medicações orais e injeções locais, além de dispositivos como a prótese peniana, que podem ajudar a restaurar a função erétil. O paciente pode, sim, continuar a ter relações sexuais satisfatórias”.
Ele também destaca que a qualidade da vida sexual antes do tratamento é um fator importante no sucesso pós-operatório. “Pacientes que já apresentavam uma boa função erétil antes da cirurgia tendem a ter melhores resultados após o tratamento. Portanto, manter um estilo de vida saudável e cuidar da saúde sexual ao longo dos anos é fundamental”.
Dr. Guttier deixa uma mensagem clara para os homens diagnosticados com câncer de próstata: “O câncer de próstata não precisa significar o fim da sua vida sexual. Com o tratamento adequado, o acompanhamento médico constante e o apoio emocional necessário, é possível continuar a ter uma vida sexual ativa e de qualidade.”
Apoio psicológico é essencial
Além dos tratamentos médicos, Dr. Guttier enfatiza a importância do apoio psicológico durante o tratamento do câncer de próstata. “O impacto emocional da disfunção erétil é significativo. Muitos pacientes sentem que a impotência comprometerá suas relações afetivas, o que pode gerar sentimentos de insegurança e até depressão”, observa o urologista.
O suporte psicológico e a orientação de profissionais qualificados são fundamentais para lidar com as mudanças emocionais e físicas após o diagnóstico e tratamento. “O apoio psicológico deve ser contínuo, envolvendo não apenas o paciente, mas também a família e o parceiro(a), para que todos compreendam a situação e se sintam mais fortalecidos no processo”, recomenda.

Mito x verdade
O câncer de próstata acabará com a minha vida sexual?
Em alguns tratamentos para o câncer de próstata, como a cirurgia, os nervos que rodeiam a próstata e controlam a ereção peniana podem ser lesionados. A extensão dessa lesão depende de uma série de fatores, como localização e tamanho do tumor e do tipo de tratamento realizado. A capacidade de recuperar o controle da função erétil também depende da idade do paciente e se já apresentava problemas de ereção antes da cirurgia.
A atividade sexual aumenta o risco de desenvolver câncer de próstata?
Alguns estudos mostram que homens que relataram ejaculações mais frequentes tinham um risco menor de desenvolver câncer de próstata. Entretanto, a ejaculação por si só e não sua frequência, não tem sido associada ao câncer de próstata.
O câncer de próstata afeta apenas homens idosos?
O câncer de próstata é mais comum com o aumento da idade, no entanto, homens de todas as idades devem ficar atentos aos fatores de risco pessoais e conversar com seus médicos para a realização de exames que permitam a detecção precoce da doença.
Não apresentar nenhum sintoma significa não ter câncer de próstata?
Não. O câncer de próstata é um dos cânceres mais assintomáticos, ou seja, nem todos os homens manifestam a doença. Muitas vezes os sintomas podem ser confundidos ou atribuídos a outras patologias. Os sinais de câncer de próstata são frequentemente detectados pela primeira vez durante um check-up de rotina.
O exame de toque retal não é necessário se eu fizer o exame PSA?
O exame de PSA é mais eficaz quando é feito concomitante ao toque retal e a avaliação dos fatores de risco do paciente.
O aumento do tamanho da glândula prostática é um sinal de câncer de próstata?
O aumento da próstata e o câncer de próstata são coisas diferentes. Os sinais e sintomas do aumento do tamanho da glândula incluem dificuldade de esvaziar completamente a bexiga, necessidade frequente de urinar durante a noite e incontinência urinária. O aumento da próstata acontece com a maioria dos homens à medida que envelhecem e esta condição não aumenta o risco de câncer de próstata.
O câncer de próstata é um câncer de crescimento lento, por isso não devo me preocupar?
Existem diferentes tipos de câncer de próstata, alguns de crescimento muito lento e outros mais agressivos. Uma vez confirmado o diagnóstico de câncer na próstata pelo patologista, o médico tem condições de caracterizar o potencial de agressividade do tumor e indicar o melhor tratamento com base em vários fatores, incluindo a idade do paciente e seu estado de saúde geral. Os pacientes precisam entender a complexidade da doença e tomar decisões em relação a seu tratamento em conjunto com seu médico.
A vasectomia causa câncer de próstata?
Estudos recentes mostram que a vasectomia não é um fator de risco para o câncer de próstata.
O câncer de próstata é contagioso?
O câncer de próstata não é uma doença infecciosa ou contagiosa. Isso significa que não há nenhuma chance da doença ser transmitida para outras pessoas.
Congelamento de sêmen
A questão da fertilidade é outro tema importante para homens jovens diagnosticados com câncer de próstata. Embora a doença afete principalmente homens mais velhos, o congelamento de sêmen é uma opção viável para aqueles que ainda desejam ter filhos após o tratamento. “Em casos de pacientes mais jovens, que ainda querem ser pais, o congelamento de sêmen pode ser uma excelente alternativa. Antes de iniciar o tratamento, é possível coletar e congelar o esperma, o que possibilita a fertilização no futuro, caso o paciente não consiga mais ejacular após a cirurgia”. Apesar de Montenegro, cidade onde ele atende, ainda não contar com o procedimento de congelamento de sêmen, Dr. Guttier destaca que em outras cidades da região, como Porto Alegre, Caxias do Sul e Novo Hamburgo, já existem centros especializados na técnica.

Exames regulares são essenciais
Dr. Guttier não cansa de ressaltar a importância da prevenção no combate ao câncer de próstata. “A principal forma de evitar complicações graves do câncer de próstata é o diagnóstico precoce. A realização de exames anuais, como o PSA (exame de sangue) e o toque retal, pode salvar vidas”, afirma. Ele reforça ainda a necessidade de conscientizar os homens sobre a importância de manter consultas regulares com urologistas, especialmente a partir dos 50 anos, ou antes, conforme os fatores de risco já mencionados. “A detecção precoce pode evitar que a doença se espalhe e comprometa a qualidade de vida do paciente. Por isso, as campanhas de conscientização como o Novembro Azul são fundamentais para que mais homens se preocupem com a saúde da próstata e façam exames regularmente”.