PRODUÇÃO terá como tema central a história de vida da avó do cineasta Ulisses da Motta
“Senhorinha” é uma mulher negra que vive junto a uma comunidade de imigrantes alemães, durante a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1945). Ela sabe falar alemão e serve como mediadora entre os soldados repressores e os colonos perseguidos. Esta e outras histórias da vida desta personagem real são o tema de uma série de curtas-metragem que serão filmados no Rio Grande do Sul com a pretensão de, mais à frente, compor um longa. A zona rural de Montenegro será um dos cenários desta produção, que já tem direção, elenco e equipe técnica definidos.
O projeto é capitaneado pelo cineasta Ulisses da Motta, que viveu em Montenegro até os 23 anos. É sua primeira experiência como diretor de um longa-metragem e ele sabe que há muitos desafios a vencer. “Cinema é uma arte que necessita estrutura, tecnologia e muitos artistas e técnicos envolvidos”, define. “Usar a criatividade é essencial para realizar esse sonho.”
O nome do projeto é “Fragmentos ao Vento”. A narrativa geral contará diferentes episódios de uma família no Rio Grande do Sul, dos anos 1920 até os dias atuais. Cada segmento será ambientado numa década diferente. A proposta é de longo prazo, mas a primeira parte está prestes a começar agora: o segmento Fragmentos ao Vento – 1945 tem suas filmagens marcadas para iniciar na segunda quinzena de novembro. A equipe estará em Montenegro dias 23 e 24.
O diretor explica que as histórias são inspiradas em episódios vividos por seus antepassados, com as devidas licenças poéticas. “Senhorinha era minha avó paterna, uma mulher de grande compaixão, que soube sobreviver a grandes desafios”, conta o cineasta. “Trouxe para a personagem mais alguns elementos para deixá-la mais universal”. Ela viveu no interior da região de Passo Fundo nas primeiras décadas do século XX e migrou para São Leopoldo nos anos 40, onde viveu até falecer, nos anos 70.
A produção é um esforço conjunto do diretor com as produtoras Colateral Filmes (de Porto Alegre) e Pé de Coelho Filmes (de Santa Cruz do Sul). “As gravações de Fragmentos ao Vento estão sendo realizadas através de parcerias estratégicas com prefeituras, moradores, restaurantes e empresas de cada município envolvido”, explica o produtor Eduardo Christofoli, da Colateral Filmes. “Isso é fundamental para a realização deste projeto. É um filme independente, sem patrocínio e com um orçamento limitado”, complementa, lembrando que equipe é formada por mais de 30 profissionais.
A produtora Maiara Fantinel ressalta que existe uma ideia de que só se faz cinema nos grandes centros. “Na realidade, hoje se faz cinema em qualquer lugar. Aos poucos, o cinema do interior dos estados está ganhando as telas”, aponta. Para ela, há muita riqueza no contato que o projeto promove com profissionais de diferentes origens. “Além disso, é muito importante mostrar cenários que fogem da capital, para o espectador ter acesso a outros locais que não aqueles sempre vistos”, sublinha.
Guarani no elenco
A integração de profissionais de diferentes cidades é um dos elementos centrais do projeto. Colocar na tela o rosto dos talentos locais virou um objetivo. Em São Leopoldo, as cenas terão moradores da cidade como figurantes. De Montenegro, participa o ator Marcos Guarani, que interpretará o personagem Josué. Em Sinimbu, moradores locais foram selecionados para participar do elenco, como a menina Lavínia Wendland, de 11 anos.
De acordo com o diretor, o projeto Fragmentos ao Vento terá continuidade no decorrer dos anos de 2020, 2021 e 2022. O plano é que os próximos enredos sejam ambientados nos dias atuais, na década de 1970 e na Revolução de 1923 e contarão as histórias dos antepassados e descendentes de Senhorinha.
Já o segmento de 1945 será lançado como curta em festivais a partir do ano que vem, como forma de promover o projeto como um todo e, quem sabe, viabilizá-lo através de outras parcerias, patrocínios ou editais públicos.
Ficha técnica
Elenco: Paula Souza, Bruno Fernandes, Ursula Collischon, Frederico Vittolla, Marcos Guarani, Heitor Sperb, Maurício Schneider, Lavínia Weiland e Marcello Crawshaw.
Direção: Ulisses da Motta
Roteiro: Ulisses da Motta e Marina Cardozo
Direção de Fotografia: Tiemy Saito
Direção de Arte: Gianna Soccol
Montagem: Alfredo Barros
Música: Clarisse Dienfenthäler
Produção: Colateral Filmes e Pé de Coelho Filmes