Empresário faleceu em Porto Alegre nessa terça-feira, aos 81 anos de idade
Montenegro, o Vale do Caí, todo o Estado e o País devem muito a Heitor José Müller, falecido nessa terça-feira, dia 8, no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Como empreendedor, ele ajudou na construção de várias empresas, dentre elas a Frangosul e a Agrogen; e foi chave ao desenvolvimento da indústria de aves do Rio Grande do Sul. Como liderança, esteve à frente de relevantes entidades; como a ACI Montenegro/Pareci Novo e a Fiergs, que presidiu por dois mandatos. Como esposo, pai, avô e bisavô, constituiu uma família que lembra com carinho de um homem dedicado e cheio de lições pra oferecer.
“Ele era focado em fazer o bem. Não tinha maldade na cabeça dele”, lembra o filho Gerson Müller, sem esconder a emoção. “Ele estava sempre construindo. Construindo soluções, construindo empresas, construindo relacionamentos. Eu já recebi tantas mensagens de pessoas de tudo o que é lugar. Por onde ele passava, ele deixava um rastro de reconhecimento, de admiração, que em poucas pessoas eu vi.”
Gerson lembra de um pai de personalidade forte, mas sempre muito amoroso com todos. “Ele sempre foi um cara muito família. Deixou bons exemplos para nós. É uma grande perda essa que estamos tendo, mas ele deu o exemplo que ele podia. Ele deixou muitas coisas boas pra gente”, completa.
Irmão de Heitor, o ex-prefeito de Tupandi Hélio Müller lembra com orgulho e gratidão da trajetória que pôde acompanhar de perto. “Ele não era só meu irmão. Ele era meu amigo. Ele me ajudou muito na vida”, confidencia. Não só as importantes empresas que ajudou a formar, Hélio destaca o envolvimento político do irmão, que por duas vezes foi vereador em Montenegro em uma época em que a função ainda não oferecia salário. “Era no amor, com certeza. O Heitor era muito envolvido em Montenegro”, recorda.
Sempre ativo na comunidade, Müller participou da organização de festas comunitárias e da direção de entidades como Lions e Clube Riograndense. “Ele não poupava esforços para ajudar as outras pessoas. Ele era um líder, um homem muito inteligente e mais do que a média, com certeza. Se não, não chegaria onde chegou”, pontua o irmão.
Nascido em Tupandi, quando o atual município ainda era distrito de Montenegro, em 1940, Heitor José Müller havia completado 81 anos de idade no último sábado, dia 5. Ele faleceu às 6h35 dessa terça-feira, por falência orgânica múltipla. Segundo boletim da casa de saúde, ele estava internado no Moinhos de Vento desde 17 de maio, com insuficiência cardíaca descompensada e infecção respiratória. Müller deixa a esposa, a senhora Nilsa, com quem era casado há 59 anos. Também três filhos, Gerson, Gilberto e Jaqueline; seis netos e um bisneto. O sepultamento ocorreu no fim do dia; no Cemitério Municipal de Montenegro.

Nome de peso para a avicultura gaúcha
Heitor Müller era formado técnico em Contabilidade e bacharel em Direito; porém, foi na avicultura que construiu sua trajetória de sucesso. Ao lado dos sócios, Affonso Wallauer, Flávio Sergio Wallauer, Carlos Wallauer, Astor Wallauer e Enor Müller que, em 1974, ele fundou a Frangosul. “O Heitor era alguém que tinha um apreço especial pelas pessoas e tratava a todos muito bem. Nos negócios, era muito dedicado. Dizia sempre que cada um precisava fazer a sua parte para não sobrecarregar o outro”, destaca o sócio Flávio Sérgio Wallauer, hoje presidente do Conselho de Administração da Vibra. Os dois formavam uma dupla e tanto. Enquanto Flávio liderava as estratégias comercial e financeira das empresas, Heitor desempenhava funções administrativas e de relações institucionais. “Ele foi um líder que soube trabalhar sua personalidade carismática para o fortalecimento do negócio, com responsabilidade social”, completa o colega.
O resto da história os montenegrinos conhecem bem. A prosperidade dos negócios da Frangosul despertou o interesse do grupo francês Doux, que adquiriu a empresa que, anos depois, passou à atual JBS. Mas Müller e os sócios não deixaram o segmento. Continuaram investindo na avicultura, então na área de multiplicação genética, criando a Agrogen. Em 2009, retomaram a produção e comercialização de carne de frango, fundando a Vibra, hoje com operações no Rio Grande do Sul e em outros estados brasileiros. É uma das principais empresas de Montenegro.

“O seu Heitor, além de pioneiro, criando a Frangosul como uma das primeiras indústrias do Brasil com produção de carne de frango e também a Agrogen, na área genética; foi um empreendedor de ponta para o setor”, destaca o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura e do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado, José Eduardo dos Santos. “A sua dedicação e sua competência contribuíram muito para a evolução da avicultura gaúcha e brasileira. Ele foi uma personalidade que valorizava ao máximo o associativismo, e eu acho que essa foi uma grande qualidade que o projetou como uma das principais lideranças do Brasil e do mundo no setor do agronegócio.”
Müller esteve à frente da associação entre 1988 e 1994; e foi fundador do sindicato. Ele também presidiu a extinta União Brasileira de Avicultura. Ainda no segmento de produção animal, em 2000, fundou a Novagro Granja Avícola S.A., também em Montenegro. Até 2019, foi vice-presidente do Conselho de Administração da Vibra.
Um homem que ajudou a impulsionar Montenegro
Müller foi presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços (ACI) de Montenegro e Pareci Novo entre 1988 e 1989. Também presidiu uma das principais entidades empresariais do Estado, a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), entre 2011 e 2017. “Ele sempre foi uma referência para a nossa cidade. Uma referência de empreendedor, uma referência de empresário que tinha atitude e que se envolvia com tudo de corpo e alma”, comenta o atual presidente da ACI, Karl Heinz Kindel. “É um cara reconhecidamente influente, não só aqui na região, mas para todo o Estado.” A entidade, em 2015, reconheceu Heitor Müller com o Troféu Jacob Renner, sua maior honraria.
Na Fiergs, como forma de luto, estão suspensas as reuniões do conselho de vice-presidentes e das diretorias até o fim da semana. As bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul, que emolduram as sedes das entidades, ficarão a meio mastro. “Presto minha solidariedade a todos os seus familiares, amigos e companheiros das diretorias das duas gestões em que presidiu a Federação e o Centro das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul”, pontuou o atual presidente da Federação, Gilberto Porcello Petry.
À frente da entidade, Heitor Müller também administrou o Serviço Social da Indústria (Sesi-RS), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-RS) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL-RS). Enquanto diretor, foi peça chave para a construção do Centro Esportivo do Sesi, em Montenegro. Após, já presidente, também trouxe a Escola do Sesi, uma importante referência em educação na região. “Todo aquele centro social do Sesi de Montenegro e do Senai, tudo se deve a figura dele”, lembra o empresário Marcelo Cardona, também ex-presidente da ACI.
Cardona conta que, além da fundação das empresas e do fomento à avicultura, Müller também ajudou no desenvolvimento de Montenegro fomentando a vinda de novos empreendimentos para o Município. “Quem trouxe a informação de que a John Deere poderia se instalar aqui e começou todo o processo de negociação para a vinda à Montenegro foi ele”, revela o empresário. “A relação da informação se deu porque ele adquiriu uma empresa da John Deere em Santo Ângelo. Eu era presidente da ACI na época e nós trabalhamos juntos nesse sentido.”

Marcelo Cardona também destaca que, quando atuava na secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais do Estado, ele tinha no co-fundador da Frangosul uma referência. “Todas as empresas que nós atraímos para Montenegro nesse período, como a Polo Films, a CBC e a Bepo, tinham no roteiro de visitação à cidade uma agenda com o seu Heitor Müller. Ele sempre falava com muito entusiasmo de Montenegro e referendava de um empresário local que a cidade tinha condição de receber os empreendimentos.”
Müller também foi sócio-fundador da Deltapar Investimentos S.A., fundada em 2002, com sede em Montenegro, onde atuava como presidente. A Deltapar que adquiriu, no ano de 2004, uma fundição em Santo Ângelo que pertencia à John Deere. Era criada a Fundimisa.
Lideranças lamentam a perda
Montenegro teve luto oficial de três dias decretado pelo prefeito Gustavo Zanatta. “A cidade se despede hoje de um dos maiores líderes de sua história. Heitor Müller criou empresas e empregos e grande parte dos montenegrinos conquistou o seu sustento trabalhando em algum empreendimento com DNA desse grande homem. Seremos eternamente gratos pelo seu exemplo de determinação, por sua visão empresarial e humana, por colocar Montenegro sempre em primeiro plano e pela inestimável contribuição que deu ao Rio Grande do Sul e ao Brasil”, escreveu o chefe do Executivo montenegrino.
O governador Eduardo Leite também lamentou o ocorrido: “A indústria gaúcha perdeu uma grande liderança. Heitor Müller foi um homem com espírito empreendedor, de diálogo, e que presidiu com muita capacidade a Fiergs e outras entidades importantes do RS. Meus sentimentos aos familiares e amigos.”
Presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Gabriel Souza (MDB) falou de um importante legado que é deixado a todo o Rio Grande do Sul. “Um dos maiores empresários do Vale do Caí, Müller fomentou o ramo avicultor, sendo um dos principais responsáveis pelo seu impulsionamento e contribuindo para o desenvolvimento do Estado e da nossa economia”, destacou. Em 2011, a Assembleia havia concedido a sua maior distinção ao falecido: a Medalha do Mérito Farroupilha.

O presidente da Câmara de Vereadores de Montenegro, vereador Juarez Vieira da Silva (PTB), também se manifestou. “Lamentamos, profundamente, a morte deste homem que tanto fez por nossa cidade. Era uma das maiores referências no ramo empresarial do nosso Estado e, também, do País. Em nome dos demais colegas vereadores, deixo aqui nossos sentimentos à família e amigos de Heitor Müller”, trouxe o parlamentar, em nota oficial. Müller foi suplente de vereador, na casa, entre 1969 e 1972 e, depois, vereador entre 1973 e 1976.
O senador Lasier Martins (Podemos) contou em uma rede social que conviveu com Heitor Müller desde o Ginásio São João Batista. “Sempre foi um líder, competente em bem-humorado. Uma grande perda!”, colocou. O senador Luis Carlos Heinze (PP) escreveu de Müller como um exemplo de empreendedorismo e de bom relacionamento com todos. “Um rosto marcante pela dedicação à indústria do nosso estado”, destacou.
A Associação dos Diários do Interior, do qual o Jornal Ibiá faz parte, também lamentou o falecimento. “Heitor Müller foi um empresário moderno e com enorme empatia. Ele sempre soube o valor do coletivo e da união da forças para fazer prosperar a indústria gaúcha. Com a ADI/RS desenvolveu diversas parcerias, como o prêmio de jornalismo patrocinado pela Fiergs”, destacou o presidente da entidade, Adair Weiss.