Fundarte em readaptação

Após volta às aulas escalonada, alunos e mestres se adequam à nova realidade

Aos poucos, após quase dois anos de pandemia com aulas restritamente remotas, a Fundação Municipal de Artes de Montenegro, a Fundarte, retomou, no início deste mês, as lições presenciais. O planejamento continua sendo diferente de tudo que a escola já vivenciou, mas o esforço tem sido coletivo para que a retomada seja um sucesso, com todos os cuidados necessários, levando em consideração que a pandemia ainda está presente. As aulas ocorrem em horários escalonados e com demarcações no chão em todas as salas de aula. Quanto à lotação de cada aula, depende unicamente do tamanho do espaço, já que tem que haver um espaço seguro entre um aluno e outro, principalmente nas turmas que não são apenas instrumentais.

Patrick Aozani Moraes, professor de Ballet da Fundarte há seis anos, explica que não é possível destacar a maior dificuldade do período pandêmico, já que todas as metodologias e conteúdos tiveram de ser adaptados. “A conexão de internet é um problema até hoje, pois nós dependemos que ela funcione bem. O início do período das aulas on-line foi um momento difícil, pois ainda não tínhamos experiência nesse formato de aulas à distância. Acredito que a adaptação do espaço que os alunos e alunas tiveram que fazer em suas casas, também foi algo que levou um certo tempo para ficar mais próximo ao ambiente da sala de Ballet da Fundarte”, ressalta.

Adaptação para ter qualidade
O processo de adaptação, segundo Moraes, foi ocorrendo à medida que as aulas eram realizadas. No primeiro momento, as aulas eram síncronas, ou seja, ocorriam em tempo real com a interação virtual entre professor e os alunos com atividades por escrito, ou, ainda, com aulas gravadas e enviadas através de WhatsApp. “Identificamos que esse formato síncrono era mais eficiente. Com isso, passamos a desenvolver atividades que se aproximavam efetivamente da aula presencial, mas a maior adaptação foi na forma de trabalhar os conteúdos específicos das turmas”, relembra.

Patrick Moraes explica que todos os estudos pedagógicos para o momento de pandemia da Fundarte foram voltados à adaptação das aulas para manter a qualidade que a fundação oferece presencialmente. “A qualidade do ensino de Arte da Fundarte é o que faz com que os alunos e alunas permaneçam matriculados conosco. Ofertamos e adaptamos horários e turmas para melhor atender a demanda de cada aluno e com isso incentivar e dar possibilidade para esse aluno permanecer fazendo aula.”

Nesta turma de Ballet, além do professor, apenas mais três alunas estavam em sala para evitar aglomeração

Para o professor, o retorno das aulas presenciais é necessário, mas desde que realizado com muito cuidado com os protocolos, coisa que a fundação zela. Espaços foram demarcados e número de alunos em cada sala também. “Tem que ocorrer com total segurança para os alunos, alunas, professores e funcionários da Fundarte. Discutimos diariamente os protocolos específicos de cada área de atuação e os cumprimos à risca. A Fundarte adequou e demarcou o espaço físico conforme indicam os protocolos sanitários; criou um sistema de retorno por escalonamento de turmas e áreas de atuação: Teatro, Dança, Artes Visuais e Música. Mesmo assim alguns não conseguiram se adaptar ao novo formato. Entendemos a situação e ficamos à disposição para que esses alunos e alunas retornem assim que se sentirem confortáveis”, salienta. “Com o retorno presencial há três semanas, estamos percebendo quão foi importante manter as aulas on-line, mas também o quanto é importante retornar ao sistema presencial”, finaliza o professor.

Dificuldades e aprendizado
Yasmin Pereira de Azevedo, 11, cursa Ballet na Fundarte há mais ou menos sete anos e, para ela, não há dúvidas: a parte mais difícil das aulas on-line foi a internet. Ela é uma das alunas que optou voltar às aulas presenciais. “Não dava para a gente ver se tava fazendo totalmente certo porque a internet nossa ou do professor trancava de vez em quando.” Para ela, retornar foi muito positivo. “Conseguimos fazer tudo melhor, coisa que não conseguimos em casa, pelo computador porque não víamos bem como se fazia os passos”, pontua. Lara Pinheiro, 11, também cursa Ballet na Fundarte, há cerca de cinco anos, e optou por ter aulas presencialmente. Ela também teve algumas dificuldades com o computador e prefere aulas cara a cara com o professor na instituição. “Às vezes a internet era ruim, não dava para prestar atenção. Eu queria voltar já, com certeza é muito melhor com o professor em sala”, afirma.

Lara Garcia Stoffel, 15, também faz curso de dança da instituição desde 2017 e, apesar de preferir as aulas presenciais, vê vantagens no on-line. “Consegui aprender bastante com as aulas on-line e principalmente manter o contato com professores e colegas. Mas, é claro que não é a mesma experiência que a presencial, onde é muito mais fácil o professor corrigir. Acho que minha maior dificuldade foi não ter espaço apropriado para dançar”, destaca.

Quanto ao uso da internet, Lara conta que, por vezes, não conseguiu participar de aulas. “Eu ouvia o som com delay e não conseguia acompanhar os exercícios, mas mesmo não tendo o mesmo aproveitamento que presencialmente eu consegui aprender bastante durante este período”, finaliza.

Alunos que optaram por seguir de maneira remota acompanham as aulas presenciais ao vivo

Fabrício Nogueira Machado, 18, cursa acordeon na fundação há 3 anos e foi um dos alunos que optou por seguir tendo aulas remotas. Segundo ele, a alternativa foi a melhor escolha neste momento por cuidados com a saúde e também uma questão de transporte. “Optei pelas aulas remotas para um maior cuidado da saúde, manter uma maior segurança por enquanto, e também por causa da distância. Moro em Taquari, os transportes possuem menos horários disponíveis e eu não poderia esperar dentro da Fundarte até a aula começar, para evitar aglomerações”, pontua.

Ele explica que o período em casa necessita de mais adaptações e que, conforme o tempo passa se cria um “desgaste”. Mesmo assim, ele afirma que os aprendizados na Fundarte têm mantido suas qualidades. “A aula remota, por mais que seja mais fácil de acessar (por estar em casa), ela tira o contato com o professor. Quando se fala em instrumento, também temos as nuances de áudio e vídeo, que atrapalham algumas vezes para o aluno e professor”, salienta. Mesmo assim, Fabrício conta que ele e o professor se entendem muito bem até de maneira remota. “Eu e o professor conseguimos nos comunicar bem, inclusive pelo Whatsapp.”

Quase 50 anos de história
A Fundarte completou em 2021 48 anos de história. São quase cinco décadas dedicadas à comunidade montenegrina. Com a missão de promover o acesso igualitário ao ensino das artes, bem como a produção e difusão de conteúdo educativo e cultural, proporciona, como escola, ensino e pesquisa recebendo alunos a partir dos três anos de idade, atravessando gerações proporcionando a vivência artística até a melhor idade.

As fontes de receita da instituição são o repasse mensal da Prefeitura para custeio e investimento, uma vez que a Fundarte é municipal, a Uergs através da Sessão de Uso, e a arrecadação de mensalidades. Outra fonte de receita muito importante que movimenta a cadeia produtiva do município são os projetos culturais. Grande parte dos eventos são financiados pela iniciativa privada por meio das Leis de Incentivo à Cultura.

Na área dos eventos, a Fundarte oferece anualmente para a comunidade diversos espetáculos, como peças teatrais, concertos, shows, espetáculos de dança, encontros, festivais exposições e mostras, a maior parte deles é oferecida de forma totalmente gratuita ao público. Tudo isto faz da fundação um dos principais polos culturais da cidade, com promoção de eventos culturais e principalmente com o ensino de Artes. Nos últimos cinco anos, a fundação ofereceu para a comunidade 833 eventos, com um público estimado de 146.000 pessoas.

A Fundarte conta com espaços fomentadores de Arte, como a Galeria Loide Schwambach e o Teatro Therezinha Petry Cardona, ambos inaugurados em 2002. Ao longo deste tempo o Teatro já recebeu um público aproximado de 430 mil. Na galeria, já circularam nesse tempo um público superior a 50 mil pessoas. Dois espaços importantes para a difusão artística.

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