Essa história começou há mais de 150 anos

Montenegro completa, neste dia 5 de maio, 150 anos de emancipação política, consagrada como o principal entre 20 municípios do Vale do Rio Caí. Distante cerca de 60 km da Capital do Rio Grande do Sul, é um forte pólo industrial e agrícola, e real centro comercial da região. Está dentro da Região Metropolitana, e por seu território cruzam rodovias que ligam algumas das principais regiões econômicas e turísticas do estado, além de uma ferrovia.

A cidade está nas terras ocupadas pelo grupo indígena dos Ibiraiaras, que denominavam o “Ibiaçá” – que significa “travessia do caminho do rio”. Ela abrangia desde a ilha de Santa Catarina até a margem esquerda do rio Jacuí, incluindo assim a região de Ibiá, que se estendia entre as bacias dos rios Taquari e Caí.

Os primeiros brancos chegaram nas décadas de 1730 e 1740, sendo as primeiras famílias dos portugueses Antônio de Souza Fernando, Bartolomeu Gonçalves de Magalhães e Antônio José Machado de Araújo. Em 1750, o tenente Joaquim Anacleto de Azevedo começa a desbravar a região onde hoje está o Município de Pareci Novo – que emancipou-se de Montenegro em 20 de março de 1992. Conforme o historiador padre Rubens Neis, quando este colonizador chegou na região, encontrou negros e índios convivendo juntos. Tais negros eram escravizados que fugiram, principalmente de Porto Alegre e Viamão, e usaram o Rio Caí como rota de fuga.

A primeira moradia construída na sede de Montenegro foi a de Estevão José de Simas, por volta de 1785, na colina onde se encontra hoje a Escola Estadual de Ensino Médio Delfina Dias Ferraz. A casa era de pedras, coberta com telhas – algo raro para a época. Foi edificada por José de Araújo Vilela e, mais tarde, habitada por Tristão José Fagundes, genro de Simas e fundador da cidade.

Porta aos imigrantes ao RS
O porto da cidade – onde hoje está o Cais das Laranjeiras – foi ponto de desembarque das famílias de imigrantes que vinham de Porto Alegre em direção às novas colônias. Em 1824, recebeu o primeiro grupo de imigrantes alemães em pequeno número, num total de 126 pessoas. Alguns meses depois, vieram mais 157 famílias, com 909 pessoas. Em uma segunda etapa da imigração, por volta de 1857, aportaram na cidade imigrantes alemães e italianos, sendo esta segunda etnia passou por Montenegro para depois ocupar toda da região serrana.

Estação Férrea de Montenegro unia ramais importantíssimo da rede no estado

Poloneses e franceses também vieram pelo Rio Caí, espraiando em outras direções ou se estabeleceram na região. Ao desembarcarem no porto, mais exatamente perto do atual Clube Caça e Pesca, eram conduzidas provisoriamente para um grande galpão que servia de alojamento. Ele era situado numa chácara onde hoje está instalado o Parque Centenário. Em função desta parada, muitas famílias não seguiram adiante, preferindo ficar nesta freguesia.

Sua criação e emancipação
Naquela época, existiam 14 “vilas” no Estado. Montenegro pertencia à Vila de Triunfo, como 2º Distrito, com a denominação de “Porto das Laranjeiras”. A partir de 18 de outubro de 1867 passou a denominar-se Freguesia de São João do Monte Negro; e em 1873, as então 33 vilas foram, por força de lei, viraram em Municípios. Neste mesmo ano é criada a Vila de São João do Monte Negro, no dia 5 de maio; mas sua instalação somente no dia 4 de agosto. Em 14 de outubro de 1913, pelo Decreto nº 2.026, foi elevada à categoria de cidade São João de Montenegro. Passados 25 anos, em 1938, foi dividido em 11 distritos: Montenegro, Maratá, Harmonia, Barão, Bom Princípio, Estação São Salvador, São Vendelino, Tupandi, Brochier, Poço das Antas e Pareci Novo. Com o passar dos anos, esses foram se emancipando, tornado Montenegro Município-mãe do Vale do Caí.

raça Rui Barbosa, ao fundo Palácio Rio Branco e Igreja São João Batista

Ainda em 1873 foi instada a primeira indústria da cidade, o Curtume Montenegro. Em 1894, foi fundado o Frigorífico Renner, que inclusive era exportador. O Rio Caí já havia sido rota para mercadores espanhóis que subiam o Rio da Prata e de portugueses vindos da Lagoa dos Patos pelo Rio Jacuí. Então, em 1904, foi inaugurado o Cais do Porto, o segundo construído no Estado, e Montenegro passou definitivamente a ser um expressivo centro comercial de cargas e descargas.

Em 1910 foi implantada uma estrada de ferro ligando a Capital com a Serra; e em 1937 foi instalada em Montenegro a Usina Elétrica Maurício Cardoso, que abastecia Montenegro e São Sebastião do Caí (hoje sede da Câmara de Vereadores). Ao longo dos anos, empresas como Frangosul, Cauduro, Tanino Mimosa, Tanac, Antarctica, Pepsi e outras alçaram Montenegro à atual 19ª economia do Rio Grande do Sul.

Montenegro em números

De acordo com o último Censo do IBGE, de 2021, a população foi estimada em pouco mais de 66 mil habitantes;
Taxa de escolarização de 6 a 14 anos de idade: 97,4 %;;
Matrículas no ensino fundamental (2021): 8.024 matrículas;
Matrículas no ensino médio (2021): 1.752 matrículas;
PIB per capita (2019): R$ 60.162,81;
Percentual das receitas oriundas de fontes externas (2015): 61,9 % ;
Taxa de mortalidade infantil média na cidade é de 13.29 para 1.000 nascidos vivos.

A presença e legado dos negros
No ano de 1750 o Rio Caí propiciou aos escravizados, mais propriamente do Porto dos Casais (Porto Alegre), uma rota de fuga. Na margem esquerda, na localidade de Quilombo e Conceição (São Sebastião do Caí), e na margem direita (Pareci). As fugas se davam em pequenos barcos ou canoas improvisadas.

Imagem da rua central Ramiro Barcelos ainda sem pavimentação alguma

Na década de 1780 – quarenta anos depois da ocupação da área de campos ao sul da atual cidade – se estabeleceu ali o primeiro morador da área hoje ocupada pela cidade. Seu nome era Estêvão José de Simas e ele, ao requerer o reconhecimento oficial da sua posse sobre a terra daquele faxinal, um pouco antes de 1800, afirmou que ali morava desde 1785. No mesmo pedido, Simas declarou que tinha ali, “casas, três escravos, quatro cavalos, seis bois, 150 gados, 12 éguas e 20 ovelhas”. Para os padrões da época, ele não era um homem rico, mas apenas remediado.

No Vale do Caí, o negro escravizado fazia a maior parte do serviço pesado na terra que hoje é feito por máquinas. Também eram carpinteiros e marceneiros; em estabelecimentos comerciais trabalhavam nos depósitos e não atendiam no balcão. Há registro de formação de Quilombos (lugares onde negros escravos fugidos viviam), especialmente no atual bairro Santo Antônio, em Montenegro.

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