Um dos símbolos da identidade gaúcha, a erva-mate tornou-se o primeiro patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul. A oficialização ocorreu em uma cerimônia realizada na terça-feira, 13, no Galpão Crioulo do Palácio Piratini. Na oportunidade, ocorreu a assinatura do termo de registro em que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) reconhece o valor histórico-cultural do Sistema Cultural e Socioambiental da Erva-Mate Tradicional, envolvendo o seu cultivo e comercialização. Trata-se do primeiro registro desta natureza no Estado. E não é para menos.
A erva-mate é um produto natural, composto de diversas substâncias orgânicas bioativas, com propriedade antioxidante, estimulante do sistema nervoso central, diurética, anti-inflamatória, antirreumática e de redução do índice glicêmico da dieta. Essa planta é usada para preparar bebidas quentes ou geladas como chá mate, chimarrão ou tereré, podendo ser preparada sozinha ou junto com outras ervas e sucos naturais de frutas cítricas.
Segundo a nutricionista montenegrina Cristiane Junges, além de ser matéria-prima para o chimarrão, de forma bastante inusitada, a erva-mate tem sido utilizada como ingrediente para diversas receitas, como sorvetes, mousses, bolos, farofas, rapaduras, trufas, patês, pães, panetones, alfajores, risoles e até pizzas. “Seu sabor de identidade é notório em todas as receitas”, assinala. Nos últimos anos, diversos trabalhos têm revelado que a ingestão de produtos à base de erva-mate pode trazer inúmeros benefícios à saúde. O chimarrão, bebida tão apreciada pelos gaúchos e consumida há muito tempo, está se revelando uma fonte de compostos orgânicos bioativos que beneficiam a saúde de quem o ingere.
Apesar de tantos benefícios, o consumo da erva-mate é contraindicado para crianças e mulheres grávidas ou que estejam amamentando. Por conter cafeína, não deve ser consumida por pessoas com insônia, ansiedade, labirintite, refluxo, úlceras e gastrite. Pessoas que usam medicamentos de forma regular devem sempre consultar um médico antes de consumir a erva-mate, pois essa planta pode alterar o efeito de alguns remédios. Além disso, pessoas que têm diabetes, pressão alta, arritmia ou síndrome do intestino irritável, só devem consumir a erva sob orientação de um médico, pois essa erva pode piorar estas condições.
Confira os principais benefícios da erva
Favorece o emagrecimento
A erva-mate favorece o emagrecimento, porque a cafeína presente em sua composição tem efeito termogênico, que acelera o metabolismo, fazendo com que o corpo gaste mais energia e aumente a queima de gordura corporal. Para ajudar no emagrecimento, a erva-mate deve ser associada a uma dieta saudável e à prática regular de atividades físicas.
Combate o cansaço
A cafeína presente na erva-mate atua bloqueando os efeitos da adenosina, substância que causa cansaço e sonolência, além de aumentar a liberação de como adrenalina, norepinefrina, dopamina, glutamato e serotonina, neurotransmissores que têm efeito estimulante. Assim, a erva-mate ajuda a combater o cansaço e o desânimo, sendo uma boa opção para beber ao acordar ou após o almoço. No entanto, a erva-mate deve ser evitada no final da tarde e à noite, pois nesses horários pode causar insônia e dificultar o sono.
Diminui o colesterol “ruim”
A erva-mate é rica em saponinas, xantinas e flavonoides, compostos bioativos que impedem a oxidação das células de gordura, ajudando a diminuir os níveis de colesterol “ruim”, LDL, e triglicerídeos no sangue. Lembre-se: a erva-mate não deve substituir o tratamento indicado pelo médico e/ou nutricionista para diminuir o colesterol alto, podendo ser usada para complementar o tratamento medicamentoso.
Previne a diabetes
A erva-mate contém compostos bioativos com ação antioxidante e anti-inflamatória, que mantêm a saúde do pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina, ajudando a regular os níveis de glicose sanguíneo e prevenindo o surgimento da resistência à insulina e da diabetes.
Melhora o humor
A erva ajuda a melhorar o humor, por ser uma planta com ótimas quantidades de cafeína e teobromina, que são compostos que estimulam a liberação de serotonina no organismo, um neurotransmissor que participa da regulação do bem-estar, do humor e do sono.
Fortalece o sistema imunológico
Por ser rica em saponinas e teobromina, que são compostos bioativos com ação anti-inflamatória, a erva-mate ajuda a fortalecer o sistema imunológico, ajudando no combate às infecções causadas por vírus, bactérias e fungos.
Chimarrão: tradição e saúde
Além de água, a erva-mate é o único ingrediente utilizado para fazer o tradicional chimarrão dos gaúchos. Bebida símbolo do povo e presente no dia a dia de milhares de pessoas, é sinônimo de hospitalidade e amizade. A nutricionista Cristiane relembra que o chimarrão é rico em vitaminas B1, B2 e C, bem como em sais de cálcio, ferro, sódio e magnésio, considerado um estimulante. “Além disso, o chimarrão diminui a fome, auxilia na digestão, combate a fraqueza e ameniza a ressaca. A bebida é rica também em cafeína, substância energizante que comprovadamente ajuda a manter a concentração, auxilia na memória e acelera o metabolismo”, destaca.
Ela afirma que a importância gastronômica da bebida é de muita notoriedade e sua principal característica é ser uma bebida degustada coletivamente. “Como símbolo da hospitalidade, geralmente a cuia de chimarrão vem acompanhada de boa conversa e algumas delícias típicas como bolinho de chuva, pipoca, cueca virada, cuca, rapadura, dentre outras”, acrescenta.
Passo a passo para o preparo do chimarrão tradicional
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Atenção: deve-se ferver a água para o chimarrão até a temperatura aproximada de 80°C. Dessa forma garantimos que a água fique em uma temperatura adequada para o consumo prazeroso do seu chimarrão.
Se a água ferver em uma temperatura superior, pode acabar amargando o gosto da erva-mate.
Bem imaterial
Quando um bem se torna patrimônio cultural significa que ele tem relevância artística, histórica e social para ser perpetuado. No caso de bens materiais, como conjuntos arquitetônicos, jardins e obras de arte, ocorre o tombamento. Quando se trata de bens de natureza imaterial, tem-se o registro. O conceito de bem imaterial é mais abrangente. São manifestações culturais que possuem representatividade para um grupo social. Pode ser um dialeto, um idioma, uma atividade culinária, uma festa popular, um rito religioso, um saber ou modo de fazer. São vários elementos culturais que não necessariamente precisam de uma materialidade, mas fazem referência à identidade, à ação e à memória de grupos sociais e étnicos.
A secretária de cultura do RS, Beatriz Araujo destacou, em seu discurso durante a assinatura do termo, que valorizar o patrimônio imaterial é também uma estratégia de desenvolvimento e sustentabilidade das cidades contemporâneas, que buscam uma marca própria que as identifique e diferencie, atraindo visitantes e dinamizando o turismo e as economias locais.
O governador Eduardo Leite, por sua vez, falou sobre como a erva-mate, matéria-prima do chimarrão, aproxima os gaúchos e a importância de referendar a cultura como patrimônio do RS. “A erva é um companheiro do gaúcho. Mais do que uma bebida, é um ritual que une famílias, que une os amigos. Torná-la um patrimônio cultural imaterial do Estado é reconhecer o que já faz parte do nosso povo, da nossa identidade, protegendo e preservando-a”, disse.