Cufa Montenegro: há 15 anos potencializando a favela

Você já deve ter ouvido falar de algum evento promovido pela Central Única das Favelas, a Cufa, de Montenegro. Mas, por trás disso, você conhece a sua história na cidade? A Cufa Nacional tem 21 anos, mas em Montenegro, a entidade saiu do papel em 2008, completando então seus 15 anos. Rogério Santos, atual coordenador da Cufa, conta que o artista MV Bill lhe deu a luz sobre iniciar o trabalho no município. Rogério, que sempre foi envolvido com questões da comunidade e movimento negro, acatou a ideia e após muito estudo, lançou a Cufa, na época, no Parque Centenário.

A primeira ideia de projeto na cidade seria lançada para fornecer basquete de rua para as comunidades vulneráveis, pensando nos jovens e a criação do Núcleo Maria Maria. Porém, ao realizar uma reunião na Vila Esperança, a Central acatou o pedido das mães: o grande problema nas comunidades era o crack. Foi assim que em um encontro Estadual das Centrais, a Cufa Montenegro conheceu pesquisadores da Ulbra que vieram a Montenegro realizar uma pesquisa sobre as drogas, descobrindo um alto número de usuários.

Foi então que nasceu o projeto “Montenegro Contra o Crack”, campanha da Cufa que influenciou diversos Estados a tratarem da problemática. Sempre com auxílio de profissionais da Saúde, do serviço social e educação, a Cufa conseguiu dados importantes quanto ao número de atendimento a usuários vulneráveis. Assim, teve boa atuação na campanha. Porém, Rogério lembra que a visibilidade conquistada em jornais, mídia, inclusive televisão, foi o além do esperado, mas a exposição gerou interesses até mesmo políticos, o que não era o objetivo da Central.

“As mulheres são a base, o coração e a alma da Cufa”
Mesmo durante o andamento do projeto contra o crack, a Cufa nunca deixou de trabalhar em cima do Maria Maria. As Marias é grupo de mulheres que, além de constituir um projeto coletivo e democrático dentro da Cufa, tentam organizar o discurso das mulheres das periferias, sobretudo as jovens, para que participem dos processos de decisão e ocupação de espaço. O Núcleo se baseia no tripé saúde da mulher, autoestima e atividades de autossustentabilidade. Conta com 175 mulheres de vários pontos vulneráveis do município. Segundo Rogério, “as mulheres são a base, o coração e a alma da Cufa”. Ele destaca que, hoje em dia, 88% das mulheres atendidas são mães solo e com média de três filhos. Com um trabalho sério e muito cuidadoso, a Cufa conquistou a confiança destas mulheres, além de grande credibilidade.

Cufa na ExpoFavela

Por isso, com o passar dos anos, estas mães começaram a levar seus filhos para participação nas atividades da Cufa. Assim, surgiram novos projetos, a fim de atender as famílias com maior atenção. O Cine Perifa é um deles, onde a Cufa exibe produções criadas por moradores da periferia. Este já contemplou mais de 3,500 crianças. O Notas da Quebrada também beneficia não apenas os filhos das mães cadastradas junto a Cufa, mas demais crianças em vulnerabilidade social,utilizando a música, a educação, palestras, rodas de conversas, como ferramentas de transformação, o que reflete no desempenho escolar e também proporciona o contato com outras culturas e lugares.

Pensando em auxiliar ainda mais as mães da Cufa, a Central abriu o espaço Isokan (que na língua Iorubá representa união e solidariedade). Esse local nasce de um sonho. De uma vontade de integrar e incluir de forma afetiva e social. O espaço promove integração e inclusão social por meio da cultura, educação, empreendedorismo e preservação ambiental. No local, foi fundada a Horta Comunitária – Mãos que Transformam. Rogério destaca que este espaço é de fundamental importância para as mulheres, levando em consideração que, enquanto trabalham e geram sua renda, como são mães solo, podem deixar os filhos no espaço em um contraturno escolar.

Quanto à horta, segue processos orgânicos, desde o manejo da terra, a plantação da muda e a colheita da planta. O intuito é que as mulheres conquistem sua independência financeira, reconstruindo sua autoestima e confiança. Vale lembrar que a horta foi pensada após estudo mostrar que a grande maioria das mulheres atendidas ou são do interior ou têm forte raiz ligada à agricultura.

Outro projeto de grande importância é O Negro no Vale do Caí. O intuito é o resgate da história dos negros no Vale, buscando difundir suas culturas, origens e tradições, valorizando os personagens, monumentos e peculiaridades do povo negro na região. O ponto de partida para o estudo foi o documentário “Negro no Vale do Caí”, de Roberto dos Santos, coordenado pela Cufa Montenegro. Rogério conta que estão sendo redigidas biografias de 35 personalidades negras de fundamental importância para o Vale, ação que integra este projeto. Importante ressaltar os projetos a nível estadual, Expofavela e Taça das Favelas.

Para o futuro da Cufa, Rogério afirma que a Central tem preparado pessoas para uma nova geração das favelas montenegrinas com uma perspectiva de educação e financeira. O foco é seguir cada vez mais fortalecendo principalmente as mulheres em vulnerabilidade social, dando a oportunidade de terem sua própria renda e serem protagonistas de suas vidas, sempre lembrando que favela não é carência e sim potência.

Ensaio do Notas da Quebrada, na Estação da Cultura

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