Travessia da 287. Secretário dos Transportes acredita que ao menos será possível instalar sinaleiras na rodovia
No cargo de secretário estadual dos Transportes desde 3 de janeiro de 2015, o médico e deputado pelo quarto mandato Pedro Westphalen teve a oportunidade de conhecer, na tarde desta quinta-feira, o risco de morte a que estão submetidas as pessoas que cruzam a RSC-287 diariamente. “Passo pela estrada há 45 anos e a situação é praticamente a mesma”, observou o secretário, que é natural de Cruz Alta e usa a 287 para deslocar-se a Porto Alegre. Acompanhado de um técnico do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), ele participou de uma reunião com mais de 1h30min de duração na Câmara de Vereadores e depois percorreu parte da travessia urbana de Montenegro, onde se surpreendeu com a dificuldade que pedestres e veículos enfrentam para atravessar a estrada estadual.
Westphalen deixou claro que não assumiria compromissos sem ter convicção de que irá tirá-los do papel — a crise por que passa o Rio Grande do Sul é argumento citado constantemente —, mas garantiu que verificaria pessoalmente as razões pelas quais o convênio firmado entre a Prefeitura e o Daer ainda não permitiu a instalação de sinaleiras, um lengalenga que se arrasta há anos sem que o órgão estadual cumpra sua parte. “Vou puxar essa responsabilidade para mim. Fazer novos projetos, pelo que vejo aqui, não é mais necessário.”
Segundo o secretário de Obras, Edar Borges Machado, o Daer, em sua última manifestação ao Município, reconheceu ter cometido erro e disse que faria um aditivo ao contrato, desde que “não participasse de mais nada”, ou seja, a instalação dos semáforos na 287 ficaria sob inteira responsabilidade da Prefeitura, que investiu quase R$ 300 mil na compra desses equipamentos. “Já existe uma ação do Ministério Público questionando toda essa situação”, afirmou Borges, que destacou a ineficácia das medidas até hoje tomadas para mitigar os riscos de acidentes e atropelamentos na via.
Questionado pelo Ibiá quanto à efetiva solução do problema, Westphalen ponderou que se houve reivindicação da comunidade por sinaleiras, o caminho é esse. Entretanto, a questão agora será discutida com técnicos do Daer, ainda que não tenha se falado em prazos. Declarou, ainda, que a 287 poderá ser beneficiada com obras de restauração caso o governo tenha êxito no pacote de concessões de rodovias, cujos editais têm previsão de lançamento ainda este ano.
O secretário afirmou desconhecer o projeto de duplicação da ERS-240, entre Portão e Montenegro, realizado pelo Daer há anos e depois passado à EGR, mas sem avanços posteriores. Essa proposta previa a construção de um contorno por fora da área urbana, no trecho entre a antiga fábrica da Antarctica e a alça de acesso ao polo petroquímico, entre a 287 e a ERS-124.
Outra demanda de Montenegro que não era de conhecimento do titular da Secretaria dos Transportes é a revitalização da rotatória do Posto Shell — problema levantado pelo Jornal Ibiá em reportagem especial na última semana. Perguntado se poderia dar um canetaço para incluir essa obra no Plano de Metas 2017 da EGR, disse que sim.
Lideranças dizem que os moradores não acreditam mais em soluções
Em reunião durante cerca de 1h40min na Câmara Municipal de Montenegro na tarde de ontem, o secretário Pedro Westphalen ouviu relatos de desgraças viárias registradas no entorno da RSC-287. “Quando se ouve a sirene do Samu, os pais já ficam com o coração na mão pensando ‘será que foi o meu filho que ficou estendido no asfalto?’. Lembro do dia em que duas irmãs, isso em 2011, tiveram ali o fim de suas vidas, debaixo de lonas pretas”, enfatizou Antônio Airton Quadros, presidente da União Montenegrina de Associações Comunitárias (Umac). Conforme ele, a população dos bairros Santo Antônio e Panorama não suporta mais ver a situação sendo empurrada com a barriga. A solução precisa ser emergencial, alertou o líder comunitário.
Na mesma linha, a vereadora Rose Almeida (PP) pontuou que os moradores perderam totalmente a esperança de que o governo estadual tome providências para frear os acidentes e as mortes. “As pessoas não suportam mais nem falar neste assunto”, admitiu a parlamentar, que em fevereiro do ano passado esteve no gabinete do secretário dos Transportes cobrando uma ação que, por sinal, até hoje não teve nenhum encaminhamento.
Prefeito em exercício, Carlos Eduardo Müller, o Kadu, entregou ao secretário um relatório contendo os números de acidentes, de vítimas e de veículos danificados em ocorrências registradas no trecho urbano da RSC-287, nos últimos três anos, conforme levantamento do Grupo Rodoviário da Brigada Militar em Montenegro. “A travessia corta a cidade em duas partes. As pessoas cruzam a rodovia todos os dias para ir à escola, ao trabalho, ao comércio. Estamos desde 2011 na expectativa de que seriam realizadas melhorias”, lamentou.
Ricardo Senger, que já foi vice-prefeito e é dirigente do PP local — mesmo partido de Pedro Westphalen — relatou que faz três ou quatro décadas que o governo estadual não realiza nenhum investimento de impacto na malha rodoviária que corta o município. “Montenegro é um grande arrecadador de impostos, mas não tem o retorno necessário. Sabemos das dificuldades financeiras, mas nem mesmo as obras mais simples a gente consegue”, queixou-se Senger, que acredita ser apenas uma “questão de tempo” a sua família acidentar-se no local, já que as ocorrências são diárias, e os riscos, iminentes.
Presenças
Todos os vereadores estiveram presentes na reunião na tarde de ontem, exceto Valdeci Castro. A ACI Montenegro/Pareci Novo foi representada por Lorenzo Mattana Müller. Os deputados estaduais Elton Weber e Gabriel Souza não apenas mandaram representantes, como também se comprometeram a acompanhar de perto o caso junto ao governo estadual. Secretários municipais e o prefeito em exercício, Kadu Müller, também pediram providências ao Governo. Westphalen assegurou que o governador José Ivo Sartori conhece a gravidade da situação e o autorizou a tomar as providências, mas “dentro da realidade financeira do Estado”.