POLÍCIA investiga se crime foi premeditado após vítima decidir sair de casa e se separar
A Polícia Civil ainda vai ouvir mais testemunhas com relação à morte da personal trainer ocorrida em Montenegro na madrugada da última sexta-feira, 26. Conforme o delegado regional Marcelo Farias Pereira, em entrevista ao programa Estúdio Ibiá de ontem, os pais da vítima ainda devem ser ouvidos nesta semana, já que antes não tinham condições de falar, assim como outras testemunhas devem prestar depoimento. “Com certeza as circunstâncias vão ficar mais claras para completar o inquérito e encaminhar ao Poder Judiciário”, declarou o delegado, que ainda aguarda os laudos da perícia e da necropsia, o que deve demorar alguns dias. “Acredito que em função da repercussão até o final desta semana os laudos estejam na Delegacia. Mas tudo indica que foi por asfixia mecânica, pela ação dele no pescoço da vítima, com base no próprio depoimento que prestou”, completa Marcelo, acreditando que o acusado vai responder ao processo preso, sem direito a liberdade até ser julgado.
A investigação também busca elucidar se o crime foi premeditado. Em um áudio, enviado para um amigo, o suspeito diz que faria para ele o seu último pedido, alegando que iria resolver um assunto e passou números da senha de seu celular. “Manda esse áudio para minhas filhas. Diz que eu amo muito elas e para perdoar pelo que vou fazer”, declarou. Pediu ainda para um irmão que deixasse para elas um valor em dinheiro que foi combinado. A impressão era de que o fisiculturista cometeria suicídio após o feminicídio e muitos boatos sobre a morte dele se espalharam por redes sociais, fato que não foi confirmado.
A suspeita da Polícia é de que o acusado não estaria aceitando a separação. De acordo com o delegado, o acusado confirmou que estariam ocorrendo brigas seguidas do casal, motivadas por ciúmes, o que teria voltado a acontecer na madrugada do crime.
Acusado se apresentou
O companheiro de Debora se apresentou na noite de sexta-feira, na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA) de Montenegro, acompanhado de advogado. Conforme o delegado Marcelo, ele foi ouvido pela delegada Cleusa Spinato e durante o depoimento confirmou que teria ocorrido uma discussão, por questões de ciúmes, na casa em que moravam, na localidade de Vendinha, quando a vítima teria se botado nele, chegando a machucá-lo perto da orelha, mostrando as lesões leves.
De acordo com a Polícia, ele admitiu que pegou ela pelo pescoço, levantando e jogou contra o guarda-roupa. Ao verificar que a companheira começou a passar mal, relatou que a colocou no carro e foi em direção a Montenegro para buscar socorro no hospital. No caminho, ele diz que percebeu que ela não tinha pulso e não respirava. Então afirmou que entrou em desespero e deixou o corpo na frente da casa dos pais dela, sexta-feira de madrugada, no bairro Centenário. Alegou ainda que durante o desentendimento não tinha a intenção de matar a companheira.
A Polícia tinha representado ainda na sexta-feira pela prisão preventiva, mas como não tinha sido decretada pela Justiça, o suspeito foi liberado após o depoimento. Segundo o delegado, o advogado dele se comprometeu que seria apresentado novamente caso a prisão fosse decretada. E isso foi cumprido. A Polícia voltou a pedir a prisão, com parecer favorável do Ministério Público (MP), que foi concedida na noite de sábado. E no domingo, por volta de 9h, o acusado se apresentou novamente na Delegacia, sendo então recolhido ao sistema prisional. Para a Polícia, os documentos juntados atestam inequivocadamente a causa mortis.
Morte no dia da mudança
Debby Michels era bastante conhecida pela atuação como fisiculturista, personal trainer e como instrutora em academia. Graduada em educação física, tinha grande número de seguidores nas redes sociais, onde postava vídeos com dicas de exercícios, alimentação, emagrecimento e treinamentos. “Ela era excepcional. Dedicada, alegre e sempre sorrindo”, diz uma colega de academia onde ela era professora. Na porta da academia foi colocado um cartaz com a foto de Debby, com uma homenagem: “Deixaste em nossos corações lembranças lindas que jamais iremos esquecer”.
Ela foi encontrada morta na madrugada de sexta-feira, 26, por volta de 3h, na rua Ponta Negra, do bairro Centenário. O corpo estava coberto por um pano vermelho, na frente da casa de seus pais, tendo o seu aparelho de telefone celular ao lado. Uma equipe médica do Samu diagnosticou o óbito. A Brigada Militar fez buscas e também isolou o local. Foi acionada a Polícia Civil e o Instituto Geral de Perícias (IGP).
A Polícia analisou imagens de câmeras próximas ao local, que mostravam o suspeito retirando a vítima do carro e a deixando na calçada, vestida de pijama. Já outras imagens, obtidas pela Polícia, mostram o suspeito trafegando de carro na altura de Canoas, onde teria parentes. Conforme informações, não foram encontrados sinais de violência no corpo. De acordo com a família, no atestado de óbito consta morte por asfixia mecânica.
Familiares dizem que justamente na sexta-feira, dia do crime, Debby iria buscar seus pertences na casa em que morava com o companheiro, pois tinha alugado um apartamento. “Foi uma grande surpresa. Ele tinha falado com meu pai e parecia estar aceitando a separação numa boa. Já estava tudo acertado”, diz o único irmão da vítima, Alex Michels. “Foi uma covardia”, completa. “Nós convivíamos com eles. Costumavam vir aqui nos finais de semana”, completa o pai, Davi. “Eles trabalhavam juntos. Viviam 24 horas junto. Ela era muito extrovertida e ele sempre foi fechado. Não tem explicação. Nem com um animal se faz uma coisa dessas. O que vimos foi uma atrocidade. Não tem dor como essa”, desabafa o professor aposentado.
Debora não tinha filhos. As duas filhas do suspeito são de relacionamento anterior. Segundo familiares e a própria Polícia, não há nenhum registro anterior de violência envolvendo o casal. Nas redes sociais, em fotos e vídeos, incluindo treinamentos, passeios e festas, aparentavam ter boa relação. No aniversário de Alexsandro Alves Gunsch, o Alex, em novembro de 2021, ela postou uma homenagem. “Dia de parabenizar aquele que aguenta o meu ranço de todas as manhãs. Dia de parabenizar o cara que gosta de maratonar séries comigo. Aquele que faz as tarefas de casa pra que eu possa estudar e depois ficarmos juntos, Aquele que gosta de me surpreender de vez em quando”.
A reportagem buscou contato com o advogado do acusado, mas conforme a Polícia a defesa não quer se manifestar por enquanto. Além da morte da filha, os pais da vítima, Davi e Rosane, viram Débora sem vida na frente de casa, após perceberem a movimentação no local. Muito abalados, acompanharam os atos fúnebres na manhã de sábado, recebendo o apoio de parentes e amigos, sendo amparados no trecho entre a capela mortuária e o cemitério. Na despedida, sob aplausos, foram soltos balões brancos e pretos.
Grande repercussão
A morte trágica de Debora Michels Rodrigues da Silva, a Debby, de 30 anos, segue causando grande repercussão. Muitas homenagens aconteceram na despedida, durante o velório na Funerária Forneck Mattana, bem como no sepultamento no Cemitério Municipal de Montenegro, na manhã de sábado, assim como nas redes sociais, lembrando o quanto a educadora física era estimada e dedicada.
Na manhã de sábado, na Praça Rui Barbosa, no Centro de Montenegro, também ocorreu um Ato de Solidariedade à Debby Michels e a todas as mulheres que foram vítimas de feminicídio e de outros crimes. Segundo Monaliza Furtado, da Força Feminina Montenegro, trata-se de um caso cruel. E por isso a manifestação também pediu por mais justiça e segurança, com todos de luto e segurando balões.
Há quatro anos Montenegro não registrava um caso de feminicídio. Entretanto, os casos de violência doméstica contra mulheres são diários, com índices muito altos, ocupando grande parte dos registros na Delegacia de Polícia e nos chamados para a Brigada Militar. E muitos casos sequer são informados para as autoridades policiais. O delegado Marcelo ressalta a importância das vítimas denunciarem, já que existe uma rede de proteção.