Proposta foi apresentada no projeto do Plano de Mobilidade Urbana
Retirar o estacionamento da Rua Ramiro Barcelos, no centro, é um dos pontos que mais gera polêmica e resistência, principalmente por parte dos comerciantes. “Pode ser o fim do comércio na Ramiro”, teme José Francisco Massena, proprietário da Relojoaria, Joalheria e Ótica Rönnau. “Vai afugentar os clientes, devido à distância para estacionar”, completa, lembrando casos ocorridos em outras cidades.
Na mesma linha pensa Marco Antônio Marcadella, proprietário da farmácia Farmapop. “Não tem explicação essa proposta. Vai acabar com o comércio do centro. Não é viável”, avalia, declarando que mesmo em cidades maiores, que sofrem com problemas de falta de vagas para estacionamento, isso não foi implantado.
A proposta de nova organização das áreas de estacionamento no centro foi apresentada durante a audiência pública do Plano de Mobilidade Urbana, realizada no último dia 6, segunda-feira, na Câmara de Vereadores de Montenegro. Apesar da pouca participação na reunião, os principais questionamentos dos presentes foram justamente sobre essa medida. O presidente do Sindilojas, Marcos Silva, estava em casa e ao ser avisado desta possibilidade. Foi correndo até a Câmara, onde pegou o microfone para se pronunciar. “Isso iria impactar diretamente no comércio. Os clientes querem estacionar perto dos estabelecimentos”, declarou, preocupado. Marcos lembra que a implantação do estacionamento rotativo pago melhorou bastante quanto ao número de vagas para estacionar no centro. “Tirar as vagas do estacionamento no centro é complicado”, completa.
Mais estudos e reuniões
Na apresentação do projeto, realizada pela Líder Engenharia & Gestão de Cidades, contratada pela Prefeitura através de licitação, foi sugerido que em ruas como Capitão Cruz, Buarque de Macedo, José Luiz e Bruno de Andrade, tenha apenas uma faixa de estacionamento, de um dos lados da via. E que as ruas Ramiro Barcelos (centro), Torbjorn Weibull (Timbaúva) e Álvaro de Moraes (beira do rio) se tornem vias sem locais de estacionamento.
De acordo com a arquiteta e urbanista Amanda Andrade, que apresentou o projeto na Câmara, já foram feitos todos os levantamentos e estudos, estando o processo em fase final para a aprovação do plano. Ela cita que inclusive já foi feita a análise pelos conselhos municipais de trânsito e do plano diretor. Quanto aos questionamentos e críticas relacionadas à proposta de não ter estacionamento na rua principal, além de restrições em outras ruas importantes da cidade, ela entende a resistência dos comerciantes, mas alega que o objetivo é de motivar as pessoas a deixarem seus carros em outros lugares, passando a se locomover a pé, de bicicleta ou utilizando o transporte coletivo. “É necessária essa limitação de estacionamentos em alguns locais”, entende. Mesmo com a implantação do estacionamento pago, ela considera que é preciso mais medidas e intervenções. Ela mostrou números do alto número de veículos privados (50.558 em 2022) e a baixa adesão ao transporte coletivo (12%) e de bicicleta (7%). “Até mesmo pessoas que moram a três quadras do local de trabalho vão de carro”, exemplifica. E diz que, mesmo que o projeto esteja em fase final, após estudos de quase um ano, ainda existe um período para sugestões. “Estendemos o prazo até dezembro e esperamos mais colaborações e questionamentos”, conclui.
O secretário municipal de Gestão e Planejamento, Rafael Cruz, explica que foi apresentada uma proposta da empresa Líder. “Tivemos apenas a primeira audiência pública. Vamos debater melhor essas propostas junto com as forças vivas da comunidade. Acredito que essas propostas serão ajustadas até se concluir o processo”, afirma.
O presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Montenegro e Pareci Novo (ACI), João Batista Dias, também defende uma maior discussão e estudo. “Foi uma primeira proposta. Num primeiro momento somos contra. Precisa de um estudo mais amplo. Como se compensaria a perda da movimentação de pessoas no centro para os comerciantes locais?”, questiona. “Tita” concorda que é preciso um novo projeto para a Rua Ramiro Barcelos, assim como para a mobilidade urbana na cidade, mas diz que é preciso ser amplamente discutido com a comunidade para que não prejudique o comércio local.
Já o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Robson Santos, explica que ainda está sendo feita a análise técnica, de forma transparente, dos resultados do levantamento realizado pela empresa contratada. “Agora será feito o diálogo com diversos setores da comunidade. Já estão sendo marcadas reuniões com ACI, Sindilojas e outras entidades. Só depois poderá se propor possíveis alterações”, informa. Robson diz que já foi marcada reunião, com representantes do comércio, no próximo dia 22 de novembro, justamente para debater o tema.
695 páginas
O projeto para o Plano de Mobilidade Urbana tem 695 páginas. O plano integra os diferentes meios de transporte e propõe alterações no sistema viário que oportunizem melhorias na livre movimentação e na acessibilidade, através de levantamentos e sugestões colhidas junto à comunidade, conselhos municipais e avaliações técnicas. O link com todo o projeto está disponível no site da Prefeitura, podendo ser acessado através do link https://www.montenegro.rs.gov.br/municipio/secretarias-1/smgep/departamento-de-gestao.
Sobre estacionamentos trata a partir da página 626, constando que “é sugerida a retirada de algumas faixas de estacionamento, tanto na área central do município quanto em alguns outros pontos distintos, dando maior fluidez ao trânsito local e a instalação de mecanismos mais sustentáveis de deslocamento, como a implantação de faixas de ônibus e ciclofaixas. Portanto, se faz necessária a retirada e redistribuição das vagas de estacionamentos das áreas demarcadas no mapa”. Foi anexado no projeto um mapa das áreas que sofreriam a mudança.
Sugestões continuam
Amanda Andrade, da empresa Líder, explicou que ainda deverão ser realizadas outras reuniões e ajustes no plano. “Estamos trabalhando nisso faz quase um ano. Não é o ponto final. Entendemos que exista certa resistência e precisamos ir nos moldando”, declara, informando que o prazo para a elaboração do plano vai até o final deste ano. “Quem quiser ainda pode enviar sugestões, colaborações e questionamentos”, afirma.
Conforme a arquiteta Letícia Tonietto, diretora do Departamento de Gestão, sugestões poderão ser encaminhadas através do e-mail [email protected].