DENÚNCIA foi encaminhada no Ministério Público, que vai remeter o caso à Justiça
Uma denúncia de trabalho análogo à escravidão foi registrada por um casal de Montenegro no final de janeiro. Vanessa Pereira Gomes dos Santos e Rodrigo Gomes dos Santos, moradores do bairro Senai, prestaram depoimento ao Ministério Público (MP), quando fizeram a denúncia da situação que teriam sido vítimas em um sítio, em Porto Alegre.
O casal informou que no início de dezembro de 2022, uma mulher que conheceram em uma igreja de Montenegro, fez a promessa de que ambos teriam trabalho em um sítio da Capital. A atividade seria em especial fazendo pães e vendendo roupas em brechó, com habitação gratuita, fornecida por ela. Eles afirmam que foram informados de que na propriedade de um engenheiro teriam várias pessoas, com uma casa para cada um. Mas, ao chegar no local, em 10 de dezembro do ano de 2022, dizem que se depararam com uma única pessoa e que seriam responsáveis por cuidar de doze cachorros, além de trabalho doméstico em geral, como de limpeza de pátio, sem receber nenhum equipamento de proteção individual.
Os dois moradores de Montenegro relataram que no sítio tinha um depósito de ferramentas e materiais de construção, sendo que as condições de habitação eram precárias. O casal contou que ficou alojado em uma casa velha, onde havia muitos ratos, gambás e outros animais. Disseram que eram impedidos de sair, sendo abandonados à própria sorte. No sítio o casal diz que ficou por cerca de um ano e um mês, sem nunca receber salário ou qualquer direito trabalhista. Alegaram que não saíram do local porque não tinham condições financeiras e não tinham mais para onde ir. Por fim, eles pediram o auxílio do Ministério Público para apuração do crime de trabalho escravo. “Pegaram-nos em Montenegro para trabalhar e nos enrolaram nessa situação”, declarou Rodrigo, de 38 anos, que possui sequelas de um acidente vascular cerebral (AVC). Conforme ele, o contato foi feito por uma mulher que se dizia líder espiritual e “irmã” de uma igreja. Moradora de Porto Alegre, conta que ela não foi mais localizada.
O casal, que tem uma filha de 7 anos, a qual estava morando com uma avó, mostrou fotos e vídeos do local em que ficou em condições precárias, no bairro Teresópolis. “Temos todas as informações e provas”, afirma Rodrigo. Ele diz que o dono da propriedade acabou os liberando ao verificar que não tinha condições de trabalhar por ser deficiente físico. “Ele pagou a mudança para voltarmos para Montenegro. Empresários de Montenegro nos ajudaram, dando guarida”, completa.
As partes envolvidas foram notificadas pela Promotoria de Justiça para prestarem depoimento. Conforme a promotora de Justiça Rafaela Hias Moreira Huergo, o caso já foi encaminhado ao Ministério Público do Trabalho, visando apurar a suposta prática do crime de redução a condição análoga à de escravo e tomadas as providências cabíveis.
Livros de poesia e trabalhos de limpeza
Em setembro de 2022 o casal foi destaque em reportagem do jornal Ibiá, com o título “Com foco motivacional, Sorriso lança seu terceiro livro de poesias”. Rodrigo, que cresceu no bairro Cinco de Maio, na época relatou que era de família humilde e para ajudar em casa começou a trabalhar ainda na adolescência, cortando grama e vendendo suas poesias de porta em porta. Seis anos antes enfrentou dois AVCs, devido a problemas de hipertensão, ficando com sequelas como falta de visão, problemas de coordenação e na fala.
Missionários de uma igreja Evangélica, Rodrigo e Vanessa agora enfrentaram mais essa dificuldade. “Foi só sofrimento”, afirma Rodrigo, informando que ele e a esposa agora residem em um apartamento graças à ajuda de empresários. Ele conta que a esposa, de 31 anos, que estava grávida, ainda perdeu o filho no início deste ano.
Rodrigo, que depende da aposentadoria por invalidez, agora só pensa em continuar escrevendo suas poesias, vendidas pela esposa, a qual também realiza trabalhos de limpeza para o sustento da família. E o casal espera que os fatos sejam devidamente esclarecidos, com a devida punição. “Queremos que paguem pelo tempo que trabalhamos e pelo que gastamos com comida e outros materiais. Não vai cobrir o maior prejuízo, que foi o sofrimento que passamos”, ressalta.