EM 10 ANOS, Montenegro registrou 18 casamentos homoafetivos
Desde 2013, casais formados por pessoas do mesmo sexo têm o direito de celebrar a sua união perante a lei. Maria Angélica Moretti, 57, e Fátima Ibarros Moretti, 52, foram as primeiras mulheres a se casarem em Montenegro, em 2015. Vencendo os preconceitos, elas comemoram, no próximo mês, 9 anos da oficialização de uma união marcada pelo amor e companheirismo.
O casal se conheceu na sorveteria onde Angélica trabalha, no Centro. Na época, ambas eram comprometidas, mas anos depois elas se reencontraram já solteiras. O pedido de namoro foi realizado por Fátima, em agosto de 2013. “Depois de quatro anos separada, eu resolvi que iria procurar uma pessoa séria para um relacionamento e que se fechasse comigo. Foi então que reencontrei a Fátima e a gente se completa, porque gostamos de pescaria, de plantas e de animais. Temos muito mais pontos em comum do que incomuns”, diz Angélica.
Foram dois anos de namoro, um período que serviu para o casal ter a certeza de que a relação construída era para a vida toda. “A gente começou a ficar juntas e deu certo. Vimos que batíamos, então convidei ela para casar comigo. A gente casou no cartório, foi o primeiro casamento entre mulheres de Montenegro e foi muito emocionante”, comenta Angélica. Hoje com 11 anos de relacionamento, entre namoro e casamento, Fátima diz que a relação está cada vez mais sólida e tem um aprendizado diário. “A gente casou, não para afrontar ninguém, mas sim pelo nosso amor e para mostrar para as outras pessoas que é possível ser feliz. A Angélica me completa e temos um amor imenso uma pela outra. Ela é uma pessoa de muito de caráter, trabalhadora e eu tenho o maior respeito e gratidão por o que ela já fez por mim”, diz Fátima.
Em uma declaração de amor para a companheira, Angélica diz que junto com Fátima aprendeu que o amor vale a pena. “É muito bom fazer coisas juntas. Já passamos por muitos perrengues, mas sempre uma está ajudando a outra. Ela é uma companheira maravilhosa”, pontua. Para o futuro, as duas pretendem curtir mais momentos juntas, viajar e celebrar o amor. “Eu penso na minha aposentadoria, porque o meu plano é não trabalhar mais tanto. Queremos sair um pouco da rotina diária”, afirma Angélica.
O casal relata que enfrentar o preconceito da sociedade ainda é um desafio. Mas atualmente elas percebem que as pessoas estão mais abertas para falar sobre o tema. “Hoje em dia tem muito casal LGBT andando nas ruas, temos mais liberdade, porque é uma coisa normal. Aquele medo que eu tinha de sair na rua de mãos dadas, não tenho mais”, afirma Angélica. Para Fátima, o respeito é fundamental para superar os preconceitos e avançar na conscientização da sociedade sobre o tema. “A minha decisão sobre a sexualidade não diz respeito sobre o meu caráter. Então as pessoas têm que respeitar a decisão dos outros”, conclui.
Casamentos homoafetivos aumentaram no País
Desde 2013, quando os cartórios passaram a realizar uniões homoafetivas, Montenegro registrou 18 casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Os dados são da Associação dos Notários e Registradores do Estado (Anoreg/RS). Em todo o país foram registrados 59.620 casamentos entre pessoas do mesmo sexo entre 2013 e 2021. Os dados são do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), sob gestão do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). O levantamento tem como base as estatísticas do Registro Civil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número indica aumento de 148,7% em nove anos, com 3,7 mil registros em 2013 e 9.202, em 2021. O maior aumento anual ocorreu entre 2017 e 2018 (61,7%). Os 59.620 casamentos entre pessoas do mesmo sexo, nesse período, correspondem a 0,6% do total de casamentos no país. A porcentagem passou de 0,4% em 2013 para 1% em 2021.
Entre as regiões brasileiras, a maior proporção de casamentos entre pessoas do mesmo sexo foi na Sudeste (0,8%) e a menor, na Região Norte (0,3%). Entre os estados, os maiores percentuais de casamentos homoafetivos foram registrados em Santa Catarina (1,1% do total de casamentos) e São Paulo (1%). Já as menores proporções foram do Acre, Maranhão, Rondônia e Tocantins (0,2% em cada).
No Rio Grande do Sul, segundo dados da Anoreg/RS, entre 2013 e 2023 foram contabilizados 3.398 casamentos homoafetivos. Em 10 anos, os números indicam que houve um aumento de 200,7%, com 150 casamentos em 2013 e 451 em 2023. Assim como em âmbito nacional, o período entre 2017 e 2018 teve a maior alta anual (92,7%), passando de 249 casamentos em 2017 para 480 no ano seguinte.