PORTARIA. Uma história de lutas assombrada pelo fantasma de possíveis mudanças
O quartel do Corpo de Bombeiros Voluntários de São Sebastião do Caí é um dos mais bem estruturados do País. Equipamentos modernos e pessoal treinado para agir em caso de emergência garantem o êxito nos serviços prestados à comunidade do Caí e demais municípios vizinhos. Somente em 2019, a corporação atendeu mais de 28 mil casos, adquiriu novo caminhão com plataforma elevatória, e diversos equipamentos. Contudo, chegar no patamar em que se encontra não foi fácil. E agora, um velho fantasma volta a assombrar e causar insegurança quanto à continuidade da corporação. Isso por que uma portaria do Governo do Estado quer estipular novas regras para o funcionamento das corporações voluntárias.
O jornalista Castor Becker Júnior, de 49 anos, acompanhou de perto todo o processo para a instalação dos Bombeiros Voluntários de São Sebastião do Caí. Ele viu a luta da sociedade civil organizada e dos governantes de São Sebastião do Caí pela consolidação da unidade, e não se conforma em saber que depois de tantos anos de empenho e esforços as coisas poderão mudar. “No caso de São Sebastião do Caí, ignorar quase um quarto de século de uma história de envolvimento com a sociedade, isso chega a ser uma ofensa para a comunidade. Não tem como dar certo uma corporação mista”, avalia Castor.
Segundo a norma, os bombeiros voluntários só podem atuar em cidades com até 15 mil habitantes. Como a população do Caí já ultrapassa 21 mil habitantes, a regra diz que, nesse caso os bombeiros devem ser comunitários, com corporações militares atuando junto com os civis.
A nova regra já foi aprovada e começa a valer a partir de 30 de março. Enquanto o prazo não chega, as corporações voluntárias se unem para tentar reverter a norma. “Estamos trabalhando com os órgãos do Governo, Casa Civil, Ministério Público, a nossa frente parlamentar em defesa dos Bombeiros Voluntários”, relata o comandante do CBV do Caí, e presidente dos Bombeiros Voluntários do Estado, Anderson Jociel da Rosa, 31 anos. Além disso, segundo Anderson, a Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa irá criar uma regulamentação própria para tratar da questão dos Bombeiros Voluntários.
Velho fantasma volta e meia reaparece
As tratativas para implementação dos Bombeiros Voluntários do Caí tiveram início em meados da década de 1990 e ganharam força durante a gestão do prefeito Egon Schneck Gérson Veit. O jornalista Castor Becker Júnior acompanhou os esforços para trazer da Alemanha o primeiro caminhão da corporação. Castor esteve entre os quatro primeiros bombeiros voluntários a receberem treinamento para atuar na instituição, que começou de forma tímida em um galpão de CTG, cedido pelo Executivo, lá em 1996. Uma cerimônia realizada no dia 1º de maio daquele ano marcou o lançamento oficial das atividades. Esses são apenas alguns dos vários momentos da história de quase 25 anos dos Bombeiros Voluntários do Caí que foram acompanhadas pelo jornalista.
Tantos anos de envolvimento com a corporação dão a Castor propriedade para falar sobre as possíveis mudanças previstas pela nova regra. E ele garante que esse assunto é tão antigo quanto a existência das corporações no Estado. Além disso, é pouco provável que as mudanças realmente se apliquem. “Isso é uma novela que já vem de muito tempo. O nome disso que está acontecendo é intervenção. O Estado criar uma norma para decidir que os bombeiros estão fora da lei, isso é intervenção. Já teve ensaio disso aí outras vezes. O Estado nunca aprendeu a lidar com os voluntários”, assinala. “Desde a fundação da primeira Corporação de Bombeiros Voluntários do Rio Grande do Sul, de Nova Prata, em 1976, se tem essa discussão”, lembra.
Ambos, atual e ex-comandantes da corporação, concordam que o risco de fechamento do quartel é grande, caso as novas regras passem de fato a valer. “A existência dos bombeiros voluntários é graças à organização da comunidade. O Estado nunca supriu e nunca vai conseguir suprir essa lacuna”, diz o comandante Anderson Jociel.
O que diz o Comando dos Bombeiros Militares
Para o Comando dos Bombeiros Militares, a nova norma visa conhecer a capacidade técnica dos bombeiros voluntários, além de regulamentar a atividade. A intenção é contribuir com os bombeiros voluntários na formação e futuramente também no repasse de equipamentos. A corporação reconhece o serviço prestado pelos voluntários e diz que não serão afetados pela regulamentação.
Quadro de colaboradores dos Bombeiros Voluntários do Caí
46 bombeiros voluntários
15 mulheres
31 horas
26 Bombeiros Mirins
20 amigos dos bombeiros voluntários (GABV) – pessoas que atuam em ações sociais e atividades administrativas